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domingo, 12 de dezembro de 2010

É como Ele me vê

Me entristeço um bocado ao perceber quão fúteis são as preocupações das pessoas. Passei um tempo me importando com que os outros pensavam, mas não demorei muito para cair em mim e perceber de quem é a opinião que realmente importa: do Amor. Do meu maior Amor. Do maior Amor do mundo, que é Deus e ao mesmo tempo homem.
Para Ele, minha essência não está na casca, mas dentro de mim. Uma criança: aos olhos d'Ele serei sempre a mesma menina, a quem Ele sempre amará. Aconteça o que acontecer, venha o que vier. É o amor d'Ele que me importa e só. É o que me mantém viva. Não quero saber como as pessoas me vêm ou se vão me apontar na rua como um caso perdido. Me interessa como Ele me vê, mais nada.

"O que me fascina em Jesus não é só a capacidade de ressuscitar os mortos, de curar os cegos ou os paralíticos, o que me fascina n'Ele é a sua capacidade e coragem de dizer que Deus é pai, um pai que tem preferência pelos piores homens e mulheres deste mundo. Um pai que ama os que não merecem ser amados, que abraça os que não merecem ser abraçados e que escolhe os que não merecem ser escolhidos. Um pai que quebra as regras ao nos desconcertar com seu amor tão surpreendente, um pai que não quer se ocupar com os erros que você cometeu até o dia de hoje. Porque o amor que Ele tem por você, é um amor cheio de futuro. Ele não está preso ao seu passado e a Ele não interessa o que você fez ou deixou de fazer da sua vida. A Ele o que importa, é o que você ainda pode fazer."

"Pode ser que você hoje também necessite ser olhado por Deus com olhos de amor, eu sei que não é fácil a gente conviver com os nossos defeitos, mas desafie-se! Desafie-se a pensar que Deus ainda acredita em você. E se Ele ainda acredita, quem sou eu pra duvidar agora?"

"Se Deus não te acusa, ninguém mais tem o direito."

(Pe. Fábio de Melo)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Gaveta


- E quem disse que amor acaba? Amor acaba? Estou certo de que não. Amor não acaba assim, por coisas pequenas. E nem mesmo por grandes! Amor que é amor mesmo, e que ama, não termina nunca. No máximo, se engaveta.
Tenho certeza que ela não esqueceu de mim. Como poderia ela, tão frágil, tola e devotada, ter-se esquecido dos meus olhos? Logo dos meus... Eu que estive rondando sua existência por tanto tempo. Ela deve saber o quanto ainda me ama. Esquecer de mim, garanto que não esqueceu. Ela só se fez de forte, me escondeu lá dentro dela, como uma lembrança no fundo de um baú empoeirado. Mas eu ainda estou lá. Quem olha de fora, não pode me ver, mas ela pode e eu também. E daqui de dentro, guardado como estou, posso fazer nela alguns estragos.
- E quem disse que amor acaba? Amor acaba? Estou certa de que não. Amor não acaba assim, por coisas pequenas. E nem mesmo por grandes! Amor que é amor mesmo, e que ama, não termina nunca. No máximo, se engaveta.
Tenho certeza de que ainda não o esqueci. A grande novidade do enredo é que o engavetei. Não sinto saudade, pelo menos não tanta. A ausência dele não me causa dor. Só que me engano quando penso que isso o mantém afastado de meus pensamentos. Involuntariamente, eu penso nele o tempo todo. Isso pode ser considerado saudade? Não sei dizer. Não o queria assim, como ele é hoje. O queria como ele costumava ser quando em cada simples olhar se escorregava uma promessa tímida e duvidosa de pertencermo-nos mutuamente.
Esquecê-lo, garanto que não esqueci. Me fiz de forte e procurei mantê-lo escondido, como uma lembrança no fundo de um baú empoeirado. Mas ele ainda está aqui. Quem olha de fora, não o pode ver, mas eu posso. E ele também. E daqui de dentro, guardado como está, ele vem tentando me fazer alguns estragos.
Noite passada me veio atormentar o sono: brigamos no meu sonho. Meu primeiro impulso foi pensar no quanto ele é atrevido. Mas depois de rever em minha mente nossa sonífera discussão, percebi. Ele está dentro de mim em nome do que era. Em memória do bem que um dia me fez. Mas é pelo mal que me andou fazendo que permanecerá guardado, trancado às sete chaves. Não permitirei que venha à tona novamente. Não, amor não termina, já disse. Sempre vou amar quem ele era, mas não quem agora ele é. Amor que é amor não acaba por motivos pequenos, nem por grandes! No máximo se engaveta. Eu engavetei. Muito bem engavetado, se você quer mesmo saber.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A verdade me foi revelada


"Se quer conhecer uma pessoa, dê poder a ela". Essa frase penetrou-me os ouvidos e como num estalar de dedos, eu tinha toda a verdade e a compreensão de quase quatro anos de história mal resolvida, bem ali, diante do nariz.
Bastou ele saber o poder que exercia sobre mim para agir como um completo idiota. Mas quem lhe conferiu tal poder? Eu, eu mesma! Juntei toda a minha existência como um punhado de vento, água ou areia nas mãos, e entreguei a ele. Juntei tudo entre os dedos: o que eu era, o que eu acreditava, o que eu amava e odiava, o que eu queria ser e viver, tudo. Ele tinha a mim e a tudo que se me fizesse importante. Eu o tornei, de tal forma, a primasia em minha vida. Ele era meu ar, meu sangue e coração, porque era possuidor de minha própria essência. Eu sempre dizia carregar comigo um amor sem explicação, e dizia amá-lo mais que a mim mesma. Tudo uma grande confusão. O amor que eu sentia não só tinha explicação, como era mais amor a mim que a ele. Eu o amava porque ele me tinha, não por outra coisa, não por mérito dele.
Eu o amava, mas a verdade é que eu não o conhecia até ter dado a ele tanto poder. Se eu não amo aquilo que não conheço, e quando ele viu-se poderoso se mostrou um idiota, e eu amava aquele que ele era antes de ter-lhe confiado tamanho poder, e só se conhece de verdade uma pessoa dando poder a ela, e quando o dei poder e o conheci me decepcionei... Espera. Então é isso mesmo? Me martirizei esse tempo todo... Como não percebi antes? BINGO: eu nunca te amei, idiota.

domingo, 21 de novembro de 2010

Avesso


A minha vontade era subir
Ir lá onde não devia ir
E com minhas próprias mãos
Lhe arrancar da face
O jeito cínico de sorrir

Essa pose de bom moço
Esse ar de bom rapaz
Na verdade, tu és outro
Que já não me engana mais

Nesse beco sem saída
Fui jogada à aflição
Maldito amor, sem medida!
Esfacelou-me o coração

E ainda vem você
Fazer papel de bom sujeito
Será mesmo que não vê
Que esse papel não surte efeito?

Mas essa raiva violenta
É porque fui ao amor entregue
E ainda amo, mesmo que negue
Mas é que agora pago um preço:
Depois da dor, que outro jeito
Se não amar-te pelo avesso?

domingo, 14 de novembro de 2010

Estrela


Está comprovado, e sempre esteve, que estrelas se apagam. E mesmo depois de apagadas, seu brilho permanece por algum tempo como miragem em nosso céu. "Sei, às vezes é difícil acreditar: vemos estrelas que já nem existem lá...". É muito difícil acreditar nisso. Digo por experiência própria.
Eu ainda podia ver nele o brilho da minha boa e velha e linda estrela. Só percebi que aquele a quem eu amava havia partido quando pude ver quão fosco ele havia se tornado.
Eu o via brilhar, mas a verdade é que minha estrela já havia morrido há algum tempo. Era torturante vê-lo tão mudado, mas ainda assim contemplar seu brilho. Era algo que me levava à confusão, à loucura. Não era o mesmo, mas ainda tinha o antigo brilho que me fizera tola, apaixonada.
Quando o brilho cessou percebi todo mistério: dentre tantas coisas imutáveis pelas quais eu poderia ter me apaixonado, envolvi-me numa estrela, que como todas as outras, era passageira. Estrelas morrem e somem, irrevogavelmente. Enquanto ainda amava uma estrela com essência, alma e tudo, o amor me trazia certo contentamento. Mas depois que minha estrela morreu, passei a devotar um brilho sem alma, e tudo parecia vazio, estranho. Hoje percebo.
Agora que até a luz se foi, restou-me o vácuo da escuridão da noite, um vazio óbvio, do qual não posso fugir, nem fingir. A minha estrela já se tinha ido. Mas ficava-me o seu brilho para ludibriar-me. Agora que estou só na escuridão, me num explicíto vácuo. Amei uma estrela que morreu, e depois apagou-se. Uma imensa bola de ar quente a milhões de quilômetros de mim, e que mesmo tão distante me arrancava risos. Mesmo de longe, meu objeto amado existia, hoje não mais. O que me restou foi um amor imenso e ferido no peito, sem alguém para quem possa doá-lo. Se na presença distante eu sorria, na vazia e escura ausência incessantemente eu choro.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Lua (s)e(m) Estrela

"Eu parecia uma lua perdida - meu planeta destruído em algum cenário desolado de cinema-catástrofe - que continuava, apesar de tudo, a rolar numa órbita muito estreita pelo espaço vazio que ficou, ignorando as leis da gravidade."

Caterina queria brilhar naquela noite. Mostrar a Beralto o quão esquecido ele havia sido. Mas heis o primeiro problema: ela queria mostrar uma grande e completa mentira. Ela sabia porque estava ali, e ao contrário do que tentava demonstrar (que queria reviver os velhos tempos, rever amigos e antigos mestres), era por ele que ela estava ali. Muito mais do que pisá-lo, ela queria vê-lo, e contemplar em seus olhos a alegria que aquela noite propunha.
Humildade não era o forte de Beralto. Ele tinha o ego inflado aos montes, ainda mais quando se tratava de Caterina. A moça o amava muito, e por mais que demonstrasse seu amor apenas em olhares vagos e silenciosos, ele se envaidecia. Ultimamente, julgava ter o direito de brincar com a vida dela. E o fazia sempre que se encontravam: a humilhava e ridicularizava de todas as formas que podia. Mas o amor que ela nutria por ele era maior do que qualquer explicação racional que pudesse ser dada, e antes mesmo de os erros do rapaz lhe golpearem no mais íntimo de sua alma, ela os perdoava, um a um. Por mais ferida que se encontrasse, sempre terminava por oferecer a outra face, e deixar que ele lhe magoasse sempre um pouco mais.
Os ponteiros do relógio não tinham por ela compaixão, e faziam sua rota vagarosamente. Quisera ver o sol chegar, trazendo com ele a certeza de que a noite tortuosa havia encontrado seu fim. Enquanto isso, seus amigos lhe cobravam sorrisos: "Você não pode conceder a ele o espetáculo da sua dor!". Ela sabia que eles estavam certos. Mas se dava por satisfeita em cumprir a dura missão de não chorar, e não se deixar contorcer de dor, ali mesmo. - "Se tivesse uma faca cravada no peito, não estaria doendo tanto." - Ela pensava, num esforço sobre-humano de não deixar que as lágrimas lhe afagassem o rosto.
Ele esteve nos braços de outra, e permanecerá nos braços dela por longo tempo, e será feliz. Isso a matava. Mas para quem já havia morrido o que ela morreu por ele, não era nada. Era só um latejar mais forte, numa dor contínua. Agora estava frio, e a chuva que tempestivamente se derramava lá fora era as lágrimas que ela se recusara a chorar na noite anterior. Choraria o dobro disso na noite seguinte. Aquela dor se intensificaria ainda mais. Mas Caterina tentava prosseguir, com um passo de cada vez. Hoje estava melhor que ontem, pior que amanhã. E assim tentava se refazer. Quando o choro cessar em seus olhos, ela há de voltá-los ao céu. Porque quem disse, que em algum lugar lá em cima, não existem outras imensas, várias, brilhantes e belas estrelas, para fazer companhia a uma intensa, nobre e pura lua solitária?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Inconstestável fim

Estava escrito, selado
Irreversivelmente estampado
Não só em folha, papel
Mas minha história (e do amado)
Estava escrita lá no céu

Não como promessa divina
De que tudo fosse mesmo acontecer
Mas como a vida que ensina
O que não se pode esquecer

Lembrar, lembrar, lembrar
Infeliz condenação!
Não me permito mais chorar
Mas tê-lo em mente, me aperta o coração

Antes fosse ele hoje
Como costumou ter sido
E agora não mais vejo
Seu colo como meu abrigo

Me desdenha, pisa e humilha
E tola, eu caio na armadilha
Me permito voltar a sofrer.
Já chega, fico por aqui
Incontestável, chega o fim
Fim das lágrimas, esperanças e tudo
Por favor, tente ficar mudo
Nossa história já foi, passou
Mesmo tendo eu tanto te amado
Já que não te vi ao meu lado
Sinto muito. Acabou.

domingo, 10 de outubro de 2010

Posteridade


Ela estava convencida do quão imensa é a fragilidade da vida. Ela veio sendo convencida disso dia após dia, depois da grande perda.
Sempre que tomava conhecimento de alguém que se ia, era como reviver a própria dor, diante da partida daquela que lhe havia deixado. Temporariamente, de acordo com suas crenças. Contra vontade, comprovadamente. Mas ela lhe havia deixado. E como era difícil a separação!
Mas um dia, ela também haveria de ir. Partir pra outra vida. Reencontros, sim! Mas como ela fora hoje deixada pra trás, também deixaria alguém para trás quando partisse. A visão de quem fica, ela já tinha: dor. E quem parte, sente o mesmo?
Enquanto se via imersa pelos "ses" e suas possibilidades, num outro ângulo de seu pensamento-turbilhão os questionamentos eram outros. A vida era frágil, ponto. Num (imprevisível) dia, ela não mais estaria aqui. Mas enquanto ainda estiver quer permitir-se, desfrutar do que lhe for (ou não?) permitido. Nada descomedido ou imprudente, aproveitamentos desprovidos de maldade, que lhe rendessem bons risos e histórias a contar. Mas queria um grande feito, ao menos um. Mesmo que não fosse grandioso para todos, mas que deixasse algo registrado para alguém. "Para a posteridade, o que deixar?", ela se perguntava.
E em meio aos tortuosos pensamentos torturantes, ela descobriu que não tinha medo da morte. Sempre pensou que tinha, mas na realidade não era o verbo morrer que lhe assustava. O verbo do medo era esquecer. Temia ser esquecida, varrida das lembranças alheias como poeira indesejável na varanda. O que fazer para não permitir-se ser esquecida, para ser lembrada até depois do que a mente humana permitir? E para a postaridade, o que deixar?

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Escolha certa

"Eu não podia pensar nele. Isso era algo a que eu tentava me prender. É claro que eu cometia deslizes; eu era apenas humana. Mas estava ficando melhor, e assim a dor era algo que agora eu conseguia evitar durante dias. Para compensar, tinha o torpor interminável. Entre a dor e o nada, eu escolhera o nada."
(MEYER, Stephenie. Lua nova. Intrínseca. Novembro, 2008)



N A D A. Minha vida estava coberta de nada. Eu andava rindo um pouco, brincando de ser feliz. Mas depois de certo tempo, me dei conta. Eu estava vazia. Sem ele, eu seria sempre vazia. Poderia sorrir, até (pensar) ser feliz. Mas sempre faltaria algo. Sempre faltaria o sorriso dele, a voz, o andar, o cheiro. Mas eu tinha um problema: ele já não era o mesmo a quem eu queria me entregar. Ele mudara, ou mostrara sua verdadeira face: que não me agradou.
Era um dilema. Perdi o homem da minha vida, antes que ele pudesse ser um homem, de fato. Era um adorável menino, até o momento em que desfigurou-se sob os meus olhos. Eu não conseguia aceitar, eu não tinha como perdoar! As lembranças entravam em contraste com o presente e me matavam um pouco mais do que eu já havia morrido.
Agora eu tentava me afastar de todas as formas, cortar todos os vínculos. Mas não parecia ser o bastante. Eu fugia da dor, e me lançava no vazio. Até que ponto a minha escolha era certa?

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Desvario


Não acredito na hipótese de que ela tenha se feito amargura, depois de tanto perder água, sangue, e muito mais. Estava apenas imersa numa nova fase, numa transição.
Ora, se antes ela o amava perdidamente, e morreria por ele (e havia morrido um pouco, é bem verdade); agora buscava alguém que pudesse ser o novo "ele" em sua vida. Não era uma procura fácil, cada dia ela testava um: aos domingos se deixava apaixonar por um rapaz, às segundas e quartas seu novo amor já era outro.
E assim, todos eram seus amados. Um em cada dia, cada um em sua vez: o da tela do cinema, o dos autódromos, o dos palcos, o dos noticiários. Esses eram os mais surreais. Mas mesmo assim, ela os imaginava, na esperança de tirar seu foco do amor passado (passado?). Depois, no dia-a-dia, vinha seu aluno, seu professor, e até mesmo o super-homem.
E nesse desvario de procurar alguém para amar, amava todos. E continuava amando Ninguém.

domingo, 5 de setembro de 2010

Você vai me destruir?


Ela é fria, amarga e no fundo sempre sozinha. Se apaixonou demais, não foi correspondida nunca e odeia metade do mundo por isso. Se afastou de boa parte dos amigos, por não aguentar lições de moral. Deixou de escrever, de ler, de cantar. Nada mais tinha graça, pra quê fazer algo contemplativo?
No lugar de seu coração, hoje tem uma pedra. No lugar das lágrimas sensíveis, nada mais. Dos sorrisos meigos, mais nada também.
Ele cansou de amar. Ela não vai mais amar. Nunca. Mas ah, qual é? O amor nunca foi mesmo com a cara dela...

Ela é em quem você quer me transformar. Ela é a última pessoa que eu quero ser. Você quer me destruir... Conseguirá? N Ã O.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Pretérito II

É um encaixe, uma meta
Uma escolha tão incerta
Do não-amor, o frio, a paz
Ausência de dor, rompendo os ais

De tanto querer bem-querer
Sofrida a vida se fez
Quisera mal-querer, esquecer
Sepultar o amor de vez

E aí veio a auto-suficiência
Facilidade em deixar pra lá
Tecendo uma nova existência
Navegando num novo mar

Falso fácil fez-se, então
No novo mar a tormenta
Vai entender, coração
Esse mistério que te alimenta

Diz-se não-esquecimento
Aponta-me a falta de mérito
Pise em meu meu sofrimento
Deixe-me em paz, ó, pretérito

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Pretérito

Eu queria um poema que me bastasse. Queria um lugar onde com minhas palavras, eu pudesse depositar todo esse amor ainda existente. Queria poder me esvaziar completamente desse sentimento que domina minha alma, que me desestabiliza tão profundamente. Queria tranformar tudo em palavras, frases, texto, e deixar ali, guardado a sete chaves. E que assim, com tal sentimento fora de mim, eu pudesse ter paz. Eu visse o fim de tudo.
Minha mudança tão clara, simples e óbvia se faz um tanto quanto nula quando as lembranças tomam corpo e aparecem diante de mim. O chão me some sob os pés, as palavras me somem da boca. É o passado que me visita, passa sob minha vista com o intuito de me mostrar o quanto é presente, ainda. Vem inutilizar todo sentimento de vida nova.
O coração pára, o sangue deixa de circular por um minuto. Depois tudo volta, num ritmo inusitadamente frenético. É o pretérito me pregando peças. E depois me deixando só, no chão.

sábado, 28 de agosto de 2010

Recaída


No príncipio de tudo, era você: presente nas brincadeiras sórdidas, que eu costumava odiar. Continuou sendo você quando em mim despertou-se o dengoso e tímido jeito de gostar do que os terceiros falavam. Permanecia sendo você quando gritei silenciosamente ao mundo que eu havia me apaixonado. Ainda era você quando o mesmo mundo me viu com o peito aberto, sangrando. E era você também, quando dei as costas e fui buscar a felicidade em outros lugares e pessoas. E mesmo quando eu parecia tão feliz e auto-suficiente, ainda era você. E agora ainda é você, mas não mais sozinho: somos nós. E enquanto for eu, for você e formos nós, a felicidade não caberá em mim, de tão tamanha. Porque de tanto ser você, me veio uma tal desconfiança de que você sempre será. Até que meu coração pare, e também depois. E de tanto ser você, hoje sou saudavelmente também eu, para sermos nós, então.

domingo, 22 de agosto de 2010

Oração

No mesmo canto de seu quarto onde nas escuras e frias noites entregava a Deus a vida de seu amado, agora seus versos em prece eram outros:
"E minha vida, no fim das contas, tem sido muito mais feliz sem ele. As coisas têm estado muito melhores pelo fato de eu estar vivendo num mundo onde ele não existe, onde as pessoas que me cercam não o conhecem. Às vezes eu vejo as marcas e me pergunto: 'O que deu errado?'. Mas logo isso passa. As novas e empolgantes possibilidades que me rodeiam não permitem que eu me disperse delas por muito tempo. E um dia, quando as cicatrizes não mais me incomodarem, vou olhá-lo de longe e dizer mentalmente: 'Eu sei viver sem você!'. E ele, ao me ver cada vez mais distante (e quanto maior a distância, mais feliz eu estarei), vai cair em si: 'O lugar que eu tinha na vida dela, já não é meu. Ela sabe viver, e vive muito melhor, sem mim...'. Obrigada antecipadamente por isso, Deus. Amém."
Era uma prece de menina,
Tão pura e singela.
Que depois que o encanto termina
Não pede por ele, mas por ela.
Com corpo em demasia cansado
Ela viu a hora de partir
Já não chorava pelo seu amado
Mas ainda não conseguia sorrir
Pedia a Deus, em oração
Que do seu verso surgisse prece
Pedia paz ao seu coração
Enquanto dele ainda não esquece.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O novo ou um novo?

A ideia de que aquele flerte unilateral se tornasse mais uma de suas histórias de amor a perturbava. Positivamente. Negativamente. Era uma confusão já estabelecida.
Ora, até ali ela já havia mudado bastante, se reinventado. Deixara pra trás tudo aquilo que um dia lhe tinha feito chorar. Inclusive ele. Ela tomou a decisão de não mais carregá-lo nas costas, de uma vez que ele já pesava em demasia.
Se via pronta para viver um momento só dela, sem buscar novos amores ou suspiros. Até que inusitadamente alguém lhe despertara o interesse. E mais que isso: o desejo.
Mas se via confusa demais para assim, tão cedo, dizer "sim" ou "não". O amor passado ainda não era passado de fato, e as feridas que ele lhe deixara não estavam cicatrizadas por completo. Algumas ainda doíam. Mal havia voltado à superfície depois de mergulhar durante quase quatro anos. Não sabia se tinha fôlego suficiente para mergulhar em outra história.
Queria, mesmo, libertar-se do passado que lhe roubara os sorrisos. Mas não queria outra incerteza. Estava cansada de sofrer. Tudo o que ela precisava era de mudança. E ela, por si própria, já estava mudando. Aquela poderia ser mais uma de suas histórias de amor. No entanto, na profunda metamorfose pela qual estava passando, tudo que ela menos precisava era de mais uma daquelas histórias. Uma história igual às outras, nesse ponto, não ajudaria em nada. Ela precisava da história, aquela que fosse tão diferente quanto ela estava agora. Ela já não era mais igual, não poderia amar igual.
O sutil desejo (que mesmo um tanto quanto carnal, se fazia puro dentro dela) lhe apontava a possibilidade de gozar do êxtase do princípio da paixão: fase doce, da qual ela sentia saudades. Mas o mesmo desejo entrava em contraste com o medo de que fosse tudo igual. Não poderia ser. Ela não tinha mais o direito de (querer) sofrer demais por alguém. As feridas de outrora, ainda perceptíveis em sua alma, lhe amedrontavam: não queria o mesmo filme. E se aquela fosse a história de que ela precisava, para se sentir, então, uma mulher? O que se havia a ganhar? O que se havia a perder? Nem ela sabia...
Poderia ser o novo amor. Mas e se fosse mais um?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Ela estava num lugar onde a lembrança dele não mais a perturbava. Porque ali, onde ela estava, ele simplesmente não existia. Não viveria mais sendo assombrada pela sua presença silenciosa: quando estava tudo bem, ele sempre lhe aparecia e aprontava. Agora, ele não teria como aparecer. Não ali, naquele refúgio de vida nova.
Que ela o havia amado durante todo esse tempo, não havia dúvidas. Foi uma doação completa, pois ela havia doado até o que não tinha pra dar. Sofreu em silêncio e resignada. Nunca sentira algo tão puro e intenso por mais ninguém. Seria capaz de tê-lo amado devotadamente por toda a vida, se não estivesse cansada demais de chorar. A hora de pensar um pouco nela havia chegado.
Não que o amor houvesse perecido, mas era que ela precisava sorrir. Sempre sentiria algo por ele. Sempre teria saudades de quando ele era somente aquele que ela amava. O pensamento de que ela poderia ter amado a um personagem, fazia com que a pobre moça se contorcesse de dor. Não queria acreditar que fora, tanto tempo, apaixonada por uma mentira. O fato é que amava aquele, daquela época inicial. A pessoa na qual ele havia se transformado, e quem era hoje, não a interessava. Ao contrário, ela sentia uma certa repulsa. Culpava aquele desconhecido ser pelo sumiço do amor de sua vida.
Mas era hora de andar para frente, e era isso que ela estava fazendo. Repetia para si, tentando não ver os acontecimentos como tragédia: "Foi um belo amor, enquanto saudável. Ao menos, rendeu-me bons poemas."

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Borboleta.

Estava cansada demais para permanecer amando devotadamente, e ser chutada em troca. Nunca duvidei da intensidade e da realidade de tudo que senti, e nunca duvidarei. Foi real e verdadeiro. Mas havia deixado de valer a pena. Amar é sofrer, doar-se. Sei disso e vivi isso. Mas limites existem. "Às vezes precisamos aprender a amar o que é bom para nós". Concordo, e é o que pretendo fazer.
Não vai ser fácil, quem disse que seria? Lembranças hão de aparecer, me fazer querer voltar. Não há caminho de volta. O que posso fazer, é deixar algo aqui, nesse ponto da estrada, e seguir sozinha. Mas não posso voltar. É pra frente que se anda, sempre.
E eu vou, vou pra entender quem eu sou. A mulher que sou grita dentro de mim, e precisa aparecer, crescer, seguir. Não vou lhe impedir os passos. Permitirei que ela surja: que seja, aconteça. E feliz!
Não vou mais ficar aqui, esperando quem não vem, renunciando minha própria existência. Chegou uma nova fase, e hei de vivê-la como se deve: sendo também nova! Fazendo-me de novo. Um novo começo, uma nova vida. Vivi, venci, reciclei-me. como uma borboleta, eu saí do meu casulo. Agora já posso voar.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Na volta dos sonhos.

Estive vulnerável às ofensas que ela mudamente me dirigia. Eu via em seus olhos um ódio insano por mim: sentimento recíproco.
Ela teve a audácia de me aparecer em sonho, discutindo minha dignidade, caráter e forma de vida. Jogou amargamente em minha face o não-amor de sua cria por mim. "É por isso que o meu filho não gosta de você!" - no sonho eu lhe mostrava as costas, seguia. Mas na realidade, as palavras ecoavam em minha cabeça.
Na noite seguinte foi a vez dele me visitar os pensamentos sonâmbulos. As más companhias o tinham feito diferente: estúpido, arrogante, cheio de si e maleficamente sarcástico. Sentara à beira da janela do meu quarto e começara a destilar o mesmo veneno que sua genitora destilava. "Algum problema?" - Indaguei-o, com segurança e rispidez. Teve início a discussão. Eram palavra sujas, sem necessidade de serem proferidas.
Eu que há muitos meses não via a figura dele em meu sono, vi no que antes era sonho colorido, um negro pesadelo. Ele havia voltado diferente. Os sonhos sofreram metamorfose, perderam brilho, encanto, cor. Tudo me voltou às avessas, menos as lágrimas, que eram as mesmas.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Presente passado, passado presente

O presente me olha

Cada vez mais distante

E o que sinto agora

Não é o amor de antes

Não sei o que há

Mas algo estranho acontece

É o presente, meu Deus

Que em passado se converte

O passado sobe rampas

O futuro, escadarias

No passado só lembranças

De perfeitas alegrias

Uma parte de mim

No passado deixei cair

Mas quero no presente

Essa parte reconstruir

Para gostar da lembrança

Que no passado ficou

E para o presente

Uma palavra: amor




Poema escrito em 4 março de 2007.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

29.

Eu não precisava estar ali
Mas estava.
Ninguém me obrigava!
Mas eu estava.
Quem me obrigava?
Ora, não importava!
Nas horas (que quem dera, fossem vazias)
Estava envolta a nostalgias
E era eu que me obrigava

Não na minha parte que me ama
Mas na parte que ama a ti
Violenta, doentia, inconsciente!
Orgulhosa e sofridamente
Não conseguia me deixar ver o dia corrente
Como um dia comum, qualquer

Cruel, mesquinho: desatino de mulher
Não é sempre que se pode ter aquilo que se quer
Eu, dona de um coração insano
Fui condenada a passar mais um ano
Chorando, no tapete atrás da porta
Vendo minha esperança no chão: estirada, morta

As paredes me sufocam,
Murmuro cada vez mais baixo
E minha voz, perdendo as forças
Consegue gritar só dentro de mim
Portas trancadas, daqui não saio
Fico me ouvindo dizer:
Odeio celebrar o teu nascer
Por isso odeio: 29 de maio!

domingo, 23 de maio de 2010

E foi preciso voltar.

Foi necessário voltar ao lugar onde tudo teve seu início. Foi preciso voltar lá, ver, ouvir, sentir e lembrar. Perceber que nem tudo foi em vão, sentir que um dia eu fui quase feliz com minha tal realidade, que mais adiante frustrou-se.
Eu precisei estar lá para observar as lembranças. Eu precisei confrontar minha memória. Eu precisei estar lá, para com a mente, reviver cada segundo, num segundo só.
E foi num único segundo que a verdade me ocorreu. Ah, a verdade... Sinto-me alheia a ela diversas vezes. Como se ela me virasse as costas, ou eu desviasse dela meu olhar.
E naquele ínfimo segundo, eis que ela se apresentava em minha frente: nua, crua... Verdade verdadeira! Foi através dela que soube que não havia remédio, cura. Quando mais me sinto encontrada, estou perdida. Quando penso já não me importar, me importo como nunca.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Espera.


Terá sido válido, todo o tempo em que sentada, permaneci esperando? Terá sido válida minha arte de me contorcer de dor, de ver as lágrimas caindo pelo rosto e ainda assim repetir, incessantemente: "preciso crer, suportar, esperar."?
Foram mais de mil dias que pareciam iguais. As dores eram as mesmas. Minhas lágrimas tocavam o chão, evaporavam de volta aos meus olhos, e tornavam a cair. Até as lágrimas eram iguais.
O desprezo estampado nos olhos dele também era sempre o mesmo. E dia após dias, parecia me atingir de forma mais violenta. Queria poder sorrir com ele, e não saber que ele sorria de mim. Ora, doar-se de amor por inteiro, sem pedir nada em troca, não é algo engraçado. Que graça minha dor haveria de ter?
Será que ele nunca soube o quanto me doía amá-lo? E se todo esse tempo, ele continuou pensando que era brincadeira, como no início? Não, ele não seria tão tolo. Quando me apontava como uma piada, ele sabia o que estava fazendo. Chegava a ser cruel.
Dentro do meu universo, mergulhada num amor sem medidas, tudo que fiz foi esperar. Esperar por ele, esperar que o sarcasmo dele cessasse. E minhas lágrimas também.

sábado, 15 de maio de 2010

Ser seu anjo.

A distância que há muito tempo vinha sendo mantida entre os dois, parecia nem incomodá-la mais. O incômodo que ela sentia se dava justamente pelo fato de não se sentir incomodada. Ela sabia o quanto amar é doloroso, e temia que o amor a tivesse abandonado o peito, já que não mais doía. Enquanto se contorcia de dor, conseguia ser feliz. Agora, ao invés de aliviada, ela se sentia vazia.
Era comum em seus devaneios amorosos, ela pensar que ele seria como um anjo da guarda. Ora, mas que belo anjo! Quando ela mais precisava de apoio, ele foi incapaz de desprender-se das fofocas juvenis de outrora para estender-lhe a mão. Contemplou-lhe o sofrimento de longe, e sabia o quanto ela se encontrava dilacerada por dentro. Foi como ver um enfermo debater-se, ter um poderoso e exclusivo analgésico nas mãos e não fazer nada.
Depois de se reerguer, ela se convenceu de que ele não poderia ser seu anjo. Agora, distante dele como nunca estivera antes, ela começava a pensar em toda sua trajetória como incondicional apaixonada. Percebeu, então, que era ela que possuía as qualidades de anjo. Esteve sempre observando os passos dele, amando-o, intercedendo, com um instinto protetor que não se poderia descrever. Ela sempre fora o anjo da guarda dele.
E por ser seu anjo e amá-lo sem pedir nada em troca, ela tinha de acreditar que a ausência de dor não era de fato ausência. Talvez estivesse lhe doendo tanto, que nem fosse possível sentir ou perceber. Ela precisava ainda crer no amor. E para isso, ela tinha que crer que ainda havia dor.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Mas já não é, amor.



Ele estava nervoso demais, suava frio. Havia gastado todas as economias naquele par de alianças, e ela demorava a chegar ao local marcado. Já se passava mais de meia hora do horário combinado. Preocupado, ele pegou o celular e discou o número dela. "Deixe seu recado após o sinal". A mensagem o pegara de supresa, não era o que ele desejava ouvir. O nervosismo proveniente da ansiedade, que já existia, agora se misturava com preocupação.
Deitada em sua cama, ela contemplava o seu telefone móvel desligado, como que adivinhando que o namorado tentava contatá-la através dele. Não tinha vontade de conversar. Em sua mente, as juras de amor que havia trocado com o seu (até então) amado, rodavam. Algo havia sido perdido no tempo. Alguma coisa na história, parecia não mais fazer sentido, não mais encontrar encaixe. Ela sabia que a surpresa que ele lhe havia preparado era formada por um par de alianças, um buquê de rosas e um pedido de casamento. O que claro, tornava a surpresa tudo... Menos surpresa. Ela queria adiar o encontro, estava nervosa demais. Desde pequena tinha mania de "travar" diante do nervosismo. Mas estava muito atrasada, e já não podia deixá-lo esperando. Foi.
Quado, finalmente se encontraram, o nervosismo era visível. Ele deu nela um beijo amoroso e quente.
- Já estava aflito com a demora! Não consegui falar com você pelo celular.
Ela devolveu a ele um beijo nervoso e frio:
- Vamos fazer desta uma tarde do perdão: pra começar, você terá de perdoar o meu atraso. - "E outras coisas mais", sussurou para si.
- Certamente perdoarei. Amar não é isso? - ele sorriu.
- É isso também. - "Se eu ainda souber o que é amar", pensou ela.
- Acho que não consegui fazer uma surpresa perfeita, não? - ele lhe ofereceu as rosas.
- Creio que não. Acho que imagino onde queira chegar. A propósito... As flores são lindas. - ela estava pálida.
- Ora, parece mais nervosa que eu! - ele brincou.
- De fato. Isso porque eu talvez já tenha uma resposta para a pergunta que você ainda nem me fez.
- Certamente. - ele acariciou o rosto dela, e lhe deu mais um beijo apaixonado.
Ela desgarrou-se rápido dos braços dele e de su beijo:
- Sabe que costumo adiar nervosismos, mas vamos logo com isso? - o tom dela era quase irritado.
- Vejo que assim como o nervosismo, sua ansiedade também é maior que a minha! Tem uma resposta de três letras pra mim?
- Tenho. - ela engoliu seco.
Ele tirou uma caixinha do bolso, abriu-a delicadamente, revelando as alianças. Eram belas e delicadas, como ela sempre sonhara.
- Quer se casar comigo?
O silêncio deixou o clima tenso, como não era há um segundo.
- Querida, minha resposta de três letras, vamos! - ele pensava que era só emoção a causa do silêncio. Não sabia o pesar que havia naquela ausência de palavras.
- Sua resposta é não. - ela estava séria, e não ousava olhá-lo nos olhos.
- Não é uma boa hora pra brincadeiras, meu amor!
- Não é brincadeira.
- Nós nos amamos! - ele protestou.
- Não é mais amor o que sinto por você. - ela era segura ao dizer tal frase.
- Como pode ter tanta certeza?
- É que já não dói mais...
Ela deu as costas. Tinha segurança em tudo que havia dito, não pretendia voltar. Ele estava atônito demais pra se mover. O que não doía nela, deixava-o em carne viva. Pra ele agora era amor, porque doía. Pra ela, a ausência de dor prendeu seu "sim" nos lábios.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Dedilhada.


Uma vida dedilhada não é o que eu quero pra mim. Não quero a calmaria e a mansidão de quem acaricia com receio as cordas do violão. Quero os dedos calejados das batidas violentas e fortes. Quero intensidade.
Fui lenta, mansa e calma por muito tempo. A suavidade de desacelerar é boa, quando não se torna constante. Descansar da intensidade é bom. Mas como eu não vivia tal intensidade, não havia do que descansar. Agora, quero ser intensa, me jogar.
Uma vida dedilhada é tudo o que não quero. A calmaria da mesmície é tudo o que não quero. O que quero é me lançar na intensidade e só. Intensa, intensa, intensa. Imensa. A vida é algo imenso, mas que só se caracteriza de tal forma quando é também algo intenso. Ela não pode ser imensa se não for intensa, e virce-versa.
Eu só sei que desejo profundamente essas duas coisas: intensidade e imensidão. "Eu só sei que não quero viver uma vida dedilhada."