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domingo, 23 de maio de 2010

E foi preciso voltar.

Foi necessário voltar ao lugar onde tudo teve seu início. Foi preciso voltar lá, ver, ouvir, sentir e lembrar. Perceber que nem tudo foi em vão, sentir que um dia eu fui quase feliz com minha tal realidade, que mais adiante frustrou-se.
Eu precisei estar lá para observar as lembranças. Eu precisei confrontar minha memória. Eu precisei estar lá, para com a mente, reviver cada segundo, num segundo só.
E foi num único segundo que a verdade me ocorreu. Ah, a verdade... Sinto-me alheia a ela diversas vezes. Como se ela me virasse as costas, ou eu desviasse dela meu olhar.
E naquele ínfimo segundo, eis que ela se apresentava em minha frente: nua, crua... Verdade verdadeira! Foi através dela que soube que não havia remédio, cura. Quando mais me sinto encontrada, estou perdida. Quando penso já não me importar, me importo como nunca.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Espera.


Terá sido válido, todo o tempo em que sentada, permaneci esperando? Terá sido válida minha arte de me contorcer de dor, de ver as lágrimas caindo pelo rosto e ainda assim repetir, incessantemente: "preciso crer, suportar, esperar."?
Foram mais de mil dias que pareciam iguais. As dores eram as mesmas. Minhas lágrimas tocavam o chão, evaporavam de volta aos meus olhos, e tornavam a cair. Até as lágrimas eram iguais.
O desprezo estampado nos olhos dele também era sempre o mesmo. E dia após dias, parecia me atingir de forma mais violenta. Queria poder sorrir com ele, e não saber que ele sorria de mim. Ora, doar-se de amor por inteiro, sem pedir nada em troca, não é algo engraçado. Que graça minha dor haveria de ter?
Será que ele nunca soube o quanto me doía amá-lo? E se todo esse tempo, ele continuou pensando que era brincadeira, como no início? Não, ele não seria tão tolo. Quando me apontava como uma piada, ele sabia o que estava fazendo. Chegava a ser cruel.
Dentro do meu universo, mergulhada num amor sem medidas, tudo que fiz foi esperar. Esperar por ele, esperar que o sarcasmo dele cessasse. E minhas lágrimas também.

sábado, 15 de maio de 2010

Ser seu anjo.

A distância que há muito tempo vinha sendo mantida entre os dois, parecia nem incomodá-la mais. O incômodo que ela sentia se dava justamente pelo fato de não se sentir incomodada. Ela sabia o quanto amar é doloroso, e temia que o amor a tivesse abandonado o peito, já que não mais doía. Enquanto se contorcia de dor, conseguia ser feliz. Agora, ao invés de aliviada, ela se sentia vazia.
Era comum em seus devaneios amorosos, ela pensar que ele seria como um anjo da guarda. Ora, mas que belo anjo! Quando ela mais precisava de apoio, ele foi incapaz de desprender-se das fofocas juvenis de outrora para estender-lhe a mão. Contemplou-lhe o sofrimento de longe, e sabia o quanto ela se encontrava dilacerada por dentro. Foi como ver um enfermo debater-se, ter um poderoso e exclusivo analgésico nas mãos e não fazer nada.
Depois de se reerguer, ela se convenceu de que ele não poderia ser seu anjo. Agora, distante dele como nunca estivera antes, ela começava a pensar em toda sua trajetória como incondicional apaixonada. Percebeu, então, que era ela que possuía as qualidades de anjo. Esteve sempre observando os passos dele, amando-o, intercedendo, com um instinto protetor que não se poderia descrever. Ela sempre fora o anjo da guarda dele.
E por ser seu anjo e amá-lo sem pedir nada em troca, ela tinha de acreditar que a ausência de dor não era de fato ausência. Talvez estivesse lhe doendo tanto, que nem fosse possível sentir ou perceber. Ela precisava ainda crer no amor. E para isso, ela tinha que crer que ainda havia dor.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Mas já não é, amor.



Ele estava nervoso demais, suava frio. Havia gastado todas as economias naquele par de alianças, e ela demorava a chegar ao local marcado. Já se passava mais de meia hora do horário combinado. Preocupado, ele pegou o celular e discou o número dela. "Deixe seu recado após o sinal". A mensagem o pegara de supresa, não era o que ele desejava ouvir. O nervosismo proveniente da ansiedade, que já existia, agora se misturava com preocupação.
Deitada em sua cama, ela contemplava o seu telefone móvel desligado, como que adivinhando que o namorado tentava contatá-la através dele. Não tinha vontade de conversar. Em sua mente, as juras de amor que havia trocado com o seu (até então) amado, rodavam. Algo havia sido perdido no tempo. Alguma coisa na história, parecia não mais fazer sentido, não mais encontrar encaixe. Ela sabia que a surpresa que ele lhe havia preparado era formada por um par de alianças, um buquê de rosas e um pedido de casamento. O que claro, tornava a surpresa tudo... Menos surpresa. Ela queria adiar o encontro, estava nervosa demais. Desde pequena tinha mania de "travar" diante do nervosismo. Mas estava muito atrasada, e já não podia deixá-lo esperando. Foi.
Quado, finalmente se encontraram, o nervosismo era visível. Ele deu nela um beijo amoroso e quente.
- Já estava aflito com a demora! Não consegui falar com você pelo celular.
Ela devolveu a ele um beijo nervoso e frio:
- Vamos fazer desta uma tarde do perdão: pra começar, você terá de perdoar o meu atraso. - "E outras coisas mais", sussurou para si.
- Certamente perdoarei. Amar não é isso? - ele sorriu.
- É isso também. - "Se eu ainda souber o que é amar", pensou ela.
- Acho que não consegui fazer uma surpresa perfeita, não? - ele lhe ofereceu as rosas.
- Creio que não. Acho que imagino onde queira chegar. A propósito... As flores são lindas. - ela estava pálida.
- Ora, parece mais nervosa que eu! - ele brincou.
- De fato. Isso porque eu talvez já tenha uma resposta para a pergunta que você ainda nem me fez.
- Certamente. - ele acariciou o rosto dela, e lhe deu mais um beijo apaixonado.
Ela desgarrou-se rápido dos braços dele e de su beijo:
- Sabe que costumo adiar nervosismos, mas vamos logo com isso? - o tom dela era quase irritado.
- Vejo que assim como o nervosismo, sua ansiedade também é maior que a minha! Tem uma resposta de três letras pra mim?
- Tenho. - ela engoliu seco.
Ele tirou uma caixinha do bolso, abriu-a delicadamente, revelando as alianças. Eram belas e delicadas, como ela sempre sonhara.
- Quer se casar comigo?
O silêncio deixou o clima tenso, como não era há um segundo.
- Querida, minha resposta de três letras, vamos! - ele pensava que era só emoção a causa do silêncio. Não sabia o pesar que havia naquela ausência de palavras.
- Sua resposta é não. - ela estava séria, e não ousava olhá-lo nos olhos.
- Não é uma boa hora pra brincadeiras, meu amor!
- Não é brincadeira.
- Nós nos amamos! - ele protestou.
- Não é mais amor o que sinto por você. - ela era segura ao dizer tal frase.
- Como pode ter tanta certeza?
- É que já não dói mais...
Ela deu as costas. Tinha segurança em tudo que havia dito, não pretendia voltar. Ele estava atônito demais pra se mover. O que não doía nela, deixava-o em carne viva. Pra ele agora era amor, porque doía. Pra ela, a ausência de dor prendeu seu "sim" nos lábios.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Dedilhada.


Uma vida dedilhada não é o que eu quero pra mim. Não quero a calmaria e a mansidão de quem acaricia com receio as cordas do violão. Quero os dedos calejados das batidas violentas e fortes. Quero intensidade.
Fui lenta, mansa e calma por muito tempo. A suavidade de desacelerar é boa, quando não se torna constante. Descansar da intensidade é bom. Mas como eu não vivia tal intensidade, não havia do que descansar. Agora, quero ser intensa, me jogar.
Uma vida dedilhada é tudo o que não quero. A calmaria da mesmície é tudo o que não quero. O que quero é me lançar na intensidade e só. Intensa, intensa, intensa. Imensa. A vida é algo imenso, mas que só se caracteriza de tal forma quando é também algo intenso. Ela não pode ser imensa se não for intensa, e virce-versa.
Eu só sei que desejo profundamente essas duas coisas: intensidade e imensidão. "Eu só sei que não quero viver uma vida dedilhada."

domingo, 2 de maio de 2010

Guerra.

Se antes do casamento a vida dos dois já não era só flores, depois da união formal restaram apenas espinhos e galhos secos.
Discutiam, diziam palvras sujas. As promessas que deveriam ser de amor, eram na realidade, de ódio. Se engalfinhavam, rolando no chão, como duas crianças que se estapeam quando querem um mesmo brinquedo. E eles dois realmente queriam o mesmo brinquedo: F-E-L-I-C-I-D-A-D-E. Mas ao invés de utilizá-la para ambos, duelavam por ela. Só seriam realmente felizes quando compreendessem que a felicidade não diminui quando dividida, mas que aumenta, multiplica.
O que deveria ser um lar feliz, era um campo de batalha, onde eles se encontravam em eterna guerra. E o "felizes para sempre", cada vez mais se afastava deles.