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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Simples assim!

Eu não vou ficar aqui protelando uma conversa que nem consegue se estabelecer direito. Já fiz muito mais do que minhas possibilidades de moça tímida permitem, e agora é com você.
(Silêncio)
Bom, deveria ser com você. Mas já que você não tá a fim, sem crise. Já saí dessa de mendigar a atenção alheia e bater na mesma tecla um zilhão de vezes. Não quer? Tá tranquilo... O mundo não acaba por causa disso. Demorei pra fazer essa constatação, mas agora que a tenho bem instalada em minha mente, não tem "não" que me tire o sono ou me dê sensação de fracasso.
Talvez você ache que eu tenha me tornado fria e distante demais. Errado. Adotei a praticidade como meio de vida: nunca entro na banheira sem checar com o dedão do pé se a água está no ponto. Quente demais assusta, fria demais dá gripe. O oito e o 80 têm poder de afugentar. É como olhar uma piscina bem azul num dia de sol, e sentir-se fortemente atraído ao mergulho. Até que você percebe que a temperatura não está legal. Nessas ocasiões, ao invés de sentar na borda e ficar me lamentando, decidi que qualquer outra coisa a se fazer é mais proveitosa. Chover no molhado está fora de moda.
Aliás, o discurso de que "quem acredita sempre alcança" também está démodé. Se você é baixinho e precisa pegar uma coisa guardada num lugar alto, fica sentado lá, acreditando, pra ver de quê vai adiantar acreditar e só. Não, uma escada não vai cair do céu e nem você vai crescer milagrosamente. Simples? Pois é. A vida também é simples. A gente é que complica.
Eu cansei de complicar. Quer? Legal. Não quer? Um beijo, a gente se vê (ou não) por aí. Porque se tem uma coisa que aprendi com os meus fracassos é que peixe que quer ser pescado morde a isca. Se não mordeu, é porque não tem interesse de subir a bordo do seu navio. E se não tem interesse, também não interessa. E pra quê gastar tempo em desespero, se sempre dá pra pescar em outro açude? Assim como a vida, amor e flerte também são coisas simples. A gente é que complica. E eu cansei de complicar.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Amém

Quero você comigo não só para sorrirmos. Quero tê-lo ao lado não só para me enxugar as lágrimas. Haverá momentos em que, se você chorar comigo, me sentirei muito mais revigorada do que se você me carregasse nos braços. Choro multiplicado por dois muitas vezes pode significar sofrimento dividido.
Quero você comigo não só para me levantar quando caio. Te quero por perto para cair comigo, porque nem o fundo do poço não me parecerá tão ruim se você me fizer companhia.
Quero sorrir quando houver porquê, mas também quero ser triste contigo. Sem risos desvairados, alienados ou de papel. Não se sinta na obrigação de me fazer alegre. Preocupe-se só em me fazer eu, em me fazer mulher, em me fazer completa: com lágrimas, sorrisos, dores e prazeres. Mais do que alegria, quero que você me dê felicidade. Alegria é momento. Felicidade, por mais que seja encarada como estado, na verdade é conceito e forma de vida. Quero viver sendo feliz, e para isso, devo ser plenamente eu. Faça com que eu me seja, sem máscaras.
Quero você ao meu lado e não outro. Porque com você sei que não tenho o compromisso de viver um conto de fadas, sei que não nos importam as convenções ou pensamentos alheios. Quero você só porque te desejo, e não por destino, ou porque somos almas gêmeas ou nossos signos combinem. Quero você pela sua capacidade de me amar com ou sem maquiagem, gorda ou magra, de óculos ou lentes de contato, cantando certo ou desafinando, sendo segura ou perdendo a fala, sendo mulher fatal ou menina indefesa. Quero tê-lo ao meu lado porque você me quer como um pacote completo. O que existe ao meu redor (sendo bom ou ruim) fica em segundo plano: você ama em mim a minha alma, a minha essência. O resto é plus, pro bem ou pro mal. Não importa tanto.
Tinha que ser você não porque estava escrito nas estrelas, mas porque afortunadamente eu lhe encontrei no momento mais oportuno, quando estava pronta para amar de verdade. E descobri que a gente fica pronta para o príncipe encantado da vida real quando esquece tudo que aprendeu sobre contos de fadas. Porque no equilíbrio de todas as sensações que existem no mundo é que a gente pode inventar uma história ainda melhor que as dos livros e filmes. O melhor romance é aquele que está inundado de realidade.
E eu te amo porque nosso encontro não estava determinado pelos céus. Eu te amo porque eu te quis para mim e só. Eu te amo porque nossa vida em comum não estava escrita em algum lugar desde toda eternidade. Eu te amo porque a caneta é minha e o papel também, "Nós Dois" é um livro que estamos escrevendo juntos, e só por acaso é que os anjos têm dito "amém". E se eles um dia não mais disserem, não tem problema, não: eu digo. Amém.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Invasão

Amanheceu e eu não preguei o olho. Enquanto o sol se espreguiçava timidamente sobre o mar, eu fazia um esforço de míope para enxergar as gotas de orvalho beijando as folhas das árvores. Minha garganta estava seca... Como o meu coração. Era um domingo que começava cheio de perguntas sobre um sábado que poderia ter sido. E que não foi.
Seria possível que, a essa altura do campeonato, ainda fosse amor? Seria o ódio uma máscara escondendo a verdadeira face de um sentimento que nunca mudara? Não gostava de pensar na hipótese de que eu nunca o tivera esquecido, de fato. Alguma peça não se encaixava e em algum pedaço da história havia uma mentira. Mas em qual?
Não importava a que conclusão eu chegasse, a verdade é que a presença dele me incomodava mais do que sua ausência, acho. No entanto, eu tinha um argumento plausível para querer vê-lo: pisá-lo. Mas também não o queria por perto, crescente era a raiva que brotava em mim.
Eu poderia tê-lo visto naquele sábado, quando ele se inclinou até o meu habitat. Eu poderia tê-lo humilhado, assumindo um ar de superioridade, jogando-lhe na cara meu presente glorioso, em contraste com o fiasco de passado que ele me é. Mas recuei assustada... O destino não quis que eu presenciasse a cena dele tentando inserir-se naquele lugar que agora é minha segunda casa. Me incomoda a possibilidade de ele fazer parte do meu dia-a-dia outra vez. Se ele estiver presente em minha rotina de novo, de todo jeito terá sido em vão a minha vida nova, e algo em mim haverá de sucumbir. E então agora faz-se hora de desejar a ele o melhor, do fundo do coração. Não sendo altruísta como antes, mas num gesto de amor próprio. Porque se o melhor lhe for garantido, ele permanecerá distante e o meu novo mundo intocado.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Conjunto vazio

No fundo eu me sentia péssima por não conseguir resgatar aquele afeto infantil que um dia nutri por ele. Mas era tudo muito complicado por causa da instabilidade que ele sempre tivera. Se mal era hoje, amanhã poderia não ser de jeito nenhum. Me doía reconhecer que era sangue do meu sangue, mas isso não o tornava alguém com quem eu pudesse contar.
Com ela era diferente. Sempre fora. E foi preciso que ela partisse para que eu percebesse isso de forma mais clara. Mesmo tendo ido fisicamente, ela sempre está aqui para mim. Já ele, dificilmente, raramente, quase nunca.
A falta de carinho que carrego no peito, no fim das contas, é defesa. Por medo não do mundo, mas de não ter um refúgio que me proteja do mundo. Não posso me acostumar com uma proteção da qual não disponho.
Eu queria de verdade que a culpa desse afastamento e de toda essa frieza fosse minha. Mas não é. Me dói também reconhecer, mas a culpa é dele.
Essa distância não fui eu que tracei, esse limite não fui eu que impus. Essa escolha não fui eu que fiz. Eu, que deveria ser a prioridade dele, não o sou. E dói. E o que mais me incomoda é a presença dele me incomodar; é a presença dele, que deveria iluminar as coisas, fazer da minha casa um conjunto vazio.

"Sentada atrás do sofá, disfarçando pra ninguém notar. Eu quase desistia de ver você chegar. Mesmo querendo esquecer, as lágrimas eram mais vivas que você. Hoje eu sei, esse vazio em mim é teu. O telefone tocava, e em mim batia mais forte a chance de você ligar. Imaginava a hora que eu ia te encontrar. Mas as horas passavam, eu sempre tentando desculpar. Só mais um segundo, sempre a última chance pra você chegar. Aprendi a te amar sem receber nada em troca, além de você. Aprendi a te amar sem te ter, e hoje eu sei viver sem você. Minha mãe dizia: 'tudo passa!'. Só eu sei o que era esperar por alguém que nunca, nunca estava lá. Não é que você seja diferente, é que ninguém é igual a você. Eu sempre pronta pra te receber. Se um dia o tempo voltasse, eu pegaria nas mãos nosso passado, só pra te dizer tudo aquilo que escrevi em pensamento e não tive coragem de fazer. Aprendi a te amar sem receber nada em troca, além de você. Aprendi a te amar sem te ter, e hoje eu sei viver sem você." (Luiza Possi)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Correnteza

Que dessa vez ninguém diga que é mentira
Que dessa vez ninguém diga que não tentei
Que ninguém venha me dizer que é minha ira
Que me destrói por tudo aquilo que amei

Eu sei que um dia eu amei
E foi verdade
Mas de gostar, com o tempo, eu desaprendi
É tão amargo se chegar na minha idade
E só lembrar de importante o que sofri

Não sinto amor, não sinto dor, não sinto nada
Pois do meu nome o romance se esqueceu
Eu já nem sei como é estar apaixonada
E não me lembro onde o encanto se perdeu
Mas não me venha me dizer que sou culpada
Poucos na vida amaram tanto quanto eu

Não tenho culpa por ter sido tão ferida
Culpa seria não tentar recomeçar
Eu despertei pra primavera e pra vida
Mas eu me perco nessas ondas, nesse mar

Trago no peito uma doçura adormecida
Curiosidade me despertam eles agora
E vou ficar aqui na areia encolhida
Vendo mais um dar-me as costas e ir-se embora

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Ah, as rosas!

A vida de cada um é como uma rosa, descobri. É que nem mesmo a delicadeza das pétalas aveludadas impede a existência dos ásperos espinhos. E viver, se fôssemos traduzir em metáfora, pode-se dizer que seja bem assim: ter um toque suave e um perfume compensador para desfrutar; mas para chegar a isso, é preciso que os dedos acariciem o caule espinhoso.
Depois dessa descoberta, gosto de rosas ainda mais. Não só pela beleza ou pelos significados que elas têm e toda gente já conhece, mas pela representação tímida que elas são da realidade.
Se ao final de cada caminho tortuoso eu encontrasse uma rosa, queria andar por várias estradas difíceis. Digo isso porque dentre as muitas coisas de que gosto em minha existência, gosto de rosas. E gosto delas até em seus espinhos. E gosto de rosas até quando elas não vêm.

"Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!"

(Machado de Assis)



domingo, 27 de novembro de 2011

Imprevisto

É curioso o que a vida fez comigo. Ou seria o que eu permiti que ele me fizesse? Hoje eu tenho muitas vezes um discurso de velha rabugenta, escondido atrás de uma conversa de "estou melhor sozinha", que nem sempre é convincente. E não consegue convencer porque não consegue ser verdade. Fui tão pisada que virei uma ferida aberta, ambulante, vagando numa estrada sem fim.
Vivo oscilando entre "Deus me livre" e "quem me dera" um amor. Não sei mais onde pode estar a verdadeira felicidade: se no riso forçado e sozinho, ou na lágrima sofrida de um coração preenchido. Fico boiando em minha superficialidade, buscando respostas que o mundo se recusa a me dar.
Adquiri fobia de mergulho. E não é de mergulho no mar. É de mergulho metafórico, mergulho na vida... Mergulho numa nova história que possa vir para mim. Quero adiantar os passos antes de andá-los, quero garantias de felicidade. Esqueci que se arriscar é dom da vida, e que só se vê o futuro quando ele sofre a metamorfose e vira presente.
Eu que nunca tive afinidade com os números, dei de querer calcular os riscos de apostar em alguém. Se jogo vicia, e o amor é um jogo, por que tenho medo de encarar outra partida depois de ter perdido algumas fichas? Vivo de bipolaridade: medo e vontade. Se existe alguém que eu era, e outro alguém em quem me tornei, quem realmente eu sou? Não posso deixar o receio responder por mim.
Estou maquiando com um sorriso triste a dor de ser sozinha. Preciso que alguém cause confusão e baderna nessa organização superficial que montei para mim. Falo tanto em amor próprio, que esqueço que o desejo de me apaixonar por alguém é uma forma de me cuidar também. Tenho que tirar do papel a ideia de que se arriscar é necessário e é tão vital quanto oxigênio. Eu preciso fazer e ir. E eu vou. Em busca de algo ou alguém que não se possa prever.





segunda-feira, 31 de outubro de 2011

No fogo, o gelo vai queimar

A vida nos prega peças. Quando tudo já parecia racional, e seco, e vazio de novo, me aparece um feixe de luz. As pessoas cintilam outra vez aos meus olhos. Ou melhor, ele tem cintilado.
Já senti frio na barriga quando me apaixonei. Mas agora, mesmo sem me considerar apaixonada, ouso comparar sensações. Sim, porque pela primeira vez na vida, senti um frio no coração. E ironicamente isso aconteceu quando o vi.
Tentei estudar o que esse fênomeno pode significar. Encontrei minha resposta. Meu coração, preso num cubo de gelo, tornou-se brasa novamente quando eu vi aquele rapaz. E estando de volta ao meu interior, o fogo evidenciou o frio, pela arte do contraste.
Eu até havia me acostumado com a natureza gélida envolvendo esse tal músculo, que me bate do lado esquerdo do peito. Nem percebia mais como era baixa a temperatura dentro de mim. Foi por isso que meu tórax gelou quando meus olhos tocaram a imagem daquele moço.

Não sei o que a vida tem reservado para mim nas próximas curvas. Mas estou começando a achar que viver ainda é belo. E que a magia é infinita e eterna, apesar das frustrações.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Diálogo

Ao invés de ficar aí sentada nesse ônibus que não vai para lugar nenhum, olhando para o tempo e reconstruindo a imagem desse garoto, você deveria conversar comigo. Tem algumas coisas a respeito dos seus sentimentos que eu quero saber. Como por exemplo: o que você teme?
Não me adianta vir com esse papo de que foi muito ferida e agora age com cautela. Conheço sua história de sofrimentos e seu drama mexicano já perdeu a graça. Sua postura de vítima já não convence e penso que a vida está lhe cobrando atitude. Do que você tem medo, afinal? De um "não"? Um "não", a essa altura do campeonato seria só mais um. Tenho pensado que é um possível "sim" que lhe amedronta.
Sejamos coerentes e sensatos: com "nãos" você já está acostumada. Mas um "sim", você sabe, mudaria a sua vida por completo. E não é de hoje que você diz que tem medo de coisas novas. Você acomodou esse seu coração aí no peito, assumiu a postura de mal amada e se acostumou em ser assim. No fundo, o que você tem mesmo é medo que alguém lhe queira. Mas já passou da hora de deixar esse temor para trás.
Já pensou que ele pode ser aquele por quem você tem esperado? Sim, pode não ser também. Mas que eu saiba, você já não tem o que perder. Ele pode ser a sua manhã de primavera. Por que não experimenta sair do seu inverno (ou inferno) e ir até ele? Não, a felicidade não dói. Tente, se jogue, abrace. A vida está passando e você já está atrasada, parada nessa estação. Que tal correr para o próximo trem?



• Nota da autora: para entender melhor o conceito da metáfora "manhã de primavera", ler o texto Apenas um conto sobre a manhã

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Ressaca


Agora acho que sei porque desenvolvi um fascínio tão grande por "Dom Casmurro" nos últimos meses. Ouso até a dizer que entendo um pouco do ciúme doentio de Bentinho. Não o aprovo, mas digamos que hoje o condene menos. Pode ser devastador o poder dos olhos de alguém, sobretudo os de uma cigana oblíqua e dissimulada.
No romance de Machado de Assis, aquele que sempre mereceu minhas atenções e meus suspiros foi Escobar. Capitu não me atraía, por ser uma mulher. E em Bentinho, sempre vi um louco. Mas Escobar não... Sempre o imaginei bonito, forte, inteligente e ao contrário da maioria dos personagens, normal. Sempre fui apaixonada por Ezequiel Escobar e naquela história, ele me bastava. Até que conheci, na vida real, a versão masculina de Capitu. Era a peça que faltava, e agora tudo parecia fazer um pouco mais de sentido.
A maior arma que ele tinha eram os olhos. Não eram a voz grave, a fala mansa, ou os carinhos gratuitos. Eram os olhos: aquele par de olhos extremamente perturbador, que parecia me sugar a alma se ficasse exposta a ele por muito tempo. Me lembro bem a primeira vez que o meu olhar mergulhou no dele. Eu quase me afoguei. Naquele mesmo instante entendi o significado da expressão "olhos de ressaca", e toda a força que ela continha.
Não, eu não estava (e nem nunca estaria) apaixonada por ele. Mas também não posso dizer que estivesse indiferente. Não sei explicar. Eu era refém daqueles olhos, que me mantinham em cativeiro sem cobrar resgate. Eu estava aprisionada, e só... Porque olhos de ressaca existem. E não pertencem a Capitu. Só que o mesmo mar que traz as coisas, também as leva. E ele se foi do mesmo jeito que veio: numa onda.


domingo, 16 de outubro de 2011

Saudade

Caí doente pela primeira vez, depois que ela se foi. Isso só fez com que eu sentisse ainda mais a sua falta. Não que eu não receba cuidados e carinhos hoje em dia, mas é que tudo fica mais doce e claro com a palavra "mãe" no meio.
Sinto falta de tê-la à minha cabeceira, velando meu sono. Sinto falta de acordar de madrugada com o toque suave de suas mãos, conferindo se ainda tenho febre. Sinto falta daquele semblante preocupado, telefonando para todos os médicos possíveis e imagináveis, buscando uma forma de me aliviar dores, temores, tremores, mal-estares. Não, eu nunca gostei de vê-la aflita. Mas hoje sei que naquele olhar de aflição estava estampado um olhar de amor.
Sentir saudade é assim mesmo. Ela aperta a gente de um jeito, que você fica querendo reviver até o que nem foi tão bom assim. Porque o principal não são as lágrimas, nem os risos. O que importa é a presença de quem se fez ausente. E o maior desafio é aprender a viver sem. Só o que me consola é pensar que de onde estiver, ela deve ser como meu anjo da guarda.


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A criança que todo adulto é

A gente cresce. O mundo cobra maturidade, e de alguma forma, a gente tem que aprender a crescer, se refazer, se recriar. E muitas vezes se esquece da infância. É criado a mau costume de pensar que ser adulto é sinônimo de ser forte; e ser criança é o símbolo da fragilidade.
Crescer além de inevitável, é necessário. Mas, de vez em quando, o que nos impede de encarar a vida com os olhos de uma criança? O máximo que pode acontecer é o céu ser mais azul, os dias mais coloridos, os risos mais doces e os problemas menores. O segredo do sucesso não é só a madureza, tem que saber ponderar as coisas.
O mundo não estará perdido se formos maduros na hora fazer nossas escolhas, e crianças para acreditar no brilho de uma estrela. Ser criança é sonhar, e sonho nunca morre. Hoje sei que a gente cresce, mas ser criança é para sempre. O nosso eu criança fica por toda a nossa existência dentro de nós, e não devemos sufocá-lo jamais. Ele tem de ser nosso adubo, nossa força e nossa coragem, para que saiamos sempre vencedores do desafio diário que é viver.
Ser criança não é uma fase da vida: é a dissolução de todos os mistérios doloridos que a vida possa ter.

domingo, 9 de outubro de 2011

Só, fria

Perdição. Era assim que ela o definia em pensamento. Ele era um desvio no caminho que ela meticulosamente havia traçado para si. Ele cheirava a veneno e tinha jeito de pecado. Ele era o crime que ela queria cometer.
Não bastasse ser bonito, era também sedutor. Exercia o mesmo ofício de seu grande amor de adolescência, que já havia ficado para trás. E seu ex-amor virou passado por não ter maturidade. Mas aquele rapaz, de agora, tinha ares de experiência que lhe potencializavam a sedução. Talvez ele fosse o seu amor antigo com mais 17 anos no RG e 25 na cabeça.
Mas não era amor. Fazia as mãos gelarem, o coração pulsar com força, o sangue esquentar e corar seu rosto. E também não era paixão. Não era sentimento, era carne; não era emocional, era físico.
No entanto, é válido lembrar que ela foi ferida e agora tem medo de se apaixonar pela própria sombra. Ela poderia perfeitamente o estar amando, mas deve ter bloqueado o sentimentalismo todo da coisa: escolheu somente o êxtase. Amor é doce, e doce demais dá sede. E é aí que a gente chora para beber das próprias lágrimas. Além disso, açúcar em excesso termina por amargar na boca. Ela, que já tinha provado da sede e do amargor, escolhia só o cítrico, o veneno... E gostava. E não sofria. Só e fria.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Não procura-se, para encontrar

Acho que acabo de descobrir uma grande coisa... O amor é mestre na arte de fazer pirraça. Ele não gosta de ser encontrado. A maior satisfação que ele tem é nos ver tropeçar nele de forma inesperada, e dar com a cara no chão mesmo.
Desde que tirei Ninguém da minha vida, procuro timidamente alguém que me preencha o vazio que ficou. Nada. Todas as minhas quase-buscas foram em vão. E, acredite em mim, não é porque tenho buscado por aí alguém que se assemelhe ao meu grande amor de adolescência. Nunca na vida quis tanto alguém diferente. Mas é que quando se trata de amor, quem procura nunca acha. Nunca mesmo.
Finalmente aprendi a dinâmica do jogo. Só não sei executá-la. Não consigo fingir que meu vazio não existe, fechar os olhos, cruzar os braços e seguir. Não sou muito boa de encenação quando se trata de vida real. Eu podia fingir que não estou olhando, para que o amor se achegasse à mim outra vez. Mas ele é tinhoso, e não dá para enganá-lo. Sinto falta do tempo em que o achava belo. Agora nem me lembro mais do seu rosto.
É triste para uma pessoa romântica por natureza ter de aprender a viver sem amor. É como uma árvore que antigamente florescia bem no centro do jardim, e que secou. Mas onde encontrar adubo que me revigore? Onde encontrar a minha paz?

domingo, 18 de setembro de 2011

Estrada

A gente nunca sabe quando a vida vai dar uma reviravolta. Às vezes, o próximo passo parece tão certo, tão marcado; e na hora de andarmos, simplesmente mudamos a rota.
Eu sou completamente derrotista. Quando algo sai fora do esperado, me vem o desespero. Fico no chão. E nem sempre meus dramas condizem com as minhas catástrofes. Aliás, nem sempre minhas mudanças de caminho são catastróficas. Mas é sempre assim que acontece: sair do roteiro, num primeiro momento, é sempre sinônimo de que deu errado.
Mas quem disse que fugir do script algo negativo? Toda boa história tem um mistério.Não tem graça assistir a um filme que já se sabe o final. Um bom roteirista sabe guardar em segredo o que planeja para seus personagens. Deus é o melhor roteirista do mundo. A nós, cabe atuar. Não no sentido de fingir, mas no sentido de saber viver a vida como espetáculo que ela é. Um bom ator nem sempre prova sua qualidade quando tem o texto na ponta da língua, mas quando se sai bem na arte do improviso.
É essa a essência do jogo: nunca saber qual a próxima cena, a próxima fala, o próximo movimento... Mas estufar o peito e atuar. Ou melhor, viver. Nossa noção de êxito e fracasso é um tanto quanto equivocada. O que muitas vezes vemos como fundo do poço, pode ser na realidade um atalho para o apogeu. Viva, atue, improvise! Clichê, mas verdade: Deus, nosso roteirista, escreve certo por linhas tortas e sempre sabe o que faz.


sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Sem título. Porque não é uma história... Ainda

Ela tinha na voz o mesmo feitiço que a Capitu de Bentinho tinha nos olhos. Ele já tinha percebido. E aprovado. O que ele não sabia era que ela já o imaginava. E sonhava com ele, e o levava no pensamento.
Afinal, onde ele havia se escondido até então? Bastou que os olhos dela o avistassem, e ele passou a morar em sua cabeça. Foi um breve momento, numa tarde qualquer... E a noite já rendeu um sonho onde ele estava.
Não, ela não estava apaixonada. Não mais acreditava em amor à primeira vista: com a maturidade que a vida lhe dera, aprendera que amor não se inventa, mas se constrói na convivência. Cotidiano, entre os dois, ainda não existia. Ela sabia o nome dele, desconfiava que ele soubesse o dela. Foram alguns olhares (de cobiça) trocados. E só. E um "só" que foi o bastante para ela sonhar.
Não era desejo, amor, paixão. Não era nada. Era só o medo que ela tinha de amar... E o anseio que ela tinha por esse mesmo sentimento paradoxal: cruel e bondoso, revigorante e assassino, monstruoso e belo. As múltiplas faces do amor a confundiram pela vida afora e o medo não a deixava nem em sonho.
Tinha sonhado com ele, sim. Estava em seu colo, quase que entregue... Mas quando ele lhe pedia um beijo, ela negava. Era o medo que não descansava, nem quando ela dormia. Mas mesmo medrosa ela sentia falta de ter em quem pensar, de ter com quem sonhar, de ter por quem pulsar. E sabe lá Deus (ou não) o motivo, o alvo da vez era aquele rapaz. Que passaria pela sua vida, sem deixar rastro. Ou quem sabe, ficaria.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Mais uma primavera da borboleta

Mais um ciclo se fecha para dar lugar a outro. É reveillon em mim! Pensando nas perdas e ganhos pela estrada da vida, inevitavelmente me peguei desvendando alguns mistérios contidos em minha existência.
O caminho até aqui foi longo e espero que a estrada à minha frente seja ainda mais. Perdi alguns pedaços, ganhei outros tantos. Mas aprendi que na vida a ordem é nunca parar, é sempre procurar evoluir, aprender, mudar... Porque a vida se movimenta constantemente, e se você fica parado, certamente é deixado pela estrada.
Nos últimos anos aprendi que a morada que Deus almeja não é feita de paredes e concreto, mas de carne e sangue: meu coração. Aprendi que enquanto tantos me apontam o dedo na cara, Ele me estende a mão, o olhar, o amor... Aprendi que nada consegue ter aproveitamento positivo quando violenta a verdade de quem somos e do que nos faz feliz. Aprendi que ser bom é fundamental. Aprendi que não preciso ser santa para que Deus me ame, e que a santidade não é um lugar; mas que ao meu jeito devo buscá-la.
Aprendi que hipocrisia é mais praticada do que se pensa, e que as máscaras caem mais rápido do que se supõe. Aprendi que com o tempo a gente sempre percebe onde estão os verdadeiros amigos, e procura uma distância desesperada dos falsos. Aprendi a tomar por irmãos os amigos certos. Aprendi a não me lamentar quando alguém se afasta, mas a sentir alívio por Deus tirar possíveis males de minha frente.
Aprendi a seguir o meu caminho sem medo, porque nas palavras encontro meu lar. E se não for por meio delas, a felicidade profissional jamais virá até mim. Aprendi que o que é bom na gente, a gente externa... Ouvi a música em mim e a externei. Encontrei nela um atalho, um refúgio. Um amor maior do que eu esperava.
Aprendi que amor sempre dói, mas não vale a pena se for dor. Aprendi também que tem amor que não se esquece, mas se engaveta para deixar nosso amor-próprio aparecer. Aprendi que o amor da minha vida nunca vai ser um cara, porque esse posto na realidade é de uma mulher... Que não por acaso, me deu à luz. Aprendi que ela se foi, porque sua hora era chegada, mas as coisas boas que ela me deixou a fazem sempre presente.
Aprendi com uma cantora que tristeza passa, sim. E que a vida é mesmo agora... Essa mesma cantora, além dos ensinamentos, me deu algo mais de precioso: amigos. Amigos de longe, de não tão longe. Mas que no fim das contas, são todos de perto... Não há proximidade maior do que morar no coração da gente.
Obrigada, Deus, por mais uma primavera. Obrigada porque a vida é uma escola... E mesmo certamente não sendo a primeira da turma, tento vencer as dificuldades de aprendizado e fazer direitinho minha lição de casa. E que venham outras primaveras... Várias, e esbanjando cada vez mais beleza e perfume. E por enquanto... Olhemos as flores de agora. E colhamos mais tarde os frutos de um novo tempo, que sempre vem. E eu vou seguir cantando e borboleteando no meu jardim. Construindo novos casulos, me refazendo e depois saindo deles... Sempre como uma borboleta com novas cores. Mas ainda assim sendo a mesma borboleta. Feliz ano novo para mim. E para os meus.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A Bela... Que tinha medo de adormecer

Mais do que poder, ela sabia devia. Sim, devia, porque era chegado o tempo. O tão assombroso e esperado tempo de ir além. Talvez fosse iminente agora, porque ela não tinha nem mesmo desculpa para fugir. Tinha batendo no peito um coração medroso, mas assim ele sempre seria, mesmo que se passassem mil anos. Tinha chegado a hora de não mais esperar.
E não pense que é tarefa fácil ficar em carne viva, e depois seguir. Por muitos anos ela cultivou a sua dor e agora que já não doía, um vazio tinha ficado. E é bom que se saiba que todo vazio tem a mania de querer ser preenchido a todo custo. O dela já estava rouco de tanto gritar por preenchimento. E ela já estava cansada de ser tão diferente de todo mundo que lhe cercava. Uma flor numa redoma.
Mas em meio a todo esse turbilhão, ainda existia o medo. O medo de ter perdido um jeito que nunca havia adquirido. O medo de que esperassem demais dela e ela não conseguisse. O medo de se machucar e se doer de novo. Como uma criança que tem pesadelo e depois teme pegar no sono outra vez. Mas ela estava exausta e precisava dormir. E finalmente sonhar de novo, quem sabe...

domingo, 14 de agosto de 2011

"Omnia vincit amor"

Crescemos. A verdade reina absoluta e a ficha uma hora cai. Olhar e ver uma linha do tempo cada vez mais extensa atrás de nós causa espanto, nos deixa boquiabertas ao ver os vários anos que se passaram. Diante de tamanha admiração, até perdemos o foco. Ora, o impressionante mesmo não é o tempo ter passado, mas sim termos passado juntas pelo tempo... Por tanto tempo!
Quem, conhecendo nossa história, ainda terá a ousadia de dizer que as diferenças podem pôr fim às coisas? Nossa relação com o "diferente" tem de ser uma troca de respeito: respeite as desigualdades e elas sorrirão para você. No nosso caso, por exemplo, se fóssemos parecidas, tenho certeza de que não mais estaríamos juntas. Precisávamos ser completamente diferentes, ter personalidades extremamente distintas para que uma tivesse o que acrescentar à outra. Num grupo de pessoas iguais, seus integrantes não têm nada a oferecer, nada a aprender, nada a ensinar, nada a desvendar. Não ganham, não perdem, param no tempo porque falta areia na ampulheta. Mas nós somos diferentes, e prosseguimos.
Crescemos juntas, mudamos juntas, mas sempre temos algo a trocar e por isso sempre há um novo punhado de areia a ser colocado em nossa ampulheta. Assim, o tempo não nos pega, não nos afasta, não nos retém. Conseguimos a proeza de ver na diferença mais do que um pequeno detalhe: ao invés de empecilho, ela nos é adubo, força, sustento, alicerce. Somos a consequência do milagre de saber que o que realmente importa vem de dentro.
E que continuemos nos desdobrando neste milagre, fazendo com que ele se multiplique e jamais se gaste. Sei que crescemos, mas não percamos jamais o brilho infantil no olhar. Só se cresce bem, quando se conserva um lado criança dentro de nós. É o nosso "pequeno eu" que sustenta nosso "eu adulto", quando necessário. E é firmes e fortes que poderemos continuar sendo sustentáculos umas para as outras, pela vida afora.
Mais uma etapa das grandes é chegada... Entremos nela com coragem, cabeça erguida e riso nos lábios. Crescer é difícil. Mas viver não teria graça se fosse fácil. Agora nos juntemos para ver a lua, porque ela está a caminho e já é um muito amado marco em nossa linha do tempo. É, meninas... Nós crescemos.




• Para:
Priscila Garcia Ruzzante Marins
Thaís Moura
Bárbara Tavares
Sarah Farias
Eu amo muito vocês! ♥
♪ "Eu estou ao seu lado, no mesmo compasso, vendo a lua aparecer. Ela me disse que passou pra ver se era amor que nascia aqui..." ♫ - E era amor. Sempre foi! "Omnia vincit amor" = "O amor vence tudo": até o tempo... E a distância.

domingo, 7 de agosto de 2011

Ao maior amor da minha vida

Se de onde você está ainda pode ouvir meu coração, o ouça dizendo quanta falta você me faz. Até as alegrias se tornam mais difíceis com sua ausência em volta. Mas não fique triste por mim, tenho sobrevivido como posso. Não trago mais no peito aquela tristeza, nem a revolta do tempo de sua partida, mas a saudade também pode fazer dor na gente vez em quando.
Só o que foi realmente bom pode fazer falta depois que termina... Ou se vai, como no seu caso. Não ter mais o seu colo para chorar nos momentos de dor é ruim, mas não ter o seu riso mais sincero nas minhas vitórias, consegue ser pior. De todas as pessoas do mundo, a que mais gostaria de ter ao meu lado em minhas conquistas era você: para multiplicarmos alegrias só para que elas pudessem ser dividas entre nós duas, sem se gastarem.
Nenhuma manifestação de orgulho substitui a que eu sei que você manifestaria. Nenhum abraço de congratulação me dá a força para continuar que o seu me daria. Se é verdade o que me disse, que "nunca se vai para sempre quando se deixa saudade", você não foi. Mas a razão me trai e chama meu coração de bobo, quando teimo em lhe sentir por perto. Não sei para você aí, mas aqui às vezes não é nada fácil, mãe.
Acho que agora você entende o caminho que escolhi. Espero que de onde está possa me ver, e sentir orgulho. E espero mais ainda que esse longe se faça perto, e você seja meu anjo da guarda. Não importa o meu ofício... Independente da minha profissão, quando eu "crescer", o que quero mesmo é ser como você.
Ah, e não esqueça de tomar um pedaço dessa minha alegria. Sabe como é, se ela também não for sua, não tem muita valia para mim. E por favor, lembre-se que você é aquela a quem eu mais amo. Eu lhe amei até seu coração parar de bater... E mesmo depois disso continuo amando. Cada dia mais.
Você sempre vai ser a minha fortaleza... E o meu amor.
Um beijo repleto de saudade e o abraço mais apertado,
da sua filha que lhe tem "sempre-em-mente". ♥

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Inevitavelmente (me) amar

E eu finalmente estou aqui, neste ponto. Me refazer deixou de ser opção e agora é iminência. Não há mais para onde eu possa cair, cheguei ao fundo do poço. Não foi fácil chegar até aqui, como também uma recuperação plena não se dará facilmente; mas alguma coisa eu tenho de fazer. A vida exige de nós movimento constante, e não se pode parar.
Até então, vivi um movimento depreciativo. Ao invés de evoluir, me afundava cada vez mais. Tudo em nome de um amor cruel que hoje vejo que não tinha muita valia. Não importa o que tenha passado pela minha cabeça naquele tempo, eu só me doava sem me importar. Se não recebesse nada em troca, teria sido bom. Para isso, eu estava perfeitamente preparada. O problema é que ao invés do nada, me veio o chute, o desdém, a humilhação. Ainda aguentei por um tempo tão grande, que pode-se dizer ter sido algo sobre-humano. Sofri resignadamente e não sei exatamente qual o objetivo disso, mas me fez crescer. A dor apesar de ruim, tem esse poder de nos fazer amadurecer na marra. É o outro lado da moeda que vale a pena conhecer.
Claro que ninguém vai sair por aí procurando uma dor para sentir, só porque precisa virar gente grande do dia para a noite. Eu não procurei a minha dor, mas quando ela apareceu, a abracei com força e demorei a soltar. Só soltei mesmo quando não tinha outro jeito. De tanto me maltratar, não havia mais mal que pudesse fazer comigo mesma e até a inércia já tinha findado. O único caminho a seguir, era o caminho inverso. Comecei a me amar por falta de opção, porque precisava me mexer para me manter viva (a velha história da movimentação que a vida nos cobra).
É verdade quando dizem que é perdendo as coisas que se dá mais valor a elas. Eu precisei me perder para me dar o valor que me cabe. Agora estou focada em curar meu mal, me reinventar e ser feliz de novo. Eu quero recomeçar, virar a página de vez e escrever uma história nova. A vida não pára e exige que façamos o mesmo, porque ela não costuma esperar por nós. E aí, como dizia Caio Fernando Abreu, "Dá vontade de amar. De amar de um jeito 'certo', que a gente não tem a menor ideia de qual poderia ser, se é que existe um." - No momento, esse é o sinônimo de "nascer de novo" para mim. Amar de verdade, de forma saudável: primeiro Deus, depois eu, e por fim aquele que tiver de ser, e que virá... Ou que já veio.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Eu, carrasco de mim

Acho que descobri porque sempre estive só. Pensei por muito tempo que havia algo errado comigo: me achava feia, desengonçada, tentava ver em mim mesma uma aberração. Hoje sei que o problema existe, mas ao contrário do que pensava, ele se dá de dentro para fora. A minha solidão é consequência de minha incapacidade de olhar ao meu redor. Sempre estive ocupada demais amando quem não me amava, morrendo por quem sequer sabia de minha existência. E quando sabia, simplesmente não se importava.
Vivi fechada num mundo onde idealizava paixões perfeitas, e me mantinha cega para as realidades que me pudessem cercar. Sempre fui de dizer não sem pensar duas vezes, sem ao menos considerar os pedidos que me eram feitos. - "Eu gosto de outro rapaz" - É incrível como a resposta era sempre essa. Dessa forma, segui como portadora de um coração vazio, mas sempre fechado, trancado pelo lado de dentro. Tentei algumas vezes arrumar a casa, deixar tudo em ordem para o caso de alguém novo aparecer. Respirei fundo, me fiz de forte. Não adiantou muita coisa, sabe? A teoria é muito mais fácil que a prática.Tanto tempo sem ter alguém, me faz viver hoje em dilema. Quero me apaixonar, quero viver um grande amor ainda... Mas me acomodei em ser só e tenho medo de abrir espaço.
De todos os amores não-correspondidos aos quais unilateralmente me dediquei, um merece ser citado. Foi o último: depois dele, nada voltou a ser como antes. Acho que amei até me gastar inteira e agora não consigo mais amar alguém de novo. Foi um trauma dos grandes. O desprezo que ele me tinha fez com que eu perdesse um pouco do meu amor próprio. E curiosamente, quanto mais pisada eu era, mais apaixonada eu parecia ficar. Não existe explicação racional para isso, a não ser tratar esse sentimento nefasto como doença. Não sei em que ponto da história me perdi, mas já não posso ser igual.

Um belo dia, ele se foi. Nossas vidas nunca estiveram entrelaçadas de fato, mas nossas rotinas caminhavam lado a lado. Eu não me importava que ele não me correspondesse, porque amava sem impor condições. Ele achava graça nisso; e não era uma graça inocente, mas uma graça cheia de maldade e desdém. Eu permiti que ele me humilhasse sempre um pouco mais, e seguia com um grau elevado de resignação, como se não tivesse outra escolha. Mas no fundo eu sempre tive, e sepre soube. Mas insitia em fechar os olhos para outras possibilidades. Eu, que nunca o possuí, morria de medo de perdê-lo.
Foram feridas grandes e que demoraram a cicatrizar. Agora sou um bicho amuado, acuado e com medo. Qualquer ensaio de aproximação e eu já vejo a sombra dele: penso que todos me olham daquela forma e todos me desprezam como ele fez. Sei que estou errada, mas as coisas não são simples como parecem. Eu o expulsei da minha vida, mas ele fez questão de deixar um outro carrasco em seu lugar: eu mesma.
Certa vez me disseram que parar no tempo seria injusto com quem pudesse me estar esperando. Mas nem sei se alguém me espera. Se esse alguém existe, por Deus, que venha até mim! Não tenho forças de caminhar até você. Do mesmo jeito que nos encontramos na vida, também nos perdemos. E eu estou perdida, no breu, sem saber seguir viagem. Mais que de uma bússola, creio que eu precise de um amor que me abra caminhos e me mude o rumo. Que segure minhas mãos e me impeça de continuar açoitando a mim mesma.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O que vem depois do fim?

Faço parte do grupo que levanta a bandeira de que amor não morre. Relacionamentos acabam, mas o amor não. Penso que a gente pode se enganar. Achar que ama e mais para frente ver que não era bem assim. Ou até amar mesmo, e as coisas mudarem. O amor não termina, mas se transforma. Se um dia amou alguém, você vai sentir algo por aquela pessoa pelo resto de sua vida... Ainda que seja desprezo ou ódio.
Mas o fato é que apaixonados, costumamos fazer apostas altas demais e na vida nem sempre se ganha. É bastante comum quebrarmos a cara. Quando sofremos, achamos que não existe no mundo dor maior que a nossa. Mas tem muita gente por aí sofrendo do mesmo mal. A única ceteza da vida, além da morte, é que pelo menos uma vez você vá sofrer por amor.
Uma pessoa quando está amando fala demais, acha que pode prever o futuro e que nunca vai se separar de quem ama. A verdade é que no fundo, nunca se sabe. A vida está em constante movimento e em qualquer esquina as coisas podem mudar de figura. E surpreendentemente, o final pode chegar um dia. O verbo "acabar", para ser empregado com plenitude, precisa passar por algumas fases. A primeira delas (e a mais difícil) é admitir que passou. Como se contradizer, se assumir um mentiroso? Como pôr fim em algo que possa ter envolvido promessas de eternidade? Aprenda: não é porque você quis e gritou aos sete ventos que seria para sempre, que vai ser assim. Desejos passam, palavras também. Amar é tão bom, faz tão bem, que muitas vezes teimamos em não deixar a pessoa amada ir, por puro apego. Quando é assim, por mais que adiemos o rompimento, uma hora ele chega. Apego, comodidade... Nada disso é suficiente para manter alguém ao nosso lado.
Quando o fim de um relacionamento chega, vivemos um verdadeiro luto, com suas respectivas etapas: raiva, negação, negociação, depressão e por fim, aceitação.
Entre mortos e feridos, de alguma forma, todos terminam se salvando. Ao contrário do que se pensa, quando se escreve uma história com alguém, faz-se isso usando lápis, não caneta. O tempo apaga, se assim quisermos... Pode demorar, mas ele tem esse poder. No entanto, se escrevemos com muita força, por mais que se apague, marcas hão de ficar no papel. E quanto a isso, o tempo nada pode fazer. Mas as marcas não precisam ser ruins. Não é porque acabou que precisamos olhar com desprezo para o nosso passado. Afinal, tudo termina por contribuir na construção de quem somos. E depois do fim... Bom, sempre existe um novo começo.




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terça-feira, 12 de julho de 2011

Apenas um conto sobre a manhã

E foi assim que ele me salvou a vida. A tempestade já havia passado e eu teimava em ficar trancada no quarto, com medo da dor. Me mantinha imersa na escuridão daquele cômodo de meu ser, por não acreditar que depois de tanto vento, raio e chuva, o sol pudesse aparecer novamente. Meus olhos já tinham se desacostumado com qualquer tipo de luz quando ele chegou, me encandeando. Entrou devagar, mas era como se o próprio sol estivesse me adentrando a alma, tamanha era a luz que emanava dele. O seu sorriso, mesmo quando dado em silêncio, me causava um êxtase tão profundo, que eu chegava a ouvir o tilintar dos sinos angelicais. E ele trazia o céu nos olhos. Era como uma manhã de primavera encarnada, feita gente, e que viera visitar-me em meu vácuo sombrio. Tinha todos os aspectos agradáveis que essas manhãs costumam ter: as cores, o som e o perfume.
Quando nada mais se vê além do breu, demora-se para acostumar-se com a presença da luz. O encantamento que eu estava vivendo me assustava, e por vezes pensei em mandá-lo afastar-se de mim. Cada minuto em que eu hesitava em expulsá-lo era um passo que dava para mais perto dele. Eu bem quis mandá-lo embora. Mas meu querer de tê-lo próximo era maior. O seu rosto era como que uma arte esculpida com esmero pelo mais talentoso de todos os artesãos. Tudo em mim gritava de curiosidade por ele. Minhas mãos queriam provar-lhe o toque, dar-me a certeza de que aquele rapaz dos olhos de céu, que estava diante de mim, era mesmo real. Eu tinha medo que tocá-lo o fizesse sumir, me mostrando que ele era mais uma das ilusões de minha mente cansada e infeliz. Temia que minha imaginação fosse a artesã responsável por criá-lo.
Controlei todos os meus impulsos: parei de caminhar até ele e me contentei somente em olhá-lo. Não o tocaria, para que ele não se desfizesse entre meus dedos. Mas quando comecei a nutrir esse medo de que ele fosse uma miragem, eu já estava perto demais. Perto o bastante para que o nosso toque acontecesse não pelas minhas mãos, mas pelas dele. Depois de me tocar e provar que era real e que existia, ele então mostrou-me uma outra realidade. Passei tanto tempo sem nem espiar pela janela, com medo dos trovões... Mas aquele rapaz arrastou-me para fora dali com traumas, medos e tudo.
E foi então que vi que a bonança que eu duvidava que chegasse, não só tinha chegado, como tinha se estabelecido perfeitamente ali: o lado de fora do meu breu, mas que ainda era dentro de mim. Aquele ambiente perfeito com suas promessas de felicidade também era eu. A minha cura sempre esteve em meu interior, mas eu tinha ficado presa a um só pedacinho de minha alma, justamente o pedaço mais distante, que a luz não alcançava.
Tendo por plano de fundo o céu verdadeiro e o sol que voltara, aqueles olhos celestes ainda me fitavam... E com expectativas. Agora que ele tinha cumprido a sua missão e me mostrado a liberdade, poderia partir. Mas esperava que eu o pedisse para ficar. Como ele não queria ir e eu não queria que ele fosse, ficamos juntos. Tão juntos, que as flores que haviam no meu jardim e no dele se misturaram e se confundiram. Éramos um só: ele uma extensão de mim; eu uma extensão dele. Entreguei a ele meu coração, meu corpo, tudo. Somos agora uma só carne e um só ser.
Minha entrega pode se confundir com gratidão. Afinal, foi ele que me arrancou de dentro do meu próprio porão, onde eu era refém de mim. Mas na verdade foi uma paixão enorme e ardente que me tomou, e dia após dia foi vivendo sua metamorfose e se tornando o amor mais forte que já vi.
Aquela manhã primaveril feita homem me ensinou que toda tempestade passa, por mais forte que seja. E que a vida não só continua, como se renova e faz uso da água da chuva para regar nosso jardim. Depois de sofrer, nosso solo costuma estar mais nutrido e nossa alma tende a ficar mais florida.
Assim sendo, agora somos dois em um, ou vice-versa. E vamos prosseguir assim até que chova de novo. E além.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Love and freedom

E nós terminamos nos enganando pela vida afora. Sempre tem alguma coisa que presumimos ser amor, mas na realidade não é. De repente você até sente algo por aquela pessoa mesmo, mas amor não é qualquer coisa, não. Amor é grande demais para se resumir a determinadas sensações.
Tem gente que espera um frio na barriga para dizer que ama. Confesso que já fui dessas, mas a vida me ensinou diferente. O amor é sóbrio e grandioso demais para se manifestar somente em sensações tipicamente jovens e desesperadas.
E quando é que sabemos ser amor? Quando nos faz bem, quando preserva nosso amor-próprio, quando nos dá escolhas, quando nos arranca sorrisos nas pequenas coisas, quando briga mas perdoa, quando proteje, quando acolhe, quando se multiplica só para poder continuar dividindo.
É comum cairmos no erro de achar que amor é quando não se pode viver sem a pessoa. Isso é muito bonito nos livros, nos filmes, nas novelas e nas canções. A realidade funciona de uma outra forma: duas vidas não têm como ser interdependentes. Nós sabemos que amamos quando a presença daquela pessoal é totalmente dispensável, quando somos capazes de viver sem ela. Sem ela, continuaremos vivendo, e sabemos bem disso. E assim, poderíamos mandá-la para longe, mas não mandamos porque não queremos.
O amor é mais racional do que se pensa, e não faz de nós seres nulos, sem vontade própria. É na vontade consciente de querer alguém por perto que o amor se manifesta. Só sabemos amar alguém, quando antes aprendemos a nos amar. Essa coisa avassaladora demais, que nos arrebata e nos prende a uma pessoa é qualquer coisa que não amor. É que amor não aprisiona, não. Amor liberta. Ele nos deixa livres para, do nosso próprio querer, unirmo-nos a quem quer que seja. Amor de verdade não faz mal, e por isso na prática, "morrer de amor" não existe. O que existe é viver dele.



• Agradecimentos a , por uma conversa produtiva na madrugada.
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A gente espera do mundo. O mundo espera de nós...

Vez em quando ela nos falta. Quase sempre, para alguns. Às vezes penso que o mistério da paciência inabalável só foi mesmo revelado a Jó. Ninguém é cem por cento paciente e equilibrado sempre. E como tem muito homem que sai explodindo por aí, não se pode culpar a tpm das mulheres.
Existem pessoas e situações que nos tiram do sério. Não há serenidade que persista diante de certas coisas. O que não se pode é sair por aí descontando em quem não tem nada a ver com nossas frustrações. Até para se perder a linha, na vida é preciso cautela.
Mas que ninguém se engane pensando que guardar tudo para si, engolir o grito e o choro é a solução. Porque não é. Sentimentos foram feitos para serem externados e merecem ser postos para fora. Se os sufocamos e os prendemos dentro de nós, eles nos fazem mal. Assim surgem mágoas incuráveis, dores insuportáveis, e enfermidades não só da alma, como do corpo.
Na grande maioria dos conflitos que vivemos enquanto seres humanos, o segredo está no meio termo. Nem sempre é fácil encontrá-lo, mas é ele que costuma colocar as coisas em seu devido lugar. A explosão deve ser encarada como a última opção: a comunicação ainda é o melhor caminho. Se algo lhe incomoda, fale. Procure um jeito delicado para falar, mas não se cale de forma alguma. Evite todas aquelas coisas ruins de que falei. Não as queira guardadas em você.
Aconteça o que acontecer, se empenhe em não explodir. Mas nem sempre se consegue segurar a barra. Já explodiu? Respire fundo, tenha calma e se recomponha. Isso não é o fim do mundo, mas a prova de que você é humano. Pedidos de desculpas às vezes se fazem necessários após uma explosão, não tenha vergonha de usá-los. E aquele a quem a paciência nunca tenha faltado, por favor, atire a primeira pedra.



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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Cuidado: tímido!

As mãos suam, o coração quer sair pela boca, todos os músculos tremem, a voz falha, a garganta seca, o chão some, o rosto cora e se aquece. A gente quer se esconder, mas não pode, tem que enfrentar. E como sofre um tímido quando está sob pressão!
O mínimo de exposição já é suficiente para deixar uma pessoa tímida em pânico. Não é nada, não. É só o medo de não ser aceito. Num mundo onde gente cruel desfila comumente por aí, todos buscam a aceitação. Mas o receio surge, porque nunca se sabe onde pode ter um vilão.
A gente até tenta estufar o peito, bater o pé e se dizer auto-confiante, despreocupado com o que os outros pensam. Mas a verdade é que uma hora ou outra, todo mundo se preocupa. É hipocrisia dizer que não. Quem é que gosta de ser "desgostado"? Claro que se alguém não gosta da gente, isso não deve ser o fim do mundo... Mas ninguém gosta de não agradar. O problema é que os tímidos têm medo demais de errar... E quando o medo impera, a gente termina errando mesmo. Mas não é fácil deixar as preocupações irem e simplesmente fazer o que der na telha, ser você mesmo, na íntegra.
A maior dificuldade em falar de timidez é não poder classificar os tímidos como "certos" ou "errados", e encontrar um meio termo. É bem verdade que quando a timidez é excessiva, a pessoa pode perder um bocado e se prejudicar seriamente. Mas garanto que até a criatura humana mais extrovertida da face da Terra teve pelo menos uma crise de timidez na vida. Talvez não de uma forma tão perceptível, mas já teve.
Expor a sua assência ao mundo é um ato assustador e de extrema responsabilidade. Mostrar-se dá medo de não ser acolhido. Diante disso, tem gente que trava um pouco, se fecha... São os ditos tímidos. Quem sou eu para julgá-los? Eu mesma faço parte do grupo deles. Quanto mais personalidade, verdade e peculiaridades em geral a gente tem para mostrar aos outros, é maior o medo que dá. Por isso, que todos saibam: os tímidos, na sua maioria, são os que mais têm para externar, acrescentar ao mundo. Isso tanto em quantidade, como em intensidade e qualidade! Nunca subestime uma pessoa tímida e tenha paciência com ela. Talvez seja só um empurrãozinho que lhe falte. E aí, de repente, você pode se surpreender...



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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Estranho jeito de amar

Todos precisamos de alguém que nos mostre o que queremos ser, nos aponte caminhos e direções, nos levante quando caímos e nos mergulhe numa alegria sem fim. Por maiores que sejam o amor e a dedicação de nossos familiares e amigos, nem sempre são suficientes. Precisamos de um mito. Alguém que, aos nossos olhos, faça quase o impossível mas ainda assim seja "gente como a gente". Alguém que nos faça sonhar e acreditar que sonho não morre.
Não importa quão infantil possa parecer nossa admiração por um ídolo. Isso faz parte da vida e é algo necessário. As virtudes de alguém que admiramos nos fazem querer melhorar a cada dia. Não é nada pessoal contra nossos pais, tios, irmãos mais velhos ou outras pessoas importantes que nos cercam... É que vendo de longe, nossa vista parece mais clara, por isso esse nosso desejo de nos espelharmos em alguém não tão próximo a nós.
Mas é claro que, como já dizia a minha avó, tudo demais é demasia. Casos de fanastismo excessivo e alienação são mais comuns por aí do que deveriam. Infelizmente, as pessoas confundem ser fã com doença... Quando na realidade, se bem vivido, o sentimento de um fã por um ídolo pode representar cura. Pode ser a cura de lágrimas, de um momento ruim. Um pequeno gesto de um ídolo pode nos garantir o sorriso por dias. E ídolo só é ídolo quando tem algo de bom a nos ensinar, mesmo que à distância. Fugindo a essa regra, a coisa toda perde o sentido.
Não é bobo ser fã de alguém. Bobo é não sonhar... O amor só engrandece a gente. E quem disse que fã não ama? Ama sim! E só a nível de informação: amor de fã, assim como os outros amores, é construído dia após dia. E não brota do chão, do nada... Ele é concebido em nós e vai crescendo, se fortalecendo, tomando forma até um dia em que não nos dá outra saída que não externá-lo. Assim como todo amor, você tem que primeiro sentir para depois falar. Um "eu te amo" vazio além de ser desrespeitoso, é facilmente reconhecido e faz você perder toda a sua credibilidade como ser humano: todo fã de verdade abomina tietagem vã e tem instinto protetor com relação ao ídolo.
Não imagino a vida de ninguém sem um ídolo. Porque todo mundo, em algum momento, já foi fã de alguém. Ainda que de forma discreta e calada, todos já nutriram por alguma pessoa uma admiração tão sublime a ponto de se sentirem mais leves e felizes. Vou parar de gastar o meu latim tentando explicar o que é ser fã e o que um ídolo representa. Basta a gente saber que é amor. E amor de verdade, até onde eu sei, quanto menos explicável, maior em dimensão. Tudo que posso dizer é que faz bem gostar assim, mesmo que de longe. Porque é de graça e à toa, esse estranho jeito de amar.




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terça-feira, 28 de junho de 2011

Perigosamente indispensável

Só sei que ele é tempero, arde e queima. O seu grande segredo está na dosagem: se for exagerada, pode pôr tudo a perder. Mas não há relacionamento que sobreviva sem ele, que é considerado sinônimo de "importar-se" com o outro. E por que não dizer que o ciúme cega? Ele tem o poder de insuflar a raiva naquele que o sentir. Mas como não o sentir?
Quando se ama, o ciume é iminente. Por mais que se diga, re-diga e se afirme incontáveis vezes que amor não significa posse, é impossível separar estes dois conceitos. Mesmo que você seja um ser que resignado, sofre a dor de um amor não-correspondido, ainda assim o ciúme se faz presente. E não adianta dizer que não. Você pode ter um saldo negativo de esperança e o peito cheio de certeza de que a pessoa que você ama nunca será sua, mas só a hipótese de vê-la com outro alguém já lhe fará sofrer um pouco mais. E isso só reforça a minha tese de que o ciúme é um tempero... E dos picantes! Amar sem ser amado é como ter uma ferida aberta: jogue pimenta nela e o ferimento lhe arderá muito mais.
Ainda fazendo uso da culinária como metáfora, tenho que lembrar o óbvio: comida sem tempero não tem sabor. Amor sem gosto não é amor. Não que o amor só seja provado através do ciúme, mas se ele não nos afetar o paladar, de nada vale. Amor quando chega, geralmente faz bagunça nos nossos dias e vira nossa vida do avesso, e é mesmo essa a função que ele tem! Ele não pode ser nem morno, quanto mais sem tempero!
O difícil mesmo é saber dosar. O que não se pode, de jeito nenhum, é deixar-se dominar pelo cíume. É você que tem que dominá-lo! Por mais árduo que isso seja, mantenha sua cabeça no lugar e funcionando: em certas ocasiões, mesmo tratando-se de paixão, você tem mais é que usá-la. Ciúme não é falta de confiança na pessoa amada, é só medo de perdê-la - e só quem ama teme perder. Mas é preciso que se fique atento, porque esse mesmo medo é que pode nos levar à perda: é feito um diabinho afoito e espaçoso que sussura em nossos ouvidos, e se o dermos muita abertura, ele se põe entre nós e a pessoa que amamos. E aí de tanto temer, nós terminamos perdendo mesmo.
Vou citar alguns versos do poeta J.G. de Araújo Jorge, que com certeza sabia mais da vida e tinha maior afinidade com as palavras do que eu:
"Dosado, o ciúme é tempero
que à afeição dá mais sabor...
Mas, levado ao exagero,
é o pior veneno do amor...

(...)
Perigoso, onipotente,
verdadeiro ditador...
o ciúme é um cego, doente,
ou um doente, cego de amor?"

Diante disso, concluo que o ciúme é comum a todos aqueles que amam. Ainda que se defina o amor como um sentimento nobre, que consiste na doação incondicional e desinteressada em recompensas; na prática, quem ama inevitavelmente quer o amado para si, ainda que de uma forma calada e sutil. Quem quer para si, quer por inteiro, sem dividir. E não querer dividir, já é uma forma de, mesmo sem motivo aparente, sentir ciúme. No fim das contas, ele é indispensável... Mas use-o com moderação.




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