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quarta-feira, 27 de abril de 2011

"Por ser amor, invade... E fim."


- A gente precisa aprender a gostar de quem gosta da gente, sabia? - Disse ele num tom tão suave, que sua voz era quase um suspiro.
- Eu estou buscando aprender. E tenho conseguido... Cada dia mais. - Disse ela cheia de esperança e fé naquele sentimento que vinha crescendo em seu peito.
- Mas e o que resta dele em você?
- Está-se indo, fique tranquilo.
Ele tinha ódio mortal por aquele que um dia despedaçara o coração dela e a fizera tão triste, insegura e desacreditada de si. Quando a encontrou, ela estava ferida demais e ele se propôs a ajudá-la. Foi uma tarefa difícil, ela era doce, terna e ainda que não acreditasse, uma menina-mulher linda. Apaixonar-se por ela foi algo iminente para ele, que hoje já se encontrava perdido de paixão. Ela, por sua vez, estava sempre na defensiva, com medo de se machucar. Ergueu a sua volta um muro espesso, para que ninguém lhe tocasse a alma. Mas ele a amava demais e estava disposto a insistir, derrubar-lhe os muros, tocar-lhe e fazer-lhe feliz. E finalmente estava conseguindo.
- Agora entende o que lhe disse? O mal que ele lhe fez sempre teve cura. Você só precisava se deixar curar.
- Então você foi meu curandeiro salvador! - Disse ela sorrindo, e deixando-o enrubescido.
Depois de um silêncio profundo, ela expôs um pensamento que havia acabado de conceber, e que era a chave de todo o mistério do amor que inundou sua existência.
- Eu o amei demais, você sabe. Sofri como uma condenada ao inferno e isso deixa marcas. Estou quase curada, mas tenho cicatrizes. Às vezes elas inflamam.
- Estarei por perto para lhe suturar sempre que isso acontecer... E aí tudo vai perdendo a frequência, até que não vai doer mais. vão ser cicatrizes e só... Eu prometo. - Depois de dizer isso, ele beijou-a nos cabelos.
- Eu queria ter te amado sempre. Ter amado só você desde que nasci... Eu teria sido tão mais feliz!
- Odeio as coisas pelas quais você passou, porque te fizeram sofrer. Mas você cresceu com elas... É forçoso reconhecer, mas talvez tenha sido melhor assim. Você hoje é uma mulher!
- Uma mulher... - Ela estava tendo um estalo, que fazia com que todas as peças se encaixassem - E você é um homem... Ele não passa de um moleque e você é um homem. E é você que me ama e foi a você que eu aprendi a amar aos pouquinhos. Amor, quando construído dia após dia, é muito mais bonito!
E no fim das contas, tinha valido a pena sofrer daquele jeito por aquele que não passava de um moleque e que nunca a havia amado. Foi isso que fez dela uma mulher. Ela precisou ser pisada pelo "menino da sua vida" para crescer, aprender um monte de coisas e estar pronta para o "homem de sua vida". Aquilo tudo que ela, em sua meninice, achava que era amor, não passava de uma espécie de teste, treino ou estágio... Ali, naquele instante, ela percebeu que o amor de verdade ela só teve quando aquele homem derrubou o último tijolo dos muros que lhe cercavam, e a tocou a alma, e a amou, e lutou por ela. Agora ela sabia que amava... Verdadeiramente, enfim.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Pseudo

E aí de repente eu me pego vendo e revendo uma foto sua, te levando no pensamento, querendo estar perto: sempre perto e sempre mais. E reparando mais um pouquinho, vejo que o excesso de sua presença em minha mente é crescente, e que tenho sonhado com você com uma frequência assustadora e tenho gostado disso. E o pior de tudo: me peguei algumas vezes, de um jeito bem involuntário, te chamando de "meu amor" em pensamento. Eu estou mesmo perdida... Será possível que vai começar tudo de novo?
Estou cada vez mais convencida de que não sei me apaixonar. Faço sempre tudo errado: amo os caras errados, de um jeito errado, na hora errada... E expresso todos esses erros de um jeito também errado. Cada paixão que tive guardava dentro de si uma loucura bem peculiar. A primeira era tão platônica, que na oportunidade que tive de estar nos braços de meu príncipe, ele virou um sapo. A segunda foi ainda mais platônica que a primeira... Foi uma tentativa não de esquecer a paixão anterior, mas de fazer as pessoas acreditarem que tinha passado mesmo. Foi um trunfo, uma invenção da minha cabeça mirabolante, nada mais que a materialização de um argumento. Não durou muita coisa... A paixão que se seguiu foi a verdadeira perdição da minha vida. Menos platônica, nada inventada, totalmente involuntária e completamente insana. Era amor demais pra ocupar um coração só. Sofri alguns transtornos cardiológicos por conta disso... Transtornos que me renderam quase-desmaios, idas ao hospital, remédios controlados, essas coisas. Eu fiquei completamente enlouquecida por aquele que era só um menino imaturo. Foram anos a fio de insanidade. Me feri um bocado e cheguei agonizante onde estou agora.
E aí eu fui me levantando, me refazendo. Arranjei algumas pseudo-paqueras, outras pseudo-paixões e umas pseudo-quaisquer-coisas que me fizessem distante daquele amor insano. Eram só minhas pequenas pseudo-distrações, e eu precisava desesperadamente delas para me manter ocupada... E de pé. E quando cheguei diante de você, tinha acabado de decretar minha alta, mas ainda preciso de observações médicas, se é que você me entende. Estou até bem, mas não cem por cento. Minha recuperação foi demorada e sofrida demais, chegar até aqui não foi tarefa fácil. Cair de novo seria um atentado à minha tão batalhada recuperação. Seria como pegar gripe em cima de gripe: aparentemente bobagem, mas pode levar o sujeito a uma pneumonia... E depois, quem sabe a algo ainda mais grave, como uma tuberculose. E pode ser fatal. Estou curada, mas meus anticorpos emocionais não teriam forças para aguentar outra guerra daquelas de novo.
Mas o grande problema também é que não tenho auto-controle dessas coisas, e acho que ninguém o tenha. E mesmo se a gente pudesse controlar, eu certamente permaneceria sem conseguir fazê-lo. É bem típico de mim esse tipo de incapacidade que leva a uma auto-destruição.
E por essa minha mania de ser auto-destrutiva, sua existência dentro de mim já está ultrapassando certos limites. Você está tomando forma, espaço e tempo em demasia. Já está grandinho até, para ser classificado como mais uma pseudo-qualquer-coisa. A sua importância está crescendo e também esse meu desejo de não te perder nunca de vista e respirar o mesmo ar que o seu. Mas você está a muitos anos-luz de distância de mim, e essa história toda que tem martelado na minha cabeça não faz sentido nenhum. Não daria certo jamais, não tem como dar... E isso é tão óbvio que me deixa indignada demais comigo mesma, porque mesmo sabendo que claramente não tem como, eu não consigo parar! Mas eu tenho que conseguir... Era pra ser só mais uma pseudo, mas eu estou te levando adiante... E por que? Nem eu mesma sei. Eu só sei que não tenho controle sobre isso e fico morrendo de raiva, porque melhor pra mim seria que eu tivesse. Deus, que seja mais uma pseudo. Que isso acabe logo. Precisa ser só mais uma pseudo. Tem que ser pseudo e tem que passar.

sábado, 16 de abril de 2011

Amor na íntegra


E no final das contas, era mesmo carinho. Um carinho enorme, diga-se de passagem. Ele não a olhava com um sentimento lascivo qualquer... Ele dirigia a ela olhares de ternura. E isso vale um bocado.
Ela que tinha um sério problema com sua auto-estima, entristeceu-se um pouco quando os sentimentos dele se tornaram mais claros. Ora, ela queria mesmo é ser desejada ardentemente, de um jeito voluptuoso e pecaminoso aos montes. Corava em frente ao espelho quando se surpreendia com pensamentos dessa natureza. Mas é que ela acreditava que ser desejada era a única forma de não se sentir uma aberração.
Mas e quem foi que disse que carinho não é uma forma de desejar também? Ela era tolinha e demorou para cair em si... Mas as coisas podem funcionar de um jeito muito mais bonitinho se a gente mudar de ângulo. Com ela, ele sabia que não era só mais uma pegação. Com ela, ele podia exercer sua verdadeira pesonalidade: ser ele mesmo sem medo nenhum. O prazer que ele sentia era em estar com ela, e não no sexo. Com ela, ele queria estar junto, viver junto, queria protegê-la do mundo inteiro, se possível. Ela era a maior preciosidade que ele tinha. Isso nada tinha a ver com prevaricos, e era justamente isso que fazia da história deles, algo especial de fato.
Não existe nada mais belo do que um homem dedicar-se a uma mulher sobretudo pelo que vê dentro dela. A forma mais correta de apaixonar-se é se encantar com o interior da pessoa primeiro, para depois vir aquela paixão avassaladora e aquele desejo todo como consequência. Quando ela perceber que um beijo verdadeiramente carinhoso na testa vale mais que uns amassos, vai ser capaz de reconhecer que a vida lhe deu a mais sublime das coisas: um amor de verdade, puro, na íntegra... Coisa que não se encontra facilmente por aí.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Contratações


Ah, destino desgraçado... Ah, destino sem jeito! Medonho, doido, sem nexo. Alguém lá em cima só podia estar brincando comigo. Naquele dia, justo naquele dia, as duas bocas que eu mais desejava estavam mergulhadas num mesmo contexto, dividindo o mesmo cenário. E isso tudo pra quê mesmo? Certamente pra me deixar ainda mais confusa. Eu que nem sabia quem queria ou se queria!
A única certeza que eu tinha, era aquela terceira boca. Que era terceira, mas na minha lista de prioridades, amor, paixão, desejo e fogo, sempre foi e sempre seria a primeira. Mas era fruto proibido: tal qual o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, no meio do Jardim do Éden, a intrigar Adão e Eva. Comer daquele fruto seria minha maior prova de falta de amor próprio, porque com certeza eu morreria. Mas assim como Eva, eu tinha uma serpente a sussurrar em meu pé do ouvido: e minha serpente era linda, singela... Não era má, não. Só completamente insana. Atende pelo nome de "Amor", essa cobra desvairada.
Eu tinha parado de ouvi-la, acatar suas insanidades estava fora de questão. Simplesmente me afastei. Mas isso não significava que o Amor não estivesse ainda ali, me falando suas sandices. E aí, enquanto eu tentava fugir, cruzei olhares com alguns consideráveis rapazes. Eu parecia uma empresa recebendo currículos de possíveis contratados. Já havia descartado um monte, mas aqueles dois currílos me chamavam atenção demais, e eu me recusava a dispensá-los também.
Ué, é só escolher um dos caras e pronto. Simples assim, certo? Errado! Pra começo de história, dar as costas pra qualquer um dos dois seria tarefa bem difícil. Quando se pensa que, obviamente, um dos dois tinha que ser melhor, se cai num equívoco tremendo. Claro, eles são completamente diferentes! É uma competição injusta até. Cada qual é encantador ao seu modo e isso me mata. Com um, talvez até fosse mais fácil de lidar: mas eu não sei se meu intelecto seria capaz de acompanhar a sua inteligência excessiva. O outro é dono de um charme tão intenso, que me deixa enlouquecidamente encantada. Mas já está a alguns muitos patamares acima de mim no que diz respeito a experiência e maturidade. Mesmo que por um milagre ele resolvesse olhar um pouco pra baixo e batesse os olhos em minha humilde pessoa, uma hora me pediria algo que minha consciência não me permite dar pra ninguém... Não no momento.
Ah, tá... Você quer que eu desista dos dois, e pronto? Enlouqueceu? Cara, se eu fizer isso, vou cair na armadilha da terceira boca, entende? Por mais que os outros dois me pareçam impossíveis e criem um super dilema dentro de mim, eles me mantém a mente ocupada. Sim, porque "cabeça vazia é escritório do diabo". Aí já viu, né? Eu preciso desesperadamente deles, sem querer e nem poder precisar. Talvez isso seja até bom. Sabe como é, eu amei tanto aquele terceiro carinha, que pra ocupar os espaços que ele ocupou em mim, só sendo dois mesmo. Mas eu não tenho como contratar os dois, não sou dessas. E ainda que abrisse mão de um deles pra contratar o outro, não importa quem seria escolhido, ambos têm qualidades em demasia. São capacitados em excesso para trabalharem na minha modesta empresinha.
Agora... Voltando ao ponto de onde comecei: foi uma bruta sacanagem do destino colocar os dois de uma vez só na minha frente. Um é intelectual e o outro é lindo e bem sucedido. E acho que nenhum deles veria algo de especial em mim. Preciso de várias doses de amor próprio e auto-confiança, tô sabendo. Mas é que aquele idiota, o do lance da terceira boca, tirou tudo isso de mim. E agora eu sou só uma adolescente em crise, que não sabe mais se amar, que não sabe mais amar ninguém, e que tem medo de tudo. A maré não tá boa, não. O Amor é lindo, mas não é fácil. Muitas vezes ele só complica a vida da gente... Feito rapadura: é doce, mas quem disse que é mole? Mas eu vou tentar, sim, relaxar. E o que tiver de ser, será... E quem sabe ao invés de ficar me preocupando em qual dos dois vou contratar, um deles não me contrate primeiro? É a vida, né? Tudo pode acontecer...

sábado, 9 de abril de 2011

Querer, não é poder perdoar

Eu tinha um perdão preso no peito, louco para sair. Louco para ir até lá e simplesmente perdoá-lo. Apesar de todas as coisas pelas quais ele me fez passar, minha súbita e poderosa vontade de conceder a ele o perdão me sufocava.
Não que eu o quisesse de novo. Não que eu esperasse que depois de todos os desenganos ele resolvesse me fazer sua mulher e me jurasse amor eterno. A essa altura do campeonato, eu nem queria mais isso. Houve um desgaste tão grande, que não valeria mais a pena tentar... Nem mesmo se ele quisesse, nem mesmo se ele mudasse. É como se nossa história toda estivesse bem escrita numa folha linda, com caligrafia perfeita, para ninguém pôr defeito. Mas aí ele veio e amassou tudo, fez bolinha de papel. Mesmo que a gente desamasse, a folha nunca mais vai ser a mesma. O nosso tempo de sermos um só já havia passado, e nós perdemos o trem.
Perdemos o trem e embarcamos na maria fumaça seguinte: em vagões separados. Mas por mais que tenhamos tomado rumos diferentes e hoje não dividamos mais o mesmo ambiente, nossas vidas um dia se tocaram. Ele é orgulhoso e nunca vai admitir isso, mas nossas vidas se tocaram, sim! Só quando estávamos a sós, longe dos possíveis risos e olhares de reprovação direcionados a nós, eu podia ver aquele brilho nos seus olhos. Me lembro do dia em que ele foi meu (ou quase isso)... Não falo de ser meu de uma forma carnal. Falo da (talvez única) vez em que ele viu só a mim, em que me olhou no fundo dos olhos e foi verdadeiramente cordial. Depois de nos despedirmos com um "até amanhã" que era quase uma promessa, eu o vi atravessar a rua sorrindo de orelha a orelha. Eu sei que naquele momento ele sentiu o mesmo que eu. Naquele momento, nossas vidas, que já vinham se esbarrando, resolveram caminhar um pouco de mãos dadas. E foi um dos instantes mais belos da minha existência. Só que depois elas se desgarraram, e aí veio a estação, o trem perdido... E o resto vocês já sabem.
O fato de querer perdoá-lo poderia ser só mais uma tolice minha. Afinal de contas, foram muitas. Mas dessa vez tenho a consciência tranquila. Hoje eu me gosto muito mais e perdoá-lo não me violentaria em nada. Ao contrário, me tiraria um peso enorme das costas. Viver com mágoa no peito é cansativo e depois de certo tempo, é doloroso, até. Eu tenho muita vontade de, em nome do pouco (mas intenso) bom, colocar uma pedra no ruim. E aí seguir mais leve... E só. Mas não dá para perdoar quem não quer ser perdoado. É como um presente que eu tenho para entregar, que o destinatário o recusou.