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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Silêncio enfarpado

Já vi palavras machucarem muito mais que agressões físicas. É algo até comum. Mas a gente foge do óbvio até na hora de se atingir mutuamente. A gente não se xinga, a gente cala. Seria até uma forma mais decente de se ferir, mas o silêncio pode ser uma farpa cortante capaz de provocar dores e raivas latentes. 
Não sei lidar com a ausência de som. Digo assim mesmo, "ausência de som", porque "silêncio" me pesa até no seu simples pronunciar. Sei que fecho a cara, viro o rosto para o outro lado, finjo que nem vi. Mas não me dê o troco. Eu não sei levar o troco. Egoísmo? Talvez... Não interessa o que é, interessa é que não suporto silêncio. Grite comigo, me destrate, mas não me jogue na cara essa falta de acordes, de palavras, de ruídos. Se tiver que faltar alguma coisa, que seja o ar durante um beijo. Seja o juízo, na cama. Mas que não nos falte o som, seja ele qual for. Porque eu não suporto o silêncio que a gente faz.




quarta-feira, 3 de abril de 2013

Confesso

Que gosto dos fios de cabelo branco aumentando em quantidade por cima da sua cuca maravilhosa, denunciando os anos que se colocam entre nós. Que gosto de você usando seus óculos de grau, parecendo um intelectual de boa índole - mesmo que você não seja tão bom rapaz assim. Que gosto de você usando seus óculos de sol, destacando seu ar de conquistador. Que gosto das roupas sociais que você usa no trabalho, porque elas só me aumentam a vontade de arrancá-las de você. Que gosto do seu andar levemente estranho, de passos leves e silenciosos como os de um leão caminhando ao encontro da presa. Que sonho - dormindo e acordada - em ser presa do você-caçador. Que gosto do seu jeito quase enigmático de me olhar nos olhos, de baixo para cima, seriamente e em silêncio por uns instantes, sempre sugando um pedaço da minha alma. Que gosto de você sendo o único a rir das minhas piadas sem graça. Que gosto de você sendo o único a não rir das minhas piadas engraçadas. Que gosto de você achando graça nas horas que eu fico moleca demais. Que gosto de como você tenta me irritar. Que gosto de como você consegue. Que gosto de você dando conta das minhas coisas, da minha vida. Que gosto do meu nome na sua boca. Que gosto dos seus dedos encontrando, casualmente, a minha pele. Que gosto do seu jeito cafajeste. Que gosto de olhar para você mais do que para qualquer outra pessoa no mundo. Que gosto do jeito como você morde as paredes da boca. Que gosto de como seus olhos ficam apertados quando você sorri. Que gosto da sua barba rala por fazer. Que gosto quando você me chama de volta para o mundo real, dizendo que eu estou "voando", sem saber que na realidade estava pensando em nós, que não somos. Que gosto do jeito como meus problemas diminuem quando você está por perto. Que gosto de como você tenta amenizar meu nervosismo visível. Que gosto do seu mistério. Que eu gosto de você. Confesso.