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domingo, 5 de maio de 2013

Santa chuva profana


Ela pensava que era como sair de casa num dia ensolarado de verão sem sombrinha, e se deparar com uma passageira chuva torrencial quando se está no meio da rua. Tudo que se tem a fazer é procurar algum abrigo e esperar a chuva passar. "Sempre passa", pensava ela, toda dona de si.
O problema é que, em tempos de aquecimento global, os fenômenos climáticos cada vez mais vêm esquecendo as regras. Agora, dentro dela, também é tempo de um certo tipo de aquecimento, que pode acabar com todas as convenções que ela julga entender sobre céu, inferno, verão, chuva, e principalmente sobre a eterna estiagem que ela determinou para si.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Até que o dia termine


Me deixa te amar sem medo só por hoje. Sem medo e sem me preocupar com tudo aquilo que esfrega os dedos indicadores na nossa cara e diz que "não pode ser". Sem pensar na nossa falta de afinidade abstrata e visual, ignorando o fato de que amanhã é provável que você nem olhe na minha cara. Hoje eu decidi que vou te amar e te querer sem culpa, deixando um pouco fora de foco a verdade absoluta e ingrata de que quem está ao seu lado não sou eu. Resolvi que, nas próximas 24 horas, não vou negar o que sinto: não vou negar a parte que lhe pertence dentro de mim. Até que dê meia-noite, vou manter a guarda abaixada. Até que o próximo dia nasça, eu vou esvaziar minha cabeça e deixar que ela se preencha de você até a borda. Vou abrir o registro que te retém na cisterna e vou deixar você desaguar em mim, me molhar inteira. Vou me permitir, só neste dia presente, ver e rever fotos suas e sorrir bobo com o canto dos lábios. E sorrir largo com os olhos inteiros. Acho que não faz mal se for só por hoje. Amanhã eu recobro o juízo. Sem falta.