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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014




Estou escrevendo porque hoje é nosso aniversário. Não deveria mais dedicar uma palavra sequer a você, mas aniversário é uma data especial. Hoje faz sete anos que fomos. Nem sei se chegamos a ser alguma coisa de verdade, mas hoje faz sete anos que nós acontecemos um para o outro. E não venha esfregar na minha cara que meu amor sempre foi unilateral. Eu não estou falando de amor ainda. Reservei o terceiro parágrafo deste texto para falar dele. Agora eu estou falando de acontecimento. E você sabe que, no começo de tudo, eu aconteci mais em você do que você em mim. Era você que se esticava todo, por trás daquele seu instrumento musical imponente, para ficar à espreita dos meus movimentos. Era carnaval e na forma que vivíamos a folia de momo àquela época, não tínhamos máscaras. Você passou três dias olhando bem fundo, dentro de mim.
Depois da quarta de cinzas, começou o inferno. Eu não tinha como saber, mas alguém começou a escrever nossa história com sangue. E não era seu. Só percebi quando senti a pele rasgada demais e a fraqueza me alcançou, depois de tanto eu me doar sem me dar conta, sem prestar conta, sem emitir boletos bancários e cobranças. Você nunca pagou as prestações do amor que você mesmo encomendou na loja. Ele veio com defeito. Coube a mim pagar a dívida alta pelo produto sem serventia: nosso amor, que mais parecia estaca cravada no meu peito, mas eu me recusava a arrancar, porque se eu a puxasse ia sangrar muito mais.
Eu sempre jurei que ia te amar pra sempre, não importava o que acontecesse, mas quando se tem 14 anos a gente jura amor eterno todo mês. Eu jurei amor eterno todos os dias, por anos a fio, para a mesma pessoa. Você. Não me lembro o dia que deixei de jurar, mas agora percebo que cumpri minha promessa. Você foi o único a quem eu jurei amor eterno. Não posso dizer que te ame hoje em dia, mas depois de você, não teve mais ninguém. Seu lugar em mim ainda é seu, por falta de substituto. Parabéns, você é proprietário de um peito vazio, praticamente uma casa abandonada, onde ninguém ousa passar nem perto da porta. Eu mesma me recuso a me olhar por dentro, para não ter de encarar os nossos fantasmas. Sempre morri de medo de assombração. Nosso amor morto é um espírito que esqueceu de encontrar a luz.
Tenho profundo respeito pela alma atormentada do nosso amor, por isso ainda lembro datas, cheiros, frases e nuances. Você pode ter sido um grande patife, mas o nosso amor, abandonado por você, era bonito e nobre. É pra ele a minha homenagem hoje, dia em que fazemos sete anos. Sete anos de nada.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Diferença rimada


Ele só dorme
Quando eu me levanto
Vinho que sorve
É tinto
O meu é branco
Mas eu não minto
Dele eu gosto tanto
Que até voltei a rimar

A gente é diferente
Mas se agrega
Numa fé cega
De quem sabe amar

E se a gente não se encontrasse
O acaso escrevia uma frase
Eu seria sujeito
Ele predicado
Contendo meu verbo 
E todo meu passado
E todos os tempos que estivessem por vir

E nem importa
Se ele pensa em futebol
Enquanto eu quero ver novela
Fechei a porta
Mas ele é farol
Sua luz entrou pela janela

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

La mia ricchezza distanza


Passei a sentir uma dor emocional latejante desde que você se foi. Ela é intensa, mas suportável. Se não o fosse, eu já teria morrido ou algo assim, dada a constância com que ela me ataca. Sempre que me distraio, lá está ela, querendo me fazer em pedaços e quase conseguindo. Mas não é nada. Repito para mim que deve ser só TPM. Só que desde que você saiu do meu campo de visão, tenho tido pelo menos uma TPM por dia. Mas eu ainda sou uma mulher normal, que menstrua uma vez no mês. Acho. Só não sei se sou uma mulher inteira, depois que me arrancaram dos seus braços e separaram a gente.
Eu sabia que depois de tanto te ter por perto, quando você fosse finalmente embora, eu ia ficar mal acostumada e na merda. Só não estava preparada pra ficar tão na merda assim. Você sabe o que fez comigo? Não sabe. Nunca vai saber. Mas você me fez te amar. Você me fez venerar a sua idiotice. Assim, de graça. Chegou de mansinho e pronto, se proliferou. De grão em grão, virou um milharal no meu terreno. E eu nem ligo pro quão ridículo esse trocadilho possa parecer. Só algo assim é capaz de expressar o quanto essa coisa aqui dentro de mim é totalmente ridícula e sem sentido.
Às vezes eu sinto um frio na barriga enlouquecedor, como se a qualquer momento você fosse dobrar a esquina, tocar minha campainha, sorrir pra mim daquele jeito, se hospedar na minha rotina outra vez. O coração quer pular pela boca, mas no fundo ele sabe que você não vai vir tão cedo. E quando vier, talvez nem lembre de mim. Talvez nem lembre da gente. Mas meu coração é burro e insiste em me esmurrar por dentro do peito, num gesto de extrema alegria, toda vez que sua imagem cruza meu pensamento de forma despretensiosa. É o jeito que ele tem de demonstrar que está guardado dentro da minha caixa torácica por uma questão biológica, mas que o dono dele mesmo é você. Tenho um cãozinho amestrado no peito, que só obedece ao adestrador. 
É torturante. Mas em meio a toda essa agonia, não deixo de reconhecer a doçura que invade de vez em quando. Você vale mais que um jatinho particular, uma conta bancária recheada no exterior, um perfume importado, um anel de brilhantes. Minha maior riqueza sentimental. Sonho acima de qualquer consumo. Você é minha ilha particular, terra firme capaz de impedir que eu, embarcação, naufrague no meio do oceano. O que me dói é que eu não tenho bússola.


domingo, 2 de fevereiro de 2014

Desperta a dor


Dá licença, mundo, hoje eu tô querendo sonhar. Amanheci com preguiça da realidade. Você só tem me dado amarguras e aqui dentro da minha cabeça eu encontrei coisas doces. Encontrei ele, doçura personificada. Já pensou se eu e ele... Não? Eu já. Pera, que já te conto.
Depois de muito olhar em volta, admirando aqueles quadros, que pareceram mais bonitos depois de terem tocado a retina dele, eu me poria de pé. Embriagada pelo cheiro característico daquele lugar - que eu sinto como sendo o cheiro dele, só porque já esteve em suas narinas -, eu iria embora. Eu, guturalmente apaixonada pela minha terra, família e amigos, cultuadora do apego, apego, apego, apego, apego e das raízes fincadas, desapegaria. Desenraizaria. E me fincaria em qualquer terra, daqui ou de marte, desde que ele também estivesse plantado por lá. De vez em quando eu ia chorar de saudade de casa, mas ele me consolaria fazendo amor e tudo ficaria bem.
As tardes de sábado seriam menos enfadonhas, porque depois de algumas horas no quarto dele, namorando, cantando e compondo, a gente iria ao cinema, a um bar, ou aos dois. E a gente falaria de vida e de música e faria mil planos, porque teríamos a vida inteira - com música - pela frente juntos. No bar, com ele sentado ao meu lado, eu pediria ao garçom a cerveja mais gelada pro homem da minha vida (homem-da-minha-vida soa muito melhor que homem-dos-meus-sonhos, título que ele tem atualmente). E nada em volta importaria, porque eu estaria sentada ao lado dele, enchendo de cheiros o seu cangote, inalando o seu perfume, misturado com suor e cerveja: melhor aroma do mundo. Como uma boa filha arretada de Seu Pernambuco, eu ia esquentar ele todo por dentro.
Lá pras tantas a gente sairia dali para o meu apartamento e bêbado, ele ia querer deitar do jeito que tinha chegado. Mas eu ia protestar dizendo que ele tava sujo e eu mesma lhe daria um banho. Faria cafuné na cabeça dele, enrolando meus dedos nos seus cachos, em meio à espuma do shampoo. E eu, que sempre achei lindo homens de cabelo escorridinho, cara lisa e peito também, me pegaria venerando tanto aqueles cachos, pelos e barba, que acharia a vida uma ironia completa.
Do chuveiro, a gente se rebocaria mutuamente pra minha cama. Depois do banho, ele estaria desperto e ia me querer. E como eu quero ele sempre, a todos os instantes, a gente se amaria. Enquanto os raios de sol invadiriam meu quarto, anunciando o amanhecer, ele invadiria meu interior, anunciando o amor. Aí quando o cansaço enfim chegasse, a gente ia dormir abraçado e as batidas do coração dele seriam minha canção de ninar.
Passados um ano ou dois dessa rotina doce, a gente estaria junto duma vez. E nem ia precisar de casamento na igreja ou festa, como eu sempre sonhei, porque ele é o meu sonho maior. Eu não o vejo engomadinho, esperando por mim num altar. Não combina com o jeito despojado que ele tem. E eu não mudaria absolutamente nada nele. 
Mais alguns anos, viriam nossos filhos de cabelos pretos feito ébano. Um menino, uma menina. A gente tatuaria os nomes deles. Ele, com a minha letra e eu, com a dele. Porque eles seriam os melhores presentes que daríamos um ao outro, numa vida toda. 

- Já deu a minha hora de acordar? Não, espera... Só mais cinco minutinhos.



Fuga ao tema



Parei pra reler alguns textos antigos. Todos tão cheios de sentimentos, e tantos viraram piada com o tempo. Isso porque as emoções se perderam nas tantas esquinas da vida. Coisas que perdem sentido, ou simplesmente deixam de ser. Mas o que vale mesmo é que todas foram, um dia. Mesmo que já não sejam. E enquanto foram, todas estavam repletas de muito amor.
Descobri que sempre foi o amor a minha pauta. Meu tema central. Minhas arestas também. Talvez tenha sido ele o causador da discórdia entre mim e a minha profissão. É que não sei escrever sobre qualquer coisa que seja não-amor. Se eu falo sobre como me doeu a perda da minha mãe, é amor óbvio, latejado e escancarado. Mas se eu falo do vento que sopra sem saber para onde está indo, é amor nas entrelinhas. Não me pergunte como, mas é assim que é: sempre amor. Uma regra implícita, que implicitamente eu me recuso a burlar. Desde menina acho uma escória se levar zero numa redação por fuga ao tema. Por isso não fujo, ainda que tema.
Acho graça nessa coisa, de só saber escrever sobre amor. Você pode revirar esse blog, revirar minha vida, meus cadernos, meus diários da adolescência... Tá cheio de amor neles. Em cada frase. Em cada letrinha datilografada ou escrita do meu próprio punho, com minha caligrafia disforme. Até quando eu falo de ódio, estou amando primeiro.
É engraçado que eu, tão analfabeta de amor, tão desamada por repetidas vezes, tão colecionadora de inexperiências e "quases", consiga falar dessa coisa como alguém que realmente tem algo a dizer. Como alguém que entendesse disso. Tenho tantos conselhos escondidos nas mangas, os dou tantas vezes, mas nunca os usei comigo. Falta de chance, ou de sorte.
A questão toda é que eu consegui, daqui deste lugar onde sempre me encontro (pode-se dizer que seja o topo da minha solidão), ter amado tão pouco, mas ter amado demais.