Marcadores

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Finale


Não vai ficar tudo bem. Já está. E não é falso otimismo ou algo que eu digo para você não se sentir de mal. Está tudo bem mesmo. Não ferimos um ao outro e eu acho isso a coisa mais linda do mundo. A serenidade e a leveza com que soubemos adular nossa fogueira de chamas altas é a minha melhor lembrança. Fomos completos enquanto duas pessoas formando uma só coisa. Fomos intensos e calmos, fomos desesperados um pelo outro. Mas fomos simples. Nos respeitamos. Fomos curtos e breves, mas valemos a pena.
Fazia muito tempo que pra mim, essa coisa, o amor, não valia tanto a pena. O fim não é mais um drama. Rola uma lágrima pelo rosto, dá saudade. Mas a vida muda, nós mudamos, e não precisamos fazer disso uma crise. Terminamos, mas cumprimos nossa missão de sermos luz um na vida do outro. Foi tudo delicioso, extasiante, e que bom que nós dois acontecemos. Que bom que nossa história existiu.
Esta é uma sensação nova e estranha, mas absolutamente agradável: pela primeira vez, eu não perdi um amor. Eu ganhei uma história linda pra contar pro resto da vida. Obrigada por esta experiência que eu nunca havia vivido antes. É a primeira vez que há carinho e ternura, depois do amor. Obrigada por curar um coração que andava tão desacreditado da beleza das coisas. Obrigada por me resgatar. Podemos seguir em frente agora, mesmo que separados. E, quem sabe, nossas vidas ainda possam se cruzar por aí.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Manifesto pelo direito de quebrar a cara


Caçula. Menina. Super-protegida. Quando eu era pequena, tinha uma "merió amiga", que além de estudar comigo na escola, era minha vizinha. Duda, o nome dela. Duda era virada. Eu, quietinha até demais. Duda descia as escadas do prédio pulando de dois em dois degraus, às vezes mais. Eu descia devagarzinho, de ladinho, segurando na parede, por falta de corre-mão. Degrau por degrau. Uma velhinha de 95 anos habitando o corpinho de uma menininha de 2 ou 3. Nas aulas de natação, Duda subia o trampolim quando a professora não tava olhando e tchibum na piscina. Eu tinha medo de me livrar das boias na piscina funda, e não desgrudava da borda. Terminei trocando as aulas de natação pela ginástica rítmica: a terra firme era mais segura. Nunca aprendi a nadar, assim como nunca aprendi a andar de bicicleta. E passei boa parte da vida numa bolha que me foi imposta. Mas eu não me queixava. Nunca fui de reclamar das coisas, e como não sabia como era a vida fora daquele sistema protetor, não me fazia falta. Me fazia era fraca, e eu não me dava conta.
Eu tive a melhor mãe do mundo. Mesmo. Não é só questão de força de expressão. Cada um que ache a sua mãe a melhor, eu sei. Mas a minha mãe, meu caro... Você não tá me entendendo. Ela possuía o coração mais bondoso, era a pessoa mais generosa que já conheci. Só que em tudo tem um porém. Hoje, com um pouco mais de idade e um pouco menos de mundo fantástico na cabeça, sei que minha mãe me achava frágil. E eu era, só que me manter guardada debaixo de suas asas, ao contrário do que ela parecia pensar, não era algo que me ajudasse objetivamente. Já viu bicho criado em cativeiro conseguir se virar na mata? Pois é. O pensamento é por aí. 
Por esses dias eu tava pensando nas viagens do colégio que deixei de ir. Minha mãe tinha medo que eu, bobinha, fosse influenciada pelos adolescentes rebeldes que me cercavam e fizesse coisas que não fossem legais. Ela era professora, sabia bem o tipo de marmota que os alunos aprontavam nessas viagens... "Pedagógicas". Mas eu era tão bobinha, mas tão bobinha... Que era boa demais! Ela não podia imaginar, mas o motivo pelo qual ela não me deixava ir, era o mesmo pelo qual deveria me dar permissão. Não importava se ela não estava olhando. Qualquer coisa que eu fizesse, e que a desagradasse, me faria sofrer muito. Eu tinha uma consciência grande demais para uma garota daquela faixa etária e, qualquer passinho fora da linha, essa mesma consciência me pesava toneladas. Na minha vida escolar, por exemplo, eu tirei muita nota vermelha nas matérias de exatas. Era filha de um contador, mas não tinha habilidade com os números. Foram as palavras, herdadas da minha mãe professora de Português, que me fisgaram desde sempre. Eu poderia até começar a falar sobre quão emocionante foi o momento que descobri que sabia ler. Mas esta é uma outra história. Voltemos: os números e minha falta de aptidão para lidar com eles. Eu sofria profundamente pelas minhas notas vermelhas. Mas sofria mesmo. Muito. Me achava uma pessoa horrível. Era uma auto-tortura psicológica meio pesada. Até o dia em que, nos últimos meses de vida escolar, no meio dos meus dramas mexicanos, uma professora me aconselhou: "Pare de se preocupar tanto. A sua vida é tão mais que isso! Tem um mundo lá fora da escola, e quando isso aqui passar, você vai olhar pra trás e vai ver como tudo aqui é tão pequeno". Aquela fala ocasionou o começo do estalo que me levou à estrada que me fez quem eu sou hoje. E eu não parei de andar. Nem pretendo.
Fiz esse arrodeio todo, resgatando dilemas antigos, só para deixar claro que este texto é um manifesto pelo meu direito de quebrar a cara. Nós, pessoas super-protegidas desde o seio materno, desde o seio familiar, escolar e etc, temos o pleno direito de quebrarmos a cara. Sabe quando eu comecei a crescer? Quando dei de cara no chão, sem ninguém para me segurar, me amortecer a queda ou me por de pé outra vez. Foi quando eu aprendi que em alguns momentos a vida dói mesmo, é natural, e que a dor não precisa ser inimiga. Ela é sinal de que se está vivo e, por sua vez, estar vivo é uma vitória imensa, e um ótimo motivo para arranjar um jeito de se levantar. Um brinde ao ato educativo de se quebrar a cara!
Me manifesto pelo meu direito de me arriscar, de querer coisas que têm 50% de chance de dar certo. Brigo pelo meu direito de dobrar aquela esquina sem GPS para me mostrar se aquela rua é uma alameda ou um beco escuro sem saída. Quero viver essa coisa de escolher a avenida principal ou cortar caminho por uma paralela, sem saber qual das duas opções está engarrafada. Engarrafamento às vezes é bom pra gente pensar. Eu vou gritar pelo meu direito de querer o que eu quero hoje, mesmo sabendo que pode dar errado, só porque a probabilidade de dar certo existe, mesmo que ela seja menor. Eu enfrento a Terceira Guerra Mundial pelo direito de ter exatamente os desejos que eu tenho, porque a vida é pelo menos três coisas: minha, única e curta! Curta demais para viver pisando em ovos. Eu quero pisar firme, sem saber se debaixo dos meus pés tem solo fértil ou areia movediça. Eu quero arriscar, porque eu tenho esse direito. Se não rolar, existem outros caminhos, outras quedas, outras lições. Nenhuma escolha é vazia. 
O mundo pode continuar me achando frágil. Mas olha, mundo, vou te falar uma coisa: eu aguento. Eu estou viva, portanto, aguento perfeitamente essa viagem louca, dolorosa, frustrante, excitante e linda que é viver. Porque se eu não aguentasse, eu simplesmente não estaria aqui.


terça-feira, 7 de outubro de 2014

Poeminha fora de hora



Eu vou diminuir
Ir para o norte
Esperar que a sorte
Venha me buscar

Não foi culpa minha
Não foi culpa sua
Não foi culpa nossa
Eu me apaixonar

Te faço um verso
Simples, claro
E atesto
Aqui não era bem o meu lugar

Vou lembrar da gente
Te levar na mente
A pele esquenta
Só de imaginar

Vai e nem comenta
Vê se te orienta
Vou seguir meu prumo
Me jogar no mar