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sexta-feira, 29 de março de 2013

Jornal(cin)ismo

                                      

O que a gente faz quando chega no futuro e ele é bem diferente do que se costumava pensar? Entra eu crise. Eu entrei. Agora é oficial. Estou em crise. Eu nunca esperei disso tudo sombra e água fresca, muito pelo contrário, mas nenhum teste vocacional do ensino médio me disse que seria assim, como é hoje. Eu e minha profissão: casal de noivos em crise às vésperas do casamento, dada a proximidade da minha formatura.
A formatura está chegando e eu não tenho perspectiva profissional nenhuma. As coisas e pessoas desse ofício me cansam e eu já não sei se queria mesmo estar aqui, se sou mesmo boa nas coisas com as quais sempre acreditei ter afinidade. Incerteza define exatamente o momento. O meu melhor nunca parece o bastante. Beleza: pessoas que há quatro anos me diziam para desistir antes de tentar, vocês venceram! A coisa aqui não é boa e eu não quero mais brincar disso. Epa! Mas do que eu quero brincar, então? Embora eu não tenha mais certeza de que este seja mesmo o meu lugar, não consigo me ver em outro. Isso deve dizer alguma coisa.
Talvez eu não seja um peixe fora d'água, só um peixe palhaço trancado num aquário e sonhando com o oceano. Tipo o Nemo. E falando em palhaço, talvez fugir com o circo resolvesse todos os meu problemas. Mas quem foge, foge de alguma coisa. E se, por medo ou comodismo, eu estiver fugindo justamente daquilo que eu deveria correr ao encontro? Tantas perguntas sem resposta...
E eu sei que esse texto nem ao menos parece fazer sentido, mas não era pra fazer mesmo. Eu estou aqui na frente do computador apenas expulsando da mente toda minha confusão. Isso é uma confissão desconexa. Palavras soltas. De uma vida que anda solta e esqueceu qual costumava ser a força de gravidade que a segurava no planeta. Preciso lembrar quanto vale o meu "g" para saber em quantos Newtons se mede a minha foça, e eu sempre detestei física. Acabei no jornalismo por gostar de palavras, claro, mas principalmente por detestar números e coisas relacionadas a eles.
Sempre pensei que na vida não existissem fórmulas prontas, mas hoje a pequena vivência que tive com o meio jornalístico me deixa em dúvida. Embora não devesse ser assim, parece que existe uma incógnita "delta" cujo valor só é revelado aos afortunados e seus QIs. Desse jeito, os bons não conseguem encontrar o valor de "x". Báskhara da deslealdade. Exatidão numa ciência humana? Transgressão de valores. Vejo um ofício vendido, exalando desumanidade. Controvérsia. 
Mas apesar de tudo, existe o lado artístico da coisa. Sempre me perguntei por que artistas de vocação terminavam por ocupar tantas bancas das salas de aula dos cursos de comunicação. Comunicação hoje em dia é arte: teatro. O mundo é uma farsa e o jornalismo - com apoio da publicidade, certamente. Mas falo só do jornalismo, por ter alguma propriedade para - é aquele cara que fica na coxia, abrindo e fechando a cortina, mostrando só o que lhe convém, sustentando o espetáculo. Bravo! Bravíssimo! Onde encontro uma cesta de tomates?
Pensando bem, talvez eu tenha descoberto o "meu" problema. É que não era exatamente aqui onde eu planejava estar. Não foi bem este o ofício que eu escolhi. Enquanto noticiabilidade for medida por cifrões e equações matemáticas determinarem quem entra na festa e quem fica de fora, eu prefiro ficar aqui, na plateia, neste ângulo de onde consigo ver o show ser manipulado no backstage. Eu fico aqui, ainda que impotente, com uma vaia amarga presa na garganta, mas me recuso a ser mais uma puxando cordinha nos bastidores, fazendo do mundo uma marionete.