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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Ressaca


Agora acho que sei porque desenvolvi um fascínio tão grande por "Dom Casmurro" nos últimos meses. Ouso até a dizer que entendo um pouco do ciúme doentio de Bentinho. Não o aprovo, mas digamos que hoje o condene menos. Pode ser devastador o poder dos olhos de alguém, sobretudo os de uma cigana oblíqua e dissimulada.
No romance de Machado de Assis, aquele que sempre mereceu minhas atenções e meus suspiros foi Escobar. Capitu não me atraía, por ser uma mulher. E em Bentinho, sempre vi um louco. Mas Escobar não... Sempre o imaginei bonito, forte, inteligente e ao contrário da maioria dos personagens, normal. Sempre fui apaixonada por Ezequiel Escobar e naquela história, ele me bastava. Até que conheci, na vida real, a versão masculina de Capitu. Era a peça que faltava, e agora tudo parecia fazer um pouco mais de sentido.
A maior arma que ele tinha eram os olhos. Não eram a voz grave, a fala mansa, ou os carinhos gratuitos. Eram os olhos: aquele par de olhos extremamente perturbador, que parecia me sugar a alma se ficasse exposta a ele por muito tempo. Me lembro bem a primeira vez que o meu olhar mergulhou no dele. Eu quase me afoguei. Naquele mesmo instante entendi o significado da expressão "olhos de ressaca", e toda a força que ela continha.
Não, eu não estava (e nem nunca estaria) apaixonada por ele. Mas também não posso dizer que estivesse indiferente. Não sei explicar. Eu era refém daqueles olhos, que me mantinham em cativeiro sem cobrar resgate. Eu estava aprisionada, e só... Porque olhos de ressaca existem. E não pertencem a Capitu. Só que o mesmo mar que traz as coisas, também as leva. E ele se foi do mesmo jeito que veio: numa onda.


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