Marcadores

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Unchartered territory.



"Ela é intrigante como um território não mapeado." - Já tinha ouvido esta frase numa música, e agora alguém falava de mim daquela forma. Um "território não mapeado" traduzia uma das minhas realidades mais fortes. Siginificava para mim que eu era um território desabitado, onde ninguém havia sequer passado antes. Eu era uma imensa terra desconhecida.

Os forasteiros que recebiam convites, geralmente os recusavam. Os que imploravam para conhecer minhas terras, eram barrados na entrada. E assim eu seguia, acostumada a ser grande, desconhecida e só: um "território não mapeado".

Era intrigante até a mim reconhecer que o meu próprio mistério só interessava àqueles que não me interessavam. Os que eu mais desejava que habitassem minhas terras, me olhavam com um certo desdém. O que faltava? Será possível, que um dia, um visitante convidado se permitiria me descobrir?

A verdade é que eu não poderia me descobrir sozinha, e a juda que eu almejva me desprezava, de certa forma. Talvez fosse sina, destino: seguir como uma ilha misteriosa e desconhecida. Separada de tudo e de todos, com promessas de céu que aproximava seres indesejáveis. E promessas de morte que me afastava os desejáveis. Quem notará a tempo e dará o grito de "terra à vista"? Quem há de querer entrar e ser convidado, ao mesmo tempo? Quero poucos, quero um único. E pacientemente esperarei. Esperarei que na areia de minha praia ancore o navio. Aquele navio, trazendo nele o único capaz de me desbravar, conhecer e mapear.


terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Pepper.


Que a beleza seja rara o suficiente a ponto de ser apreciada. Que ela seja motivo de assuntos vários, de união entre dois corpos que não conseguem mais caminhar sozinhos.
Que não seja a beleza dos corpos em primeiro lugar, mas que seja a beleza do amor, da vida... Das pimentas, se preciso. Que saiam sempre palavras agradáveis de seus lábios, cansados de permanecerem em silêncio. Que se rompa a falta de palavras, a falta de fé, a falta de luz entre os dois.
Fale, grite, esbraveje! Mas fale... Quando não souber do que falar, faça como antes, fala-me das pimentas. Eu poderei ouvir. E ouvirei atentamente. E te amarei, como tenho amado.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Mulher.





Eram tantas as coisas a serem discutidas. Eram várias, mas perdemo-nos na beleza. Ficamos ali, a discutí-las em palavras breves, que por mais breves que fossem, pareciam quebrar um silêncio de pouco mais de um ano. E que ano eterno, mergulhado na ausência de palavras!
Trazia comigo um cansaço que não era mais sutil, como antes. Agora, já beirava a exaustão. Um amor unilateral era um fardo pesado demais para se carregar. Mas ao contrário do que se pensa, ombros femininos são mais fortes que ombros de homens. Nós, mulheres, não carregamos pesos materiais, mas nossas almas, carregam pesos insuportáveis às almas masculinas.
Olhando pela janela, perdi meu pensamento na brisa e no céu. Mas cheguei a uma conclusão: mesmo outras mulheres, não seriam capazes de carregar o que venho carregando, nos últimos 1118 dias. Longa jornada! Isso não é pra mim motivo de tristeza, mas de alegria. Reconheço-me forte pra continuar, e querer mais. Reconheço-me mulher, e mais: uma mulher que mais que as outras ama... Verdadeiramente.

Para envaidecer-te.



Ah, se antes eu soubesse
Do que convicta, sei agora
Teria eu, em tempos de outrora
Te dado o poder que tivesses?
Se soubesse, o que eu faria?
Se meu amor te envaidecia
E a mim, condenada, só me restava amar?
Será que antes assim te amaria
Morrendo aos poucos quando sorrias
E vendo em ti meu próprio mar?
Pelos Céus, por Deus, por Tudo!
Meu coração não quer ficar mudo
Põe-se a gritar dentro de mim
Chama-me de louca, de tonta
Diz que não é da minha conta
Se o Bom Deus que quis assim
Deixo com Deus minha oração
Contigo, deixo meu coração
Cumpro a sina: me doo
Recebe meu amor em alto voo
Já não me importa o que poderia ter sido
Seguirás tu, envaidecido.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Vega.

Apenas aceite-o. Aceite e toque-o. Toque nele como se tocasse em mim. Acaricie suas cordas como se fossem meus cabelos. Abrace-o como se me abraçasse pela cintura. Eu poderei sentir. Juro que sim.
Precise dele desesperadamente como preciso eu de ti. Aceite a ele como uma estrela aceita o céu: mergulhando, entregando-se. Brilhando. Aceite-o e brilhe nele. E que o brilho nunca se apague, que permaneça. E então ele será como a lua, que reflete a luz do sol. Ele refletirá a tua luz, e ela permanecerá comigo, ainda que enfraquecida, por ser só reflexo. Será teu brilho, ainda assim. Será mais uma das migalhas de tua existência que deixas cair ao chão, e que eu, com minha insanidade de amar, recolho, faço de tesouro em meus castelos escondidos.
Conceda-o tal honra. Dê-lhe juz ao seu próprio nome: Vega. Estrela. E deixe que através dele, a tua luz brilhe em minha vida.
Dá-me teu reflexo, já que me recusas teu brilho.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Crer, suportar e esperar.


"Tinha o aspecto das naturezas cálidas, e podia-se dizer que, na realidade, resumia todo o amor. Resumia-o sobretudo NAQUELA OCASIÃO, em que exprimia mudamente tudo quanto pode dizer a pupila humana."
Li o trecho de Machado de Assis e lembrei-me de algumas cenas. Como elas pareciam distantes agora! Já eram três anos de história, ou da falta dela. Meu recorde fora quebrado. Nunca havia passando tanto tempo me dedicando a uma só pessoa. E não me encontrava cansada. Ao contrário, queria mais, muito mais! Queria mais tempo para amar. Para sofrer também, de uma vez que o sofrimento me fortalece, edifica.
Três anos de críticas, lágrimas. Mas também de risos, se querem saber. Sou como sou e não busco a compreensão dos outros. Não quero que me entendam, quero que me respeitem, e respeitem também minhas decisões. E minha decisão hoje, é amar. Continuar amando. Já que quem ama tudo desculpa, tudo crê, espera e suporta.
Que venham mais três anos. Que venha a minha vida toda, para ser derrama de amor.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Amar de olhos fechados.

Não importava o que acontecesse. Meus olhos estavam fechados para os erros dele e assim permaneceriam. Fui tantas vezes questionada a respeito disso, que hoje nem me incomodo mais. Eu amo, isso é uma certeza. O perdão é comum do amor. Que posso fazer eu, diante dos erros, senão perdoar, de uma vez que amo?
Se afirmo que amo, é porque amo. Amor é o sentimento mais sério que conheço. E se eu amo, vivo amor com todas as suas leis, não se pode amar pela metade. Amar de uma forma que não seja inteira já é não amar. E eu... Já disse, eu amo.
Involuntariamente perdoo, esqueço. Faço isso porque amo. E gosto de amar. Eu amo e isso basta. Espero silenciosamente a vontade do coração de Deus ser concretizada. Não acredito que Ele queira fazer de mim mais uma na vida do meu amado. Não creio que Ele queira me dar um fruto verde. Porque Ele, que sabe de todas as coisas, me dará um fruto já amadurecido, pronto. É n'Ele em quem confio. É n'Ele em quem espero. É Ele o capaz de fazer as coisas acontecerem. E acontecerão, se forem desejo do coração d'Ele.
E enquanto eu espero, amo. Amo e perdoo. E permaneço de olhos fechados.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

"Antes que eu acorde, seja um pouco mais assim: meu príncipe, meu hóspede, meu homem, meu marido."



Estava deitada em minha cama, lendo. Os meus próprios pensamentos me rodeavam e eu estava mergulhada na história que lia. Submersa, longe demais da superfície. E curiosamente não parecia estar me afogando, curiosamente trazia um coração vibrante no peito. E olhos vibrantes, e tudo em mim vibrava, sorria.
A hipnose era tamanha, que em determinada página, desviei um pouco os olhos do livro, olhei ao meu redor: era o lugar sobre o qual eu estava lendo. Numa pequena poça, vi meu rosto refletido. Mas trazia em meus olhos algo diferente. O mesmo brilho da protagonista do meu livro preferido, talvez. Não me lembrava como havia chegado ali, mas não tinha vontade de sair. A brisa, o verde, o canto dos pássaros, tudo era agradavelmente doce, perfumado, sonoro.
Ouvi o trotar de um cavalo, que se aproximava cada vez mais de mim. Silêncio. As folhas secas denunciavam que o cavaleiro havia pulado da sela, firmado os pés do chão. As folhas secas também anunciaram que ele andava. Em minha direção.
Era ele, o meu amado verdadeiro. Em carne, osso e sorriso. Mas tinha todos os aspectos que me levavam a crer que era um herói. O herói do meu livro. - Como? - Me perguntava por dentro. Mas queria viver as minúcias daquele momento que a vida me proporcionara. Era real demais para ser imaginação.
- Você? - indaguei-o com ar de surpresa.
- Ao que parece, sim. - a voz era mesmo a dele. O sorriso era o mais belo possível, como sempre.
- O que o traz... - não tive tempo de completar a frase.
- O que me traz aqui? - ele previra minha pergunta óbvia. - Você.
- Como eu? Até onde sei, sou insignificante o suficiente para você fingir que não existo. - pareci indignada.
- Está enganada. Eu a amo. - seu rosto era sério, enquanto se aproximava mais de mim, a passos lentos.
- Duvido. Está mentindo.
- Quer provas? - seu tom era de ameaça.
- Não dê mais um passo!
Minha súplica foi inútil. Ele continuou caminhando em minha direção. Fiquei parada, como que congelada. Quando nossos corpos estavam próximos o bastante, ele me beijou. Empurrei-o. Fechei os olhos por um instante, e senti como se aquele momento fosse tudo de que eu precisava, como se fosse o resumo de minha vida. Beijei-o com desespero, com aflição, com necessidade de tê-lo ao meu lado, para sempre.
- Estamos sonhando. - ele me sorriu.
- Certamente... - suspirei.
- Falo sério, estamos sonhando. Nos encontramos em nossos sonhos. Quando acordarmos, talvez nem lembremos. Ou talvez pensemos que sonhamos individualmente, não acreditaremos que estivemos juntos de verdade.
- Mas se é sonho, não estamos mesmo juntos. - me entristeci.
Ele me beijou mais uma vez.
- Você pode sentir isso?
- Com todo o meu ser. - respondi.
- É o que importa. Estamos juntos.
- E quando seremos um só, de fato? Sem precisar dormir para que aconteça? Tenho esperado por você durante longos três anos... - meu ar era suplicante.
- Três anos? Parece bastante tempo. Quem espera três anos, consegue esperar muito mais. Continue sendo paciente.
- Mas quando? - me afligi.
- Até minha fraqueza humana se desvincular de meus medos mais profundos. Sou um covarde, quando acordado.
- O que você teme, se sabe que o correspondo?
- Temo não ser bom o bastante pra você, te amar menos do que merece, te amar menos do que ama a mim. - ele me pareceu tristonho.
- Mas você é bom o bastante. Deus o escolheu pra mim!
- Já disse que acordado, sou um covarde.
- Quando, então? - disse eu, entristecida.
- Em breve. - ele encostou minha cabeça em seu peito.
Enquanto sentia o seu perfume e seu calor, uma brisa gostosa soprava em meu rosto. Abri os olhos, e estava em meu quarto, o livro aberto em cima de mim. A brisa era o vento que entrava pela minha janela. - Ele voltou a ser um covarde agora. - Pensei. Eu havia sonhado.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Voltar...


Sim, eu voltaria. Se pudesse, voltaria. Voltaria pra muito antes do que qualquer pessoa pudesse imaginar que eu gostaria de voltar.
Queria encontrar-me, mais uma vez, dentro dela. Fazer dela minha moradia mais quente, mais segura, mais amável. Dessa vez, não me apressaria para mudar-me aos oito meses, esperaria os nove, até seus últimos segundos. Teria em nossos corações um só, em nossas existências, uma só razão de ser. Teria nela meu ar, meu pulsar. Vida.
Saíria de dentro dela aos prantos, por me despedir de seu calor. Mas veria as lágrimas cessarem quando em seu colo fosse cuidadosamente, amorosamente embalada. Sentiria seu cheiro como quem sente o perfume de uma flor rara.
Teria mais 17 anos. Teria um pouco mais de tudo. Faria tudo de novo: bilhetes na infância, poemas, cantigas e afagos na adolescência. Queria um pouco mais dela, como queria! Mais 17 anos, ao menos. Embora em meu peito gritasse a vontade de querer mais, a vida inteira.
Não posso. O regresso é impossível, mas ainda assim desejável. Desesperadamente eu queria voltar. Queria, mas não posso.
Se pudesse, tenha a certeza de que eu voltaria. Sim, eu voltaria.