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domingo, 7 de fevereiro de 2010

"Antes que eu acorde, seja um pouco mais assim: meu príncipe, meu hóspede, meu homem, meu marido."



Estava deitada em minha cama, lendo. Os meus próprios pensamentos me rodeavam e eu estava mergulhada na história que lia. Submersa, longe demais da superfície. E curiosamente não parecia estar me afogando, curiosamente trazia um coração vibrante no peito. E olhos vibrantes, e tudo em mim vibrava, sorria.
A hipnose era tamanha, que em determinada página, desviei um pouco os olhos do livro, olhei ao meu redor: era o lugar sobre o qual eu estava lendo. Numa pequena poça, vi meu rosto refletido. Mas trazia em meus olhos algo diferente. O mesmo brilho da protagonista do meu livro preferido, talvez. Não me lembrava como havia chegado ali, mas não tinha vontade de sair. A brisa, o verde, o canto dos pássaros, tudo era agradavelmente doce, perfumado, sonoro.
Ouvi o trotar de um cavalo, que se aproximava cada vez mais de mim. Silêncio. As folhas secas denunciavam que o cavaleiro havia pulado da sela, firmado os pés do chão. As folhas secas também anunciaram que ele andava. Em minha direção.
Era ele, o meu amado verdadeiro. Em carne, osso e sorriso. Mas tinha todos os aspectos que me levavam a crer que era um herói. O herói do meu livro. - Como? - Me perguntava por dentro. Mas queria viver as minúcias daquele momento que a vida me proporcionara. Era real demais para ser imaginação.
- Você? - indaguei-o com ar de surpresa.
- Ao que parece, sim. - a voz era mesmo a dele. O sorriso era o mais belo possível, como sempre.
- O que o traz... - não tive tempo de completar a frase.
- O que me traz aqui? - ele previra minha pergunta óbvia. - Você.
- Como eu? Até onde sei, sou insignificante o suficiente para você fingir que não existo. - pareci indignada.
- Está enganada. Eu a amo. - seu rosto era sério, enquanto se aproximava mais de mim, a passos lentos.
- Duvido. Está mentindo.
- Quer provas? - seu tom era de ameaça.
- Não dê mais um passo!
Minha súplica foi inútil. Ele continuou caminhando em minha direção. Fiquei parada, como que congelada. Quando nossos corpos estavam próximos o bastante, ele me beijou. Empurrei-o. Fechei os olhos por um instante, e senti como se aquele momento fosse tudo de que eu precisava, como se fosse o resumo de minha vida. Beijei-o com desespero, com aflição, com necessidade de tê-lo ao meu lado, para sempre.
- Estamos sonhando. - ele me sorriu.
- Certamente... - suspirei.
- Falo sério, estamos sonhando. Nos encontramos em nossos sonhos. Quando acordarmos, talvez nem lembremos. Ou talvez pensemos que sonhamos individualmente, não acreditaremos que estivemos juntos de verdade.
- Mas se é sonho, não estamos mesmo juntos. - me entristeci.
Ele me beijou mais uma vez.
- Você pode sentir isso?
- Com todo o meu ser. - respondi.
- É o que importa. Estamos juntos.
- E quando seremos um só, de fato? Sem precisar dormir para que aconteça? Tenho esperado por você durante longos três anos... - meu ar era suplicante.
- Três anos? Parece bastante tempo. Quem espera três anos, consegue esperar muito mais. Continue sendo paciente.
- Mas quando? - me afligi.
- Até minha fraqueza humana se desvincular de meus medos mais profundos. Sou um covarde, quando acordado.
- O que você teme, se sabe que o correspondo?
- Temo não ser bom o bastante pra você, te amar menos do que merece, te amar menos do que ama a mim. - ele me pareceu tristonho.
- Mas você é bom o bastante. Deus o escolheu pra mim!
- Já disse que acordado, sou um covarde.
- Quando, então? - disse eu, entristecida.
- Em breve. - ele encostou minha cabeça em seu peito.
Enquanto sentia o seu perfume e seu calor, uma brisa gostosa soprava em meu rosto. Abri os olhos, e estava em meu quarto, o livro aberto em cima de mim. A brisa era o vento que entrava pela minha janela. - Ele voltou a ser um covarde agora. - Pensei. Eu havia sonhado.

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