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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Dane-se a farpa


E aí eu me lembro da existência dela na sua vida e me dá uma angústia danada. Não é culpa por te querer desse jeito, mesmo sabendo que você já é dela - e creia, a ausência de culpa, neste caso, não é nada louvável -, é só agonia diante dessa impossibilidade evidenciada. 
Porque eu querer você já é fato, não dá pra voltar atrás. E eu deveria me sentir tão mal por isso. Eu até queria me sentir culpada, por desencargo de consciência. Mas a culpa não vem. E não sei se virá. Porque eu te quero mesmo. Com toda a malícia que eu nem sabia que tinha, com todo meu pecado. Te quero com um desespero inédito, uma sede urgente, um calor inesfriável. Eu te quero dentro do meu corpo com toda a força das batidas que me dão o ritmo. Eu quero estar grudada em você, alma na alma, com a mesma leveza das notas musicais que me dão o norte. Eu quero violência e mansidão, tudo ao mesmo tempo. Eu quero você.
E que se dane essa angústia que me dá no peito quando lembro que ela te tem, e eu não. Que se dane ela também. Porque o fato de ela ter você não é capaz de frear esse meu querer gigante, que ao invés de se saciar, aumentaria, caso algum dia eu lhe tivesse. 
Ela e tantas outras podem te ter pela vida afora. Mas se juntar o querer de todas elas, nem assim vai haver no mundo vontade maior do que o desejo com o qual eu te quero. Então, que se dane mesmo e fim. Mesmo que seja um fim sem começo.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Cena repetida


Eu me recuso a virar uma idiota de novo. Foi tempo demais até aqui, exercitando minha vida sentimental saudável, pra vir um cara como você e estragar tudo agora. Não. Nada de passarinho verde, nem azul, nem rosa. O mundo é uma farsa e o amor não é pra mim. Eu aprendi minha lição. Doeu demais e eu não quero aquilo tudo de novo. Sou outra. Me fiz outra e você não vai fazer com que eu me perca.
Mas aí hoje você passou naquela mesma hora, por aquele mesmo lugar. E eu mais uma vez, por acaso, estava lá pra lhe ver. Não com esse objetivo, mas já que vi... Bom. Você estava tão bonito. Desfrutei de sua imagem. Tenho desfrutado. Todos os dias dessa minha bosta de vida. Nos meus dias cheios, repletos, lotados de um monte de nada que signifique realmente alguma coisa, você me preenche espaços. E quando esses espaços estão cheios de chateações, preocupações e coisas feias você vem com esse jeito imponente e toma todas as minhas brechas para si do mesmo jeito. Um intruso que termina se tornando bem-vindo. Um estorvo desejado.
Você é a bagunça que a chatice da minha vida precisa. Minha confusão personificada. Pensar no seu toque me arrepia até o último fio de cabelo da cabeça. Você me rouba o chão sempre e eu, inconscientemente, agradeço pela adrenalina da queda livre. Minha tragédia anunciada, crime que eu quero tanto cometer. Vem, enlouquece minha sanidade, mostra que a chama pode queimar a gente de um jeito bom.
Mesmo quando eu não te vejo, eu falo em você. E mesmo que eu não fale, eu penso. O tempo inteiro. A cada tic-tac cansado do meu relógio. A cada punhado de ar que me adentra os pulmões, é você adentrando em minha história. Eu sonho com você, eu sorrio sozinha, eu suspiro, eu canto, eu fujo do mundo pra poder ficar sozinha com você na minha cabeça. E quando você passa, fica tudo em câmera lenta e passando depressa ao mesmo tempo. Minha vontade era de que você passasse e voltasse. Passasse de novo. Tornasse a passar. E sempre mais uma vez. Freneticamente. Repetidamente. Passando por mim. Até chegar numa hora e passar outra vez, mas me levar junto. Pra onde você quiser. Pro céu. Pro inferno. Pra sua casa, sua cama, sua vida. Pra canto nenhum. Mas que passasse e me juntasse a você. Tomasse posse de mim. Me pegasse pra você e fizesse comigo e de mim qualquer coisa que lhe desse na telha. Fincasse uma bandeira que me proclamasse território seu. Todo seu. Até o meu último fio de cabelo da cabeça, que você arrepia sempre sem nem me tocar, sem nem saber. Eu queria ser um terreno escriturado no seu nome.
Eu ando feito uma retardada me pendurando numa janela pra procurar algum vestígio seu por aquele pátio. E mesmo se não encontro, continuo na janela pra ver como o céu é mais bonito quando você está na minha cabeça. E você está nela sempre. 24 horas por dia nos últimos tempos. Esteja eu dormindo ou acordada. 
Céus. Olha bem pra minha cara. Eu já virei uma idiota. De novo. 


domingo, 12 de agosto de 2012

Controverso


Eu nunca lhe dei nenhum crédito. Nunca fiz bom juízo de você. Desde a primeira vez que lhe vi, guardei na cabeça a certeza de que você era do tipo canalha. E ainda não mudei de ideia. Não acredito que você seja lá um cara que preste. Minhas opiniões racionais sobre você não mudaram em nada no último ano e meio. Mas já não posso dizer o mesmo das reações corporais que a sua presença provoca em mim.
No começo eu pensava que era só uma atração física passageira, coisa de menina que nunca teve malícia suficiente para se apaixonar por um professor nos tempos de escola, e deu de sentir tardiamente palpitações por um cara mais velho, só pra cumprir tabela. Só que até agora essa coisa não passou. Desacelerou por alguns momentos, quase adormeceu, mas não se foi de fato. Sempre quando a chama está quase se esvaindo, você vem e risca um novo fósforo.
Mais intrigante que sua distância constante e sua incorrigível formalidade, sua aproximação brusca me causou espanto. Mas lhe ter assim, mais perto, foi um susto maravilhoso de se levar. Seus sorrisos, voz e olhares por algumas horas preencheram todos os meus vazios, como que alimentando minha existência, me sustentando numa outra dimensão, num plano leve de felicidade gratuita, onde há muito eu não me inseria. 
O que eu não quero é que tenha começado tudo de novo. O que eu não aceito é que essa seja mais uma das minhas histórias fracassadas. Talvez eu até passasse o resto dos meus dias ao seu lado, se assim você quisesse. E esse desejo idiota desmascara minha total ruína: apaixonar-se por um canalha é tragédia anunciada. Mas não seria o próprio amor um sofrimento iminente, ainda que correto? Talvez esse sentimento torto seja o avesso do avesso que eu precise, a carta que completa meu jogo. O começo real da vida.
Desconfiei que eu poderia estar sentindo mais do que realmente supunha - e infinitamente mais do que admito - sob a penumbra que se estendia lentamente (como um véu) sobre o tempo. Sob aquela escuridão, pude ver com maior clareza. Éramos nós fatigados, lado a lado, e eu com minha cabeça repousando quase que sobre o seu ombro esquerdo. Eu suspirava tão forte, que meu peito se alargava e eu encontrava mais espaço dentro de mim mesma para poder descansar de minhas próprias mazelas. É que você alarga o meu ser e deixa os problemas da minha vida parecendo pequenas imperfeições num ambiente onde a paz é predominante. Você é minha paz de espírito, curiosamente. E foi ali que eu descobri que aquele desejo voraz de juntar seu corpo com o meu também é doce. E naquele instante, te querer desse jeito que eu quero até deixou de parecer pecado, porque, pelo menos aos meus olhos, isso tudo ganhou uma beleza imensurável, coisa diferente de tudo o que antes eu nutri por outros seres humanos.
No fim das contas eu sou só uma menina tristemente desafortunada, vendo em você alguém que possa fazer de mim uma mulher feliz e cheia de sorte. Se fôssemos um, você mesmo seria a minha sorte encarnada. Por isso que o que eu mais quero é estar cheia de você na minha vida, em todos os cantos para onde eu me virar, em todas as frestas, em todos os meus becos e espaços escondidos, onde a tristeza normalmente se instala. Que saia tudo e que só você possa me consumir. Centímetro por centímetro. Exterior e interiormente. Na alma e no corpo.
Queria que você soubesse da convicção que tenho sobre sua canalhice, se sentisse ofendido e quisesse limpar sua honra, provar que pode ser homem de uma mulher só. Eu me candidataria à vaga de cobaia, toparia o desafio. Tentaria, mesmo sem acreditar que seja possível um futuro longo pra nós dois. Bastaria me puxar pela mão, que com você eu iria até o inferno, até os confins da Terra. Ainda que eu não faça bom juízo de você. Ainda que eu não lhe dê nenhum crédito. Porque com os caras certos tudo costuma sair errado. Quem sabe se com o errado as coisas não dão mais certo...


domingo, 5 de agosto de 2012

Utopia


Aérea. Sorrindo com nada, brincando com o vento, cantando pro sol, suspirando pra lua. Fazendo canção e rima e poesia. Tendo momentos de acreditar que a vida nem é tão ruim assim. Vislumbrando um futuro doce, não conseguindo não pensar e enrubescendo quando pensa. Sentindo a pele queimando, o coração gelando e as mãos e pernas criando vida própria. Sonhando - acordada ou dormindo - que já é chegada a hora da menina triste ser uma mulher feliz. Vendo lá no fim da estrada um moço se aproximando, montado num cavalo branco. E tudo porque a utopia adormece, mas nunca a deixa.