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domingo, 14 de novembro de 2010

Estrela


Está comprovado, e sempre esteve, que estrelas se apagam. E mesmo depois de apagadas, seu brilho permanece por algum tempo como miragem em nosso céu. "Sei, às vezes é difícil acreditar: vemos estrelas que já nem existem lá...". É muito difícil acreditar nisso. Digo por experiência própria.
Eu ainda podia ver nele o brilho da minha boa e velha e linda estrela. Só percebi que aquele a quem eu amava havia partido quando pude ver quão fosco ele havia se tornado.
Eu o via brilhar, mas a verdade é que minha estrela já havia morrido há algum tempo. Era torturante vê-lo tão mudado, mas ainda assim contemplar seu brilho. Era algo que me levava à confusão, à loucura. Não era o mesmo, mas ainda tinha o antigo brilho que me fizera tola, apaixonada.
Quando o brilho cessou percebi todo mistério: dentre tantas coisas imutáveis pelas quais eu poderia ter me apaixonado, envolvi-me numa estrela, que como todas as outras, era passageira. Estrelas morrem e somem, irrevogavelmente. Enquanto ainda amava uma estrela com essência, alma e tudo, o amor me trazia certo contentamento. Mas depois que minha estrela morreu, passei a devotar um brilho sem alma, e tudo parecia vazio, estranho. Hoje percebo.
Agora que até a luz se foi, restou-me o vácuo da escuridão da noite, um vazio óbvio, do qual não posso fugir, nem fingir. A minha estrela já se tinha ido. Mas ficava-me o seu brilho para ludibriar-me. Agora que estou só na escuridão, me num explicíto vácuo. Amei uma estrela que morreu, e depois apagou-se. Uma imensa bola de ar quente a milhões de quilômetros de mim, e que mesmo tão distante me arrancava risos. Mesmo de longe, meu objeto amado existia, hoje não mais. O que me restou foi um amor imenso e ferido no peito, sem alguém para quem possa doá-lo. Se na presença distante eu sorria, na vazia e escura ausência incessantemente eu choro.

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