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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Não procura-se, para encontrar

Acho que acabo de descobrir uma grande coisa... O amor é mestre na arte de fazer pirraça. Ele não gosta de ser encontrado. A maior satisfação que ele tem é nos ver tropeçar nele de forma inesperada, e dar com a cara no chão mesmo.
Desde que tirei Ninguém da minha vida, procuro timidamente alguém que me preencha o vazio que ficou. Nada. Todas as minhas quase-buscas foram em vão. E, acredite em mim, não é porque tenho buscado por aí alguém que se assemelhe ao meu grande amor de adolescência. Nunca na vida quis tanto alguém diferente. Mas é que quando se trata de amor, quem procura nunca acha. Nunca mesmo.
Finalmente aprendi a dinâmica do jogo. Só não sei executá-la. Não consigo fingir que meu vazio não existe, fechar os olhos, cruzar os braços e seguir. Não sou muito boa de encenação quando se trata de vida real. Eu podia fingir que não estou olhando, para que o amor se achegasse à mim outra vez. Mas ele é tinhoso, e não dá para enganá-lo. Sinto falta do tempo em que o achava belo. Agora nem me lembro mais do seu rosto.
É triste para uma pessoa romântica por natureza ter de aprender a viver sem amor. É como uma árvore que antigamente florescia bem no centro do jardim, e que secou. Mas onde encontrar adubo que me revigore? Onde encontrar a minha paz?

domingo, 18 de setembro de 2011

Estrada

A gente nunca sabe quando a vida vai dar uma reviravolta. Às vezes, o próximo passo parece tão certo, tão marcado; e na hora de andarmos, simplesmente mudamos a rota.
Eu sou completamente derrotista. Quando algo sai fora do esperado, me vem o desespero. Fico no chão. E nem sempre meus dramas condizem com as minhas catástrofes. Aliás, nem sempre minhas mudanças de caminho são catastróficas. Mas é sempre assim que acontece: sair do roteiro, num primeiro momento, é sempre sinônimo de que deu errado.
Mas quem disse que fugir do script algo negativo? Toda boa história tem um mistério.Não tem graça assistir a um filme que já se sabe o final. Um bom roteirista sabe guardar em segredo o que planeja para seus personagens. Deus é o melhor roteirista do mundo. A nós, cabe atuar. Não no sentido de fingir, mas no sentido de saber viver a vida como espetáculo que ela é. Um bom ator nem sempre prova sua qualidade quando tem o texto na ponta da língua, mas quando se sai bem na arte do improviso.
É essa a essência do jogo: nunca saber qual a próxima cena, a próxima fala, o próximo movimento... Mas estufar o peito e atuar. Ou melhor, viver. Nossa noção de êxito e fracasso é um tanto quanto equivocada. O que muitas vezes vemos como fundo do poço, pode ser na realidade um atalho para o apogeu. Viva, atue, improvise! Clichê, mas verdade: Deus, nosso roteirista, escreve certo por linhas tortas e sempre sabe o que faz.


sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Sem título. Porque não é uma história... Ainda

Ela tinha na voz o mesmo feitiço que a Capitu de Bentinho tinha nos olhos. Ele já tinha percebido. E aprovado. O que ele não sabia era que ela já o imaginava. E sonhava com ele, e o levava no pensamento.
Afinal, onde ele havia se escondido até então? Bastou que os olhos dela o avistassem, e ele passou a morar em sua cabeça. Foi um breve momento, numa tarde qualquer... E a noite já rendeu um sonho onde ele estava.
Não, ela não estava apaixonada. Não mais acreditava em amor à primeira vista: com a maturidade que a vida lhe dera, aprendera que amor não se inventa, mas se constrói na convivência. Cotidiano, entre os dois, ainda não existia. Ela sabia o nome dele, desconfiava que ele soubesse o dela. Foram alguns olhares (de cobiça) trocados. E só. E um "só" que foi o bastante para ela sonhar.
Não era desejo, amor, paixão. Não era nada. Era só o medo que ela tinha de amar... E o anseio que ela tinha por esse mesmo sentimento paradoxal: cruel e bondoso, revigorante e assassino, monstruoso e belo. As múltiplas faces do amor a confundiram pela vida afora e o medo não a deixava nem em sonho.
Tinha sonhado com ele, sim. Estava em seu colo, quase que entregue... Mas quando ele lhe pedia um beijo, ela negava. Era o medo que não descansava, nem quando ela dormia. Mas mesmo medrosa ela sentia falta de ter em quem pensar, de ter com quem sonhar, de ter por quem pulsar. E sabe lá Deus (ou não) o motivo, o alvo da vez era aquele rapaz. Que passaria pela sua vida, sem deixar rastro. Ou quem sabe, ficaria.