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domingo, 25 de março de 2012

Sinal vermelho

Quando o coração bateu num forte descompasso, eu ainda duvidava. Quando borboletas me sobrevoaram o estômago, quando o tremor me invadiu as mãos, não pensava num sentimento com solidez. Na verdade, eu não pensava em nada. Quer dizer, em você eu pensava, mas era um pensar vazio. Era só você. Você sozinho, dentro da minha cabeça. Mais nada.
Foi numa tarde fatidicamente estressante que meu coração parou por um segundo, e depois bateu como se meu peito fosse uma porta que se pudesse arrombar, como se pretendesse me quebrar os ossos torácicos, e me rasgar a pele, e ir morar fora de mim. Ainda assim eu duvidei. "Passa", repetia internamente. Quando o coração acalmou, deixou de rastro um sorriso bobo no canto dos meus lábios. Mas era alegria de vida, não de você. Era o que eu pensava.
E aí, de repente, no meio dos meu afazeres tão intensos dos últimos dias, enrubesci. E foi quando enrubesci que soube. Quando a vermelhidão me tomou a face, denunciando que nem o sangue que me corre nas veias pode mais fingir ser imune à sua presença, eu tive certeza. Só uma vez na vida fiquei vermelha antes... Por causa daquele que tanto me teve, sem me merecer. Agora, aqui, aquilo que me levaram voltou pra mim. Voltou pra mim em você. Eu não sou mais dormente ao mistério. Eu ainda posso sentir. Mas será que sei? Talvez você me mereça muito, menino, e eu tenha medo de me dar. Ou talvez agora seja eu que não lhe mereça.
Acho que vou soltar as rédeas. Bem devagar. Porque eu não sou um semáforo, e em mim, vermelho pode muito bem ser sinal de "siga".

sábado, 10 de março de 2012

A fantasia da solidão

- Ele é lindo!
- Me conta mais!
- Ele é lindo, talentoso... Uma fofura!
- Ele te viu mesmo?
- Viu e acenou, já te disse!
- E você tem chance?
- Claro, toda noite.
- Sério?
- Em sonho.

sábado, 3 de março de 2012

"Boto ele no colo, pra ele me ninar"

É desejo, sim. Mas tem também um instinto materno danado que me bate no peito. Quero amá-lo, tê-lo e ao mesmo tempo ser dele. E quero-o em meu colo. Enquanto o embalo, eu encerro todos os meus dilemas: alentá-lo é carícia para minha alma. Acho que isso seja mesmo amor, porque cuidar dele significa cuidar também de mim.
Eu, que carreguei tantas das dores do mundo, sei de cor o que o sofrimento faz de bom e de ruim. E quero estar ao lado dele para segurar-lhe a mão. Para lhe ser o porto seguro que diz, cheio de firmeza: "isto também passará". Já percorri caminho parecido e sei onde se deve pisar e onde as pedras são duras demais para os pés. Mas não vou soprar-lhe o destino, deixarei que ele descubra e faça o seu próprio caminho só. Me limitarei a, em silêncio, segurá-lo pela mão. Por mais que eu queira sofrer em seu lugar, sei que tudo o fará crescer, no fim das contas.
Passei tanto tempo procurando alguém que me pusesse no colo, e hoje sei que precisava mesmo era de alguém a quem cuidar. Acho que nasci para ser um pouco mãe em todas as relações que me levam a criar laços: mãe-amiga, mãe-irmã, mãe-filha, mãe-tia... E por que não dizer mãe-amor? Velando o sono dele, descobri que os suspiros que ele dá, sobre o travesseiro molhado de lágrimas, fazem brotar em mim a maior ternura do mundo. É o pedaço que mim que me faltava.