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domingo, 16 de novembro de 2014

Amor gramatical

Eu não soube que era você por causa do sorriso torto ou da voz sedutora. Não foi a sua facilidade em ser um homem naturalmente atraente que me fez perceber que era você, e não qualquer outro. Não foi por causa da minha crescente confusão quando estou ao seu lado que eu soube. Não foi a síncope cada vez que você telefona. Não foi o frio na barriga ou o coração acelerado que me disseram que era você o cara, e não qualquer outro neste mundo. Poderia ser qualquer um: meu vizinho, o carteiro, o cara que pega o mesmo ônibus que eu todas as manhãs, Seu Manoel da padaria. Podia ser qualquer um, mas é você. Todo torto, todo errado, todo minuciosamente traçado e pensado pra mim.
Eu soube, quando dentre todas as suas falhas, relevei principalmente o seu português ruim. O não saber conjugar o verbo “vir”, em qualquer outro ser humano, me irritaria profundamente. Me irritar mais do que isso, só o fato de você parecer ignorar que o verbo viajar é com j, mas viagem, o substantivo, é com g. E quer saber? Eu não me importo. Porque a gramática é ruim, mas o papo tão bom!
Eu costumo perder amigos e não as correções ortográficas. Mas deixo passar os seus deslizes gramaticais todos, porque me recuso a perder você. E, acredite, em se tratando de mim, fingir não reparar na ausência de coesão da sua escrita é uma grande prova de amor.

Um comentário:

  1. Até imagino de onde surgiu essa gramática (ou a falta dela)!!! hahahaha
    Já passei por isso também. E dispenso todas as concordâncias verbais e nominais para manter a concordância da minha verdade. A verdade ridícula de que eu amo até os erros de português daquele ser avoado.

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