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quinta-feira, 14 de abril de 2011

Contratações


Ah, destino desgraçado... Ah, destino sem jeito! Medonho, doido, sem nexo. Alguém lá em cima só podia estar brincando comigo. Naquele dia, justo naquele dia, as duas bocas que eu mais desejava estavam mergulhadas num mesmo contexto, dividindo o mesmo cenário. E isso tudo pra quê mesmo? Certamente pra me deixar ainda mais confusa. Eu que nem sabia quem queria ou se queria!
A única certeza que eu tinha, era aquela terceira boca. Que era terceira, mas na minha lista de prioridades, amor, paixão, desejo e fogo, sempre foi e sempre seria a primeira. Mas era fruto proibido: tal qual o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, no meio do Jardim do Éden, a intrigar Adão e Eva. Comer daquele fruto seria minha maior prova de falta de amor próprio, porque com certeza eu morreria. Mas assim como Eva, eu tinha uma serpente a sussurrar em meu pé do ouvido: e minha serpente era linda, singela... Não era má, não. Só completamente insana. Atende pelo nome de "Amor", essa cobra desvairada.
Eu tinha parado de ouvi-la, acatar suas insanidades estava fora de questão. Simplesmente me afastei. Mas isso não significava que o Amor não estivesse ainda ali, me falando suas sandices. E aí, enquanto eu tentava fugir, cruzei olhares com alguns consideráveis rapazes. Eu parecia uma empresa recebendo currículos de possíveis contratados. Já havia descartado um monte, mas aqueles dois currílos me chamavam atenção demais, e eu me recusava a dispensá-los também.
Ué, é só escolher um dos caras e pronto. Simples assim, certo? Errado! Pra começo de história, dar as costas pra qualquer um dos dois seria tarefa bem difícil. Quando se pensa que, obviamente, um dos dois tinha que ser melhor, se cai num equívoco tremendo. Claro, eles são completamente diferentes! É uma competição injusta até. Cada qual é encantador ao seu modo e isso me mata. Com um, talvez até fosse mais fácil de lidar: mas eu não sei se meu intelecto seria capaz de acompanhar a sua inteligência excessiva. O outro é dono de um charme tão intenso, que me deixa enlouquecidamente encantada. Mas já está a alguns muitos patamares acima de mim no que diz respeito a experiência e maturidade. Mesmo que por um milagre ele resolvesse olhar um pouco pra baixo e batesse os olhos em minha humilde pessoa, uma hora me pediria algo que minha consciência não me permite dar pra ninguém... Não no momento.
Ah, tá... Você quer que eu desista dos dois, e pronto? Enlouqueceu? Cara, se eu fizer isso, vou cair na armadilha da terceira boca, entende? Por mais que os outros dois me pareçam impossíveis e criem um super dilema dentro de mim, eles me mantém a mente ocupada. Sim, porque "cabeça vazia é escritório do diabo". Aí já viu, né? Eu preciso desesperadamente deles, sem querer e nem poder precisar. Talvez isso seja até bom. Sabe como é, eu amei tanto aquele terceiro carinha, que pra ocupar os espaços que ele ocupou em mim, só sendo dois mesmo. Mas eu não tenho como contratar os dois, não sou dessas. E ainda que abrisse mão de um deles pra contratar o outro, não importa quem seria escolhido, ambos têm qualidades em demasia. São capacitados em excesso para trabalharem na minha modesta empresinha.
Agora... Voltando ao ponto de onde comecei: foi uma bruta sacanagem do destino colocar os dois de uma vez só na minha frente. Um é intelectual e o outro é lindo e bem sucedido. E acho que nenhum deles veria algo de especial em mim. Preciso de várias doses de amor próprio e auto-confiança, tô sabendo. Mas é que aquele idiota, o do lance da terceira boca, tirou tudo isso de mim. E agora eu sou só uma adolescente em crise, que não sabe mais se amar, que não sabe mais amar ninguém, e que tem medo de tudo. A maré não tá boa, não. O Amor é lindo, mas não é fácil. Muitas vezes ele só complica a vida da gente... Feito rapadura: é doce, mas quem disse que é mole? Mas eu vou tentar, sim, relaxar. E o que tiver de ser, será... E quem sabe ao invés de ficar me preocupando em qual dos dois vou contratar, um deles não me contrate primeiro? É a vida, né? Tudo pode acontecer...

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