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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Bateria?

"Como é que nada podia ser meu para sempre, e sempre igual? Era possível que meu amor não o pudesse preservar e proteger? Eu não sabia ainda o que na madureza aprenderia: que todas as coisas quando acabam são substituídas por outras; que a vida não se reduz mas cresce, e é em tudo um milagre."

(Lya Luft)

O livro ainda repousava sobre seu colo, alguns minutos depois de ela ter lido esse trecho. Ali, naquele momento, estava vivendo mais um processo. Era forçoso reconhecer que estava passando por aquilo de novo. Mas finalmente ela reconhecera que o que havia restado era apego, apego, apego demais. E amor de menos.
Ninguém gosta de reconhecer o fim, principalmente de algo que um dia foi tão forte e envolveu tantas juras de eternidade. Ela vinha adiando há muito o seu processo de reconhecimento da verdade indesejada, mas ele era iminente. E ali, nas palavras escritas naquele livro que lia, a verdade dava seu último grito, e ela não teve outra escolha que não viver o seu processo. Ou pelo menos, a primeira parte dele.
Ela sabia que havia amado, sozinha, do seu jeito unilateral, muito mais do que casais ditos apaixonados amam numa vida inteira. E já não se orgulhava disso... Aprendeu que tudo na vida tem limite, que tudo demais é demasia, e o amor não foge dessa regra. Amor demais mata a gente de dentro pra fora, e ela tinha morrido um pouco por ele.
Se sentia traída e traidora, por não conseguir segurar aquele amor com as mãos. Por ter sido fraca, e tê-lo deixado escorrer entre seus dedos. Mas ela lutou por anos, fez muito mais do que deveria, e foi muito mais longe do que muita gente teria ido. Se sentia culpada por quebrar suas promessas de amar para sempre, independente das circunstâncias. Mas quebrar essas tais promessas, agora já não era mais questão de escolha. A vida se encarregou de jogá-las no chão, de fazê-las em milhares de pedacinhos que jamais poderiam ser colados. Era uma libertação que vinha para o seu bem, do fundo de sua alma, e que ela não podia mais conter.
Tinha certeza de que lembraria do seu ex-amado para sempre, mas já não conseguia enxergá-lo da mesma forma terna, mesmo que tentasse. Ele com sua nova e detestável personalidade tinha destruído toda ternura que ela sentia. Aquele menino tímido por quem ela havia se apaixonado estava cada vez mais longe, num lugar onde sua visão emocional quase não alcançava. A imagem dele estava a cada dia mais fora de foco. Ela puxava no arquivo de sua memória a imagem daquele garoto, que às vezes era até nítida, se ela se esforçasse muito. Mas mesmo que ela o visse, não o sentia mais. Lembrava com muito custo do sorriso, do abraço, da voz... E nada. Ela não podia negar que não sentia mais nada. Tudo o que tinha agora era uma lembrança oca.
O primeiro passo foi dado: ela reconheceu que acabou. Mas todas as coisas quando acabam são substituídas por outras... E aquela coisa que tinha encontrado seu fim, já tinha dado lugar a outra. O próximo passo seria dado quando ela reconhecesse isso. Um coração precisa de alguém por quem bater. O dela já não mais batia por aquele menino, mas alguém havia ocupado o lugar dele. Porque o coração continuava pulsando... Pulsando não, batendo. E forte. Se não houvesse um substituto, será que ele bateria? Não. Eis a lei que tudo justifica: um coração, que ardendo, bateria...

4 comentários:

  1. qual o nome desse livro de lya luft que voce retirou esse trecho ?

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  2. Dos fragmentos que li, gosto muito. Li só um livro dela, que nem foi esse do post. Esse trecho me foi indicado por uma amiga... ;)

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