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domingo, 1 de janeiro de 2012

Entenda-me quem puder

Estou mergulhada no tédio das horas que se arrastam sobre os ponteiros do relógio, produzindo um "tic-tac" ensurdecedor. Trancafiada num quarto onde o ar circula de mal jeito, fazendo com que eu me sinta abraçada com o sol em pleno verão, olho para a minha vida vazia, na qual você não se insere.
E submersa pelas ondas invisíveis, geradas pelo tempo uivante, me lanço na serenidade e me convenço de minha própria solidão. E ao me convencer, descubro docemente em que consiste o amargo mistério: ser só é fator inerente à minha existência. E aí eu caio.
Não caio de dor, nem de susto. Caio pela mesmice das coisas. Caio pela sensação de dormência e pelo não-sentir. Caio porque sem ver, me lancei em mais uma realidade inventada. Caio porque de realidades de papel é que se tem construído a minha história, e eu nem tinha me dado conta. Conta. Você é mais um entre os meus incontáveis faz-de-conta, que minha mente criou para fugir do tédio; e que meu coração acreditou, por ser tolo. Impossibilidade e paixão caminham de mãos dadas em minha linha do tempo, e não há no mundo quem as separe. Estabelecem uma dependente relação de coexistência. Como a solidão e eu.
Mas se em tudo que é ruim existe o lado bom, no meu vazio também há preenchimento. Porque para a minha arte melancólica de ser só, encontrei uma plausível justificativa. Meu coração não pulsa para eu viver, ele pulsa para sonhar. E assim busca do amor justo o impossível, para não ter de acordar... Para não ter de ver o sonho se desfazer, explodindo em realidade. O que eu quero não tem nome, nem forma, só distância. E desde que o mundo é mundo ainda não vi amanhecer o dia que eu desejei algo ao alcance de minhas mãos. Porque eu vivo de querer, e o querer se perde quando surge o ter. Por isso que sempre ao compor meus contos, como ato obrigatório e mecânico, antes de todo "ter" eu escrevo um "não".

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