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sábado, 16 de junho de 2012

Confissão


Helena,
Sua última carta me deixou bastante feliz. Acompanhei a história desde o início, desde quando nem se podia dizer que tratava-se de uma história. Vi esse sentimento brotar e tomar forma dentro de você. Me sinto alegre ao vê-la tomando posse disto, assumindo o que sente, "sem nojo nem medo". E não precisa me agradecer. Fiz o que tinha de ser feito... Deus se encarregou do resto. Estou ansiosa para saber do desenrolar de seus próximos capítulos, já que minha própria história teve de ser interrompida em plena pré-produção. O fim da linha veio antes mesmo do começo. Melhor assim, não? É mais fácil deixar antes do apego estar completamente instalado. O difícil mesmo vai ser atravessar os dias conturbados pelos quais tenho passado, sem poder contar com minha distração, minha garantia de sorrisos e suspiros gratuitos, que por alguns momentos fazia a carga em minhas costas parecer mais leve.
A carta caiu para fora do baralho. Eu sempre soube que se tratava de um naipe que não completaria meu jogo, ou sempre fingi saber. O que eu queria mesmo era que ela tivesse se convertido numa carta coringa preenchedora de vazios, capaz de me conceder a vitória em uma única partida que fosse, só para variar. Mas nem sempre o que a gente quer é o que a gente pode. Eu por exemplo, sou mestra em querer o que as mãos não alcançam.
Confesso que me surpreendi com minha própria reação. Eu que sempre jurei estar numa posição segura, me  soube vulnerável e envolvida quando doeu. E não deveria ter sido assim. Chorei. Não sei se pelo fato em si, ou pela bagunça que tem sido feita na minha vida, de modo geral... Só sei que chorei e me assustei por ter chorado. A notícia de que ele agora tem um compromisso assumido me veio justo no final de um dia ruim, onde muita coisa já não tinha dado certo. Isso pode ter contribuído. Ou eu posso estar falando isso para mais uma vez botar panos quentes e tornar as coisas menores e menos importantes do que realmente são. Mas nem importa mais... Sendo grande ou pequeno vai passar. Passei por uma experiência amorosa realmente traumática e hoje em dia, a tragédia tem que ser legitimamente grega para me lançar ao chão. Tanto, que desde de Beralto eu não chorava por causa de alguém... Foi a primeira vez. Isso me dá uma sensação de dejávù terrível, como se meu amor antigo tivesse me voltado justo em uma de suas faces cruéis.  Não digo a mais cruel, porque não acredito que haja algo que se compare. Enfim, bobagem da minha cabeça.
Mas está tudo bem. Lembra que eu lhe disse que uma boa noite de sono resolveria? Bem, não resolveu porque não houve muito sono. Foi uma noite conturbada. Despertei diversas vezes, como que procurando alguma parte que me faltava. O vazio no meu peito nunca deixou de existir, mesmo quando eu me permitia pensar naquele moço. Mas agora esse vácuo me parece um pouquinho maior. Deve fazer parte. Meu plano da vez é procurar alguma outra coisa que me distraia, não necessariamente um cara. Eu já estava mesmo precisando de algo que me roubasse a tensão desses últimos dias, agora preciso em dobro. Necessito de leveza, e preciso trabalhar minha mente não para esquecê-lo, mas para deixar de olhá-lo e desejá-lo como tenho feito. Preciso misturá-lo aos outros e deixar de destacá-lo na multidão. Sei que vou conseguir em algum momento. Sei que vai ficar tudo bem. De um jeito ou de outro, sempre fica. A classificação indicativa do filme não era favorável para mim. Sem traumas. Mas não quero saber de cinema por enquanto.
Com amor,
Caterina. 

P.S.: Sim, enfim, também confesso: estou apaixonada. Do verbo não estarei mais.


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