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domingo, 1 de dezembro de 2013

Formatura


Deixei um bilhete sobre a mesa pequena da sua sala. Não era despedida. Era um registo, de próprio punho, de que eu havia ido embora. Não gosto de me despedir, e afinal de contas, ainda vamos nos encontrar. Só não vamos mais nos fundir, nos misturar, nem trocar sonhos ou saliva. Tentamos.
Quase acreditei que eu fosse ser seu mundo, e quase cheguei a fazer de você o meu. Nos preocupamos tanto em sermos os diferentes que se completavam, que esquecemos de olhar para as semelhanças que talvez pudessem existir entre nós. Agora já não há mais tempo de reparar se elas um dia estiveram ali. É tarde.
Cumpri meu papel de ser inteiramente sua, com tudo que eu tinha, no tempo em que nós dois fomos um. Você, meu tutor. Meu porto seguro. Minha escola de vida. Minha faculdade de como ser eu mesma. Minha pós-graduação de como ser uma mulher. Mestrado de autoconfiança. Doutorado de autoafirmação. PhD de sex appeal.
Nos amamos carnalmente por cinco meses e vinte e sete dias. Faltava algo e quando eu pedi mais, você me ofereceu as chaves do seu apartamento, espaço para minhas roupas no seu armário, lugar para minha maquiagem no seu banheiro e escolheu o nome dos filhos que viriam daqui um ano ou dois. Você me ofereceu tudo que eu sempre quis, mas nada do que eu precisava: um pouco da sua alma.
Por isso resolvi partir. Porque percebi que não era sadio brincar de casinha quando não tem alma envolvida. Era tudo bom, e tudo uma delícia, mas era tudo tão vazio. Eu não podia continuar sendo a jovem madura querendo segurar a onda de um adolescente de meia idade. Nossos papéis trocados não nos favorecem. Obrigada por me mostrar que tenho asas. Ainda tenho tempo de aprender a voar, e não vou conseguir fazer isso enquanto estiver morando em sua cama.
Você me transformou numa mulher forte. Bem do tipo que não suporta ficar à espreita de homens como você. Eu já me anulei antes. Não vou fazê-lo de novo. Depois da qualificação: formatura.

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