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domingo, 2 de fevereiro de 2014

Desperta a dor


Dá licença, mundo, hoje eu tô querendo sonhar. Amanheci com preguiça da realidade. Você só tem me dado amarguras e aqui dentro da minha cabeça eu encontrei coisas doces. Encontrei ele, doçura personificada. Já pensou se eu e ele... Não? Eu já. Pera, que já te conto.
Depois de muito olhar em volta, admirando aqueles quadros, que pareceram mais bonitos depois de terem tocado a retina dele, eu me poria de pé. Embriagada pelo cheiro característico daquele lugar - que eu sinto como sendo o cheiro dele, só porque já esteve em suas narinas -, eu iria embora. Eu, guturalmente apaixonada pela minha terra, família e amigos, cultuadora do apego, apego, apego, apego, apego e das raízes fincadas, desapegaria. Desenraizaria. E me fincaria em qualquer terra, daqui ou de marte, desde que ele também estivesse plantado por lá. De vez em quando eu ia chorar de saudade de casa, mas ele me consolaria fazendo amor e tudo ficaria bem.
As tardes de sábado seriam menos enfadonhas, porque depois de algumas horas no quarto dele, namorando, cantando e compondo, a gente iria ao cinema, a um bar, ou aos dois. E a gente falaria de vida e de música e faria mil planos, porque teríamos a vida inteira - com música - pela frente juntos. No bar, com ele sentado ao meu lado, eu pediria ao garçom a cerveja mais gelada pro homem da minha vida (homem-da-minha-vida soa muito melhor que homem-dos-meus-sonhos, título que ele tem atualmente). E nada em volta importaria, porque eu estaria sentada ao lado dele, enchendo de cheiros o seu cangote, inalando o seu perfume, misturado com suor e cerveja: melhor aroma do mundo. Como uma boa filha arretada de Seu Pernambuco, eu ia esquentar ele todo por dentro.
Lá pras tantas a gente sairia dali para o meu apartamento e bêbado, ele ia querer deitar do jeito que tinha chegado. Mas eu ia protestar dizendo que ele tava sujo e eu mesma lhe daria um banho. Faria cafuné na cabeça dele, enrolando meus dedos nos seus cachos, em meio à espuma do shampoo. E eu, que sempre achei lindo homens de cabelo escorridinho, cara lisa e peito também, me pegaria venerando tanto aqueles cachos, pelos e barba, que acharia a vida uma ironia completa.
Do chuveiro, a gente se rebocaria mutuamente pra minha cama. Depois do banho, ele estaria desperto e ia me querer. E como eu quero ele sempre, a todos os instantes, a gente se amaria. Enquanto os raios de sol invadiriam meu quarto, anunciando o amanhecer, ele invadiria meu interior, anunciando o amor. Aí quando o cansaço enfim chegasse, a gente ia dormir abraçado e as batidas do coração dele seriam minha canção de ninar.
Passados um ano ou dois dessa rotina doce, a gente estaria junto duma vez. E nem ia precisar de casamento na igreja ou festa, como eu sempre sonhei, porque ele é o meu sonho maior. Eu não o vejo engomadinho, esperando por mim num altar. Não combina com o jeito despojado que ele tem. E eu não mudaria absolutamente nada nele. 
Mais alguns anos, viriam nossos filhos de cabelos pretos feito ébano. Um menino, uma menina. A gente tatuaria os nomes deles. Ele, com a minha letra e eu, com a dele. Porque eles seriam os melhores presentes que daríamos um ao outro, numa vida toda. 

- Já deu a minha hora de acordar? Não, espera... Só mais cinco minutinhos.



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