Marcadores

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Aos 15



Odeio momentos assim, quando eu percebo que ainda te amo tanto. Quando minha menina de 15 anos chama a atenção da minha mulher adulta de hoje, e joga na minha cara que sou uma farsa. Minha auto-confiança, minha autoestima elevada... São só a auto-piedade de sempre, disfarçada, escondida atrás de tatuagens, escova progressiva e um bom batom vermelho. Eu tenho uma eterna debutante, congelada e triste, morando dentro de mim. Ela às vezes insiste em me mostrar que não passaram: nem ela, nem você.
No fundo, ainda estou esperando no baile que você não foi. Continuo com o vestido rosa pink bordado pela minha mãe. Continuo sentada com um copo d'água na mão, vendo os garçons empilhando cadeiras, achando que você vai aparecer ali na porta. Mesmo que a meia-noite, da valsa, já tenha passado há 61.320 horas. Sim, eu fiz as contas.
Às vezes adianto um pouco meu relógio interior, e passo de debutante à moça que brinda à maioridade, num piscar de olhos. E a minha eu aos 18 anos está numa festa cheia de gente, apertando um copo de whisky entre os dedos, querendo jogá-lo na sua cara. Querendo, por um minuto, virar Carrie, a estranha, e acabar com seu riso cínico, no fatídico baile em que você foi, três anos depois de não ter ido. Eu com 18 anos, sentindo o dobro da dor, por constatar que as lágrimas derramadas aos 15 foram em vão.
E aí vira uma metalinguagem aguda: eu aos 15, esmurrando por dentro o peito da eu aos 18, que por sua vez, dá unhadas de desespero na parede interna do tórax da eu de agora. Que reajo lavando o rosto, me olhando no espelho e vendo que tenho 15 anos. Por mais que as folhas do calendário tenham se lançado ao vento a cada trinta dias - e isso já aconteceu 84 vezes -, eu continuo com 15 anos, te pedindo perdão por te amar tanto e ser a garota estranha da escola, que nunca estará aos seus pés. Eu fui tantas pra mendigar o seu amor, e nenhuma delas foi do seu agrado. Hoje tenho que ser imensa para abrigar tantas eus em mim. Sou como uma matrioshka russa.
Eu odeio quando a verdade se revela desse jeito, crua, nua, sem pudor. Até as minhas linhas escritas aos trancos e barrancos têm mais sentimento com você no meio, mesmo que sejam tristes. Com você, eu pelo menos sentia dor. É você sair de cena, e eu não sinto mais nada. Eu tenho vinte e poucos anos, mas sou uma menina de 15. Presa no passado. Refém do amor que eu juro todos os dias não mais sentir. Só que eu minto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário