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domingo, 10 de agosto de 2014

Cordeiro em pele de lobo



O moço é bonito que só ele. E deliciosamente perigoso. Um mistério, uma palavra não dita, um olhar que quer valer por uma frase, mas que não vale completamente, porque olhares não falam. Eles nos fazem imaginar coisas, e sempre há uma margem de erro. 
O moço quase nunca diz nada, mas quando diz, chove relevância. Me inunda com aquela voz que é de trovão mas, ainda assim, é suave. Quando estia e o sol aparece, ele se divide em raios solares e queima minha pele. Ele é o calor do verão, a imponência do inverno, o perfume da primavera. No outono, ele é a queda da folhagem, mostrando minha mudança de estação: sou mulher agora, não mais menina.
Um dia eu vou dizer pra ele o que se passa no norte, no oeste e nos países do sul. Vou dizer o que ele faz comigo, sem precisar de esforço. Vou dizer o que ele me causa, só de existir. E então, seremos como nos meus sonhos. 
Dia desses, sonhei que ele era bonzinho e nenhum de seus desvios de conduta existiam, para impedir que ficássemos juntos. Tinha a diferença de idade ainda, mas isso nunca foi empecilho. Isso é lenha na fogueira. No meu sonho, ele sabia ser de uma moça só - no caso, eu -, porque na real era um cordeiro em pele de lobo, e não o contrário. Só que na vida real, ele é mesmo meu avesso. Minha transgressão. Minha quase queda no abismo da falta de amor-próprio. Mas é quase. Porque cafajestice não me assusta, não me surpreende e nem me prega peças. Ele é uma ideia, e vai permanecer sempre ali, no campo da subjetividade.

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