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terça-feira, 11 de maio de 2010

Mas já não é, amor.



Ele estava nervoso demais, suava frio. Havia gastado todas as economias naquele par de alianças, e ela demorava a chegar ao local marcado. Já se passava mais de meia hora do horário combinado. Preocupado, ele pegou o celular e discou o número dela. "Deixe seu recado após o sinal". A mensagem o pegara de supresa, não era o que ele desejava ouvir. O nervosismo proveniente da ansiedade, que já existia, agora se misturava com preocupação.
Deitada em sua cama, ela contemplava o seu telefone móvel desligado, como que adivinhando que o namorado tentava contatá-la através dele. Não tinha vontade de conversar. Em sua mente, as juras de amor que havia trocado com o seu (até então) amado, rodavam. Algo havia sido perdido no tempo. Alguma coisa na história, parecia não mais fazer sentido, não mais encontrar encaixe. Ela sabia que a surpresa que ele lhe havia preparado era formada por um par de alianças, um buquê de rosas e um pedido de casamento. O que claro, tornava a surpresa tudo... Menos surpresa. Ela queria adiar o encontro, estava nervosa demais. Desde pequena tinha mania de "travar" diante do nervosismo. Mas estava muito atrasada, e já não podia deixá-lo esperando. Foi.
Quado, finalmente se encontraram, o nervosismo era visível. Ele deu nela um beijo amoroso e quente.
- Já estava aflito com a demora! Não consegui falar com você pelo celular.
Ela devolveu a ele um beijo nervoso e frio:
- Vamos fazer desta uma tarde do perdão: pra começar, você terá de perdoar o meu atraso. - "E outras coisas mais", sussurou para si.
- Certamente perdoarei. Amar não é isso? - ele sorriu.
- É isso também. - "Se eu ainda souber o que é amar", pensou ela.
- Acho que não consegui fazer uma surpresa perfeita, não? - ele lhe ofereceu as rosas.
- Creio que não. Acho que imagino onde queira chegar. A propósito... As flores são lindas. - ela estava pálida.
- Ora, parece mais nervosa que eu! - ele brincou.
- De fato. Isso porque eu talvez já tenha uma resposta para a pergunta que você ainda nem me fez.
- Certamente. - ele acariciou o rosto dela, e lhe deu mais um beijo apaixonado.
Ela desgarrou-se rápido dos braços dele e de su beijo:
- Sabe que costumo adiar nervosismos, mas vamos logo com isso? - o tom dela era quase irritado.
- Vejo que assim como o nervosismo, sua ansiedade também é maior que a minha! Tem uma resposta de três letras pra mim?
- Tenho. - ela engoliu seco.
Ele tirou uma caixinha do bolso, abriu-a delicadamente, revelando as alianças. Eram belas e delicadas, como ela sempre sonhara.
- Quer se casar comigo?
O silêncio deixou o clima tenso, como não era há um segundo.
- Querida, minha resposta de três letras, vamos! - ele pensava que era só emoção a causa do silêncio. Não sabia o pesar que havia naquela ausência de palavras.
- Sua resposta é não. - ela estava séria, e não ousava olhá-lo nos olhos.
- Não é uma boa hora pra brincadeiras, meu amor!
- Não é brincadeira.
- Nós nos amamos! - ele protestou.
- Não é mais amor o que sinto por você. - ela era segura ao dizer tal frase.
- Como pode ter tanta certeza?
- É que já não dói mais...
Ela deu as costas. Tinha segurança em tudo que havia dito, não pretendia voltar. Ele estava atônito demais pra se mover. O que não doía nela, deixava-o em carne viva. Pra ele agora era amor, porque doía. Pra ela, a ausência de dor prendeu seu "sim" nos lábios.

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