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sábado, 15 de maio de 2010

Ser seu anjo.

A distância que há muito tempo vinha sendo mantida entre os dois, parecia nem incomodá-la mais. O incômodo que ela sentia se dava justamente pelo fato de não se sentir incomodada. Ela sabia o quanto amar é doloroso, e temia que o amor a tivesse abandonado o peito, já que não mais doía. Enquanto se contorcia de dor, conseguia ser feliz. Agora, ao invés de aliviada, ela se sentia vazia.
Era comum em seus devaneios amorosos, ela pensar que ele seria como um anjo da guarda. Ora, mas que belo anjo! Quando ela mais precisava de apoio, ele foi incapaz de desprender-se das fofocas juvenis de outrora para estender-lhe a mão. Contemplou-lhe o sofrimento de longe, e sabia o quanto ela se encontrava dilacerada por dentro. Foi como ver um enfermo debater-se, ter um poderoso e exclusivo analgésico nas mãos e não fazer nada.
Depois de se reerguer, ela se convenceu de que ele não poderia ser seu anjo. Agora, distante dele como nunca estivera antes, ela começava a pensar em toda sua trajetória como incondicional apaixonada. Percebeu, então, que era ela que possuía as qualidades de anjo. Esteve sempre observando os passos dele, amando-o, intercedendo, com um instinto protetor que não se poderia descrever. Ela sempre fora o anjo da guarda dele.
E por ser seu anjo e amá-lo sem pedir nada em troca, ela tinha de acreditar que a ausência de dor não era de fato ausência. Talvez estivesse lhe doendo tanto, que nem fosse possível sentir ou perceber. Ela precisava ainda crer no amor. E para isso, ela tinha que crer que ainda havia dor.

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