Marcadores

sábado, 18 de junho de 2011

Ela

Eu já estava acostumada a dormir e acordar com ela, a levá-la comigo para todos os cantos que eu fosse, desde que ela pudesse ir. Às vezes até quando ela não podia, eu insistia em levá-la, burlando regras. Eu precisava doentiamente da sua presença, sem ela eu não seria eu, eu não me manteria de pé.
Com ela eu andava na rua, no ônibus, nos corrredores da minha casa e de todos os lugares. Ela sempre esteve presente em minha existência e eu sempre a amei. Mas amar daquela forma, muitos a amavam. Era comum a quase todas as gentes do mundo. Até que ela começou a me corresponder de um jeito diferente, com um amor ainda maior que o meu. Um amor incomum, intenso, imenso, forte. O amor com o qual ela me olhava me convidava a modificar meu sentimento. Eu sentia em mim o impulso violento de amá-la daquela mesma forma que ela me vinha amando. Mas eu temia. Muito.
Ouví-la, como eu já estava acostumada, era diferente de vivê-la, tocá-la, cantá-la, fazê-la. E era a isso que eu estava agora inclinada a fazer: vivê-la em minha própria carne. Sentia que deveria mergulhar nela e no primeiro contato mais intenso que tivemos, percebi que lidar com ela era muito mais difícil do que supunha.
Durante toda a minha vida eu e ela estivemos num estágio de paquera, mas a convivência quando se torna mais intensa, aumenta também a dificuldade. Tudo em mim queria se entregar, mas meu medo me segurava, prendia minha voz na garganta. Só que ela parecia disposta mesmo a lutar por mim e não me deixou paralizada: puxou-me com medos e inseguranças, e me levou com ela.
Ela me apresentou a alguns amigos e pude ver a grande alegria que a presença dela proporcionava a eles. Quis ser feliz assim também. E ela disse que me faria ainda mais, se eu me entregasse. Eu já estava mesmo em suas mãos, e deixei que ela me levasse para onde bem quisesse. Foi assim que parei no palco, com um microfone nas mãos e o coração na boca. Por mais assustada que estivesse, tudo que eu mais queria era ir e continuar indo com ela. Queria ir ao fim do mundo, ao fim do arco-íris, à toda parte que se houvesse para ir. Já não a tinha mais ao meu lado, mas agora ela estava em mim. Eu era ela, ela era eu, e juntas éramos um só ser numa explosão de amor. Eu ainda tenho medo, mas ela me encoraja a seguir em frente. E mesmo que eu exploda de nervosismo e ansiedade, eu vou... Vou porque a felicidade que ela me oferta eu nunca encontrei em nenhum outro lugar.
Antes que eu esqueça de lhes apresentá-la, se chama Música, a minha amada, minha cura para todos os males. Nem sei tanto sobre ela, tecnicamente, mas tenho aprendido um pouco mais a cada dia. E compenso o que ainda não sei com meu amor, que é grande demais, e acho que basta para vivermos juntas... Em melodia.



Um comentário:

  1. Claro que seria a "Música" porque ela é intrínseca à você. Quem te conhece sente-a sem mistérios, mas com muita afinidade.

    Beijos

    ResponderExcluir