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domingo, 17 de janeiro de 2010

Chovia...


Era uma tarde chuvosa, vazia e convidativa. A própria tarde parecia convidar-me a mover-me e acabar com o vazio ao qual ela se havia reduzido. Não poderia me dar ao luxo de perder tempo, estava acabando meu prazo e tinha uma guerra a vencer. Mas eu sabia que naquele momento, a apenas dois quarteirões, ele estaria. Mesmo em meio à chuva e ao frio, ele estaria lá. Exatamente lá em cima, como bom músico que era.
Recordei-me do encontro que tivera com ele no fim de semana anterior. Elogios dançavam no ar suavemente, docemente. Flutuaram dele até mim. Quando me alcançaram, não poderia ter sido de outra forma: sorri timidamente, enrubesci. Eu bem sabia que se naquela tarde, resolvesse partir ao encontro dele, talvez ele nem me visse. Não haveriam novos elogios. Mas precisava vê-lo. Precisava tocá-lo nem que fosse com o olhar. Saltei, vesti-me, perfumei-me, enfeitei-me. Já que estava mesmo em busca de sentido, fui atrás dele, que era sentido de muitas das coisas presentes em minha vida. E isso já fazia algum tempo.
Quando dobrei a esquina, meus olhos se encontraram com os dele. Como um príncipe, a olhar a paisagem de sua torre, lá de cima, o seu olhar dirigiu-se a mim. Ainda que por uma fração de segundos, os seus olhos me pertenceram. Parei, dei um suspiro: valera a pena. O tempo perdido jamais terá sido perdido, de fato, diante de tal cena. Seria sempre o tempo ganho. Estar na presença dele representará sempre um ganho, não importa como seja.
Ao final de tudo, saí de lá mais leve. O tinha visto. Melhor: tinha sido vista. E isto me bastava. Não precisava de elogios, não esperava palavras. Era dele, simplesmente dele que eu precisava. Dele, mergulhado no seu silêncio de sempre e só. As palavras são sempre lucro, como uma espécie de bônus, de prêmio. Mas a verdade é que era ele,em sua essência, que me bastava. Ponto.
E então parti. Angustiada pela última batalha que teria de enfrentar, dois dias depois. Inclinei a cabeça, fechei os olhos. Vi que perto dele, tudo se tornava ínfimo, inclusive eu. Inclusive minha batalha. Desejei que vê-lo me desse sorte. Desejei ter boas notícias para o próximo encontro. E terei.

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